precipício. | l7

32| escolhas

beatriz.

Não faz nem uma semana que decidimos seguir assim, só como amigos. E as coisas parecem entrar no eixo.

O afastamento foi inevitável, mas ele continuava presente na vida da Nicole e isso que importava. Inclusive hoje ele pediu pra levar ela na casa da família dele. Eu até agradeci, precisaria dar uma espairecida. Fernanda até me chamou pra um pagode que tem aqui perto.

Eu precisava seguir de algum jeito.

[...]

— Mamãe, eu esqueci de te dar. Pera aí. — Assim que o Lennon chegou essa garota me inventa essa.

— E aí, Eliza. Como tu tá? — Ele sentou no sofá de um jeito folgado.

Revirei o olho.

— Para com essa mania de me chamar de Eliza! — Falei arrumando a mesa que a Nicole bagunçou toda pra brincar de massinha. — Em uma semana não muda tanta coisa, mas tá fluindo bem.

Ele assentiu olhando descaradamente pra minha bunda, nem disfarçou.

— Tira o olho daí, garoto! — Falei rindo.

— Foi mal, é que eu não me aguento. Tua bunda ficou enorme nesse short.

Gargalhei pela cara de pau.

Nicole desceu as escadas com dois papéis na mão.

— Toma, mamãe! — Ela me deu.

Tinha um recado. Ela me olhou esperançosa.

mamãe, eu te amo muito e você é bonita igual a Iza. Gosto muito de quando você faz trança no meu cabelo e você não canta bem mas eu gosto que você cante pra mim mesmo assim, mamãe.

Gargalhei sentindo meu coração amolecer.

— Eu te amo demais, minha pretinha. E a mamãe canta muito bem sim!

Ela negou rindo.

Nicole correu pro sofá e deu o outro papel pro Lennon que leu em voz alta.

— Lelê. Eu também te amo igual eu amo a mamãe, a vovó e a Fê. Você é muito legal e eu gosto de quando você assiste Rio e Sherek comigo. — Ele riu bobo.

— É que assim. A professora falou pra eu dar pro meu papai e pra minha mamãe, só que eu falei que não queria dar pro meu pai porque eu não gosto dele como eu gosto da mamãe. Aí ela me falou que eu podia dar pra outra pessoa que eu amasse muito muito. E ela disse também que papai e mamãe quem escolhe é aqui. — Ela botou a mãozinha no coração. — Aí eu falei que o meu coração queria você como meu papai.

Nicole falou tudo como se fosse uma coisa fácil de ouvir. Senti minhas lágrimas escorreram pela minha bochecha. Depois do nascimento dela, aquela era a cena mais linda que eu já vi na vida.

Lennon olhou pra mim chorando igualzinho a mim. Eu sabia que uma hora ela iria se considerar filha dele, mas meu coração não tava pronto pra isso agora.

— Nicole... — Ele ria e chorava ao mesmo tempo. — Isso é a coisa mais linda nesse mundo inteiro que alguém me falou.

— Por que você tá chorando, Lelê? — Ela passou as mãozinhas pelo rosto dele limpando as lágrimas. — Não quer ser o meu papai?

Ele negou voltando a chorar igual um bebê.

— Eu quero mais do que tudo ser o seu papai, Cole. É que eu tô muito feliz. — Ele abraçou ela. — Eu te amo e eu aceito ser o seu papai. Nunca mais na vida eu vou desgrudar de você!

Se eu estivesse com o celular perto eu gravaria pra guardar esse momento pra sempre. Mas só no meu coração já tava bom demais.

— Mamãe, o Lelê agora é meu papai. — Ela falou rindo pra mim.

Limpei minhas lágrimas concordando.

— Eu sei, filha. E eu tô muito feliz!

Ela riu saindo do colo do Lennon e subindo pro quarto.

Ele abaixou a cabeça voltando a chorar igual um bebê. Fui até ele e ajoelhei na sua frente pra poder encarar melhor.

— Eu falei que ela iria escolher. — Fiz ele me olhar.

Lennon de um jeito inesperado me abraçou.

— Obrigado, Bia. Você me deu a coisa mais incrível deixando eu me aproximar da sua filha.

Apertei ele nos meus braços.

— Nossa filha! — Corrigi ele.

Eu não sei explicar o quanto eu me sentia realizada por ver que minha filha estava feliz.

— Caraca, eu não consigo parar de chorar. — Ele se afastou limpando o rosto.

— Não sei nem como você tá vivo depois disso.

Ri me levantando.

— Mano, meu coração parou na hora e eu nem tô brincando. — Ele riu.

— Achei que você ia passar mal.

— Faltou bem pouco, eu juro!

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mano eu n tô brincando meu coração falhou na hora de escrever esse