48| outra vida

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lennon.

Da consulta voltamos pra casa da Bia com o coração leve. No caminho conversamos sobre como contaríamos pros nossos amigos, e ela propôs pedir um japa na casa dela essa noite. Óbvio que eu aceitei, tinha sido uma boa ideia.

Pedi o celular dela pra através do meu instagram eu conseguir montar um grupinho de quem queríamos que viesse. A Bia disse não ter muita gente pra chamar, que fazia questão de ser apenas a Fernanda e o Léo. Eu coloquei a Aoxi, Mavi, Matheus e os pescada no grupo. Acho que eles eram os únicos que eu realmente me importo em saber disso.

Fiz o convite e todo mundo aceitou, menos o Matheus. Ele não tava aqui no Rio. E era até um pouco melhor. Convidei ele mais pela consideração do que aproximação.

Me arrumei no sofá vendo a Bia conversar com a Nicole na cozinha. Já iria devolver o celular pra ela, mas chegou uma notificação do instagram dela que me fez apertar a mordida. Juro que tentei não ir ver, só que era impossível. Então entrei na mensagem que o Felipe tinha mandado.

felipebraga
fui aí hoje cedo pra ver a Nicole e sabe o que a sua mãe me contou? que tu tá grávida beatriz

felipebraga
GRÁVIDA. não acreditei quando ela me contou. Não sabia que você era tão ridícula ao ponto de dar o golpe da barriga nesse otario.

felipebraga
se ele for esperto como eu, vai reparar logo logo a merda do erro que você é e vai fazer como eu, meter o pé. Não acredito que achei q tu tinha mudado, c continua a mesma vadiazinha de sempre.


Eu juro que eu nunca senti tanto nojo como eu tô desse cara. Minha vontade é pegar o carro e ir onde esse cara mora só pra encher a cara dele de soco.

Olhei por cima do celular a cena dela sorrindo com a Nicole e meu peito doeu de imaginar ela lendo esse tipo de coisa, se deprimindo de novo. Não faz nem uma semana que ela tá conseguindo se levantar de novo por causa do trauma que esse vacilão deixou nela, eu não podia deixar ele fazer isso de novo.

Sei que estava sendo errado e invasivo. Mas exclui todas as mensagens e bloqueei ele de tudo, até no Whatsapp. Não podia deixar ela cair de novo. E era melhor deixar isso de lado até ela começar o tratamento. Mas enquanto isso não acontecia eu manteria esse cara longe dela e da minha filha. No que depender de mim ele não bota mais a cara em Duque de Caxias.

[...]

Todo mundo veio chegando na casa da Bia e eu ainda tava pilhado. Com o bagulho do Felipe, até a Bia tinha percebido.

— Tá tudo bem? — Ela perguntou baixinho no meu ouvido.

Abracei a cintura dela me sentindo relaxar só de sentir o cheiro dela.

— Tá tudo bem, Eliza. — Dei um beijo no pescoço dela sentindo estremecer. Ri fraco.

— Hum. — Ela se afastou me analisando por alguns segundos. Dei um sorriso leve convencendo ela de que eu estava bem. — Vai dormir aqui hoje?

Neguei.

— Minhas costas não tá tão boa pra dormir no teu sofá.

Passei alguns dias dormindo ali e cara, era horrível. Mas eu me esforçava por ela.

— Tu pode dormir lá no meu quarto essa noite. — Ela se afastou do meu abraço. Sorri pelo avanço.

— Mesmo?

Ela assentiu suspirando.

— Eu tô começando a sentir sua falta aqui em casa. — Ela confessou me deixando duplamente surpreso.

— Mas também, passo mais dias aqui do que na minha própria casa. — Ela riu. — Isso porque eu comprei há uns meses!

— Você não resiste ficar tanto tempo sem a mamãe aqui. — Ela se gabou.

— Quem tá pedindo pra eu dormir aqui mesmo? — Dei uma pausa. — Ah tá!

— Vai se foder! — Ela saiu rindo.

Fiquei encarando ela indo pra nossa roda de amigos tão animada. Era realizador ver ela assim de novo. Por mais que tenham sido poucos dias deprimida, foi horrível ver a luz dela se apagar.

— Cara, fala aqui pra mim. Vocês casaram escondido? — Léo brotou do meu lado me dando um susto.

— Susto, garoto!

Ele riu bebendo a cerveja dele e encarando a Beatriz também.

— Vocês tão juntos, né?

— Não, por quê?

— Toda vez que um tá perto do outro vocês agem como um casal. Só que um casal já casado e tudo mais. — Ele me fez rir.

Não tinha como não julgar esse pensamento. Em pouco tempo a gente virou mesmo uma família. Uma família um pouco diferente? Sim. Mas não deixa de ser uma família.

— Eu amo ela. Mas não, não estamos juntos. — Encostei na parede encarando agora o Léo que tava com um sorrisinho malicioso.

— Confessou?

Assenti.

— Cansei de renegar. Essa mulher me ganhou. — Ri por dizer isso pra outra pessoa que não fosse ela mesma. — A Bia tá me fazendo acreditar no amor de novo.

— Tá, mas agora eu quero ouvir algo de novo. Porque que tu tá de quatro por ela não é de agora.

— Mas eu percebi foi agora. — Desviei o olhar pra ela de novo e tava atacando os hot rolls.

— E ela? Tu acha que sente alguma coisa? Porque eu vendo parece que sim.

Assenti deixando um sorriso brotar no meu rosto.

— Nós já nós declaramos um pro outro. Sentimos o mesmo.

Léo ficou em silêncio me fazendo olhar pra ele. E então eu vi a cara dele de horrorizado.

— Que foi, cara?

— O que foi? Tu me fala que vocês dois sentem a mesma coisa um pelo outro e ainda tá solteiro? Cara, eu tô perdido aqui.

— Não é tão fácil assim, mano. Por mim eu casava com ela hoje mesmo, tá ligado!? Mas pra Bia não é assim que funciona. Ela precisa curar ainda as feridas dela.

E no que depender de mim eu vou esperar isso acontecer. Nem que eu precise esperar até uma outra vida pra conseguir ficar com ela.

— Aí sim, caralho! — Ele bateu nas minhas costas. — Orgulho de você, irmão.

$.$

talvez n seja nessa vida ainda. mas você ainda vai ser a minha vida.

precipício. | l7Onde histórias criam vida. Descubra agora