47| sortuda

4.3K 433 52
                                    

beatriz.

Acordei sentindo que tinha uma tonelada em cima das minhas costas. Por isso resolvi levantar umas oito e meia. Hoje eu não teria que acordar mais cedo pra levar a Nicole na escola, ela iria com a gente na nossa primeira consulta. E eu sei que ela não pode ficar faltando muito, mas pelo o menos hoje.

Tomei um banho e arrumei a bagunça de ontem à noite. Acordei a Nicole pra gente tomar café e a alegria dela de ver o irmãozinho era contagiante que até eu fiquei animada.

Ainda não está sendo algo cem por cento alegre pra mim, mas tô me acostumando.

— Mãe, o Lelê vai vir que horas? — Nicole perguntou descendo da cadeira.

— Bebê, daqui a pouco ele vai chegar. — Levantei também. — Pelo o menos espero! — Falei a última parte baixo.

Levei a Nicole pro banho e já deixei ela toda arrumadinha pra daqui uma hora quando eu marquei do Lennon vir me pegar. Mas até agora ele não respondeu nem meu bom dia. Juro que se ele perder a hora do primeiro pré natal eu mato ele!

[...]

Me olhei no espelho pra ver como tinha ficado a roupa que eu escolhi hoje. E por estar mais frio que o normal coloquei um conjunto de moletom preto folgado. Olhei mais uma vez as horas e faltavam seis minutos pra dar dez horas, e nada do Lennon.

Garanti que meus documentos e a caderneta de gestante que eu ganhei no mesmo dia que eu fiz o teste no postinho. E desci.

Quase tomei um susto quando vi o Lennon sentado no sofá brincando com a Nicole.

— Ah, bom dia pra ti também. Ldez! — Brinquei me sentindo bem aliviada dele estar aqui dentro do horário.

— Bom dia, Eliza. — Ele piscou pra mim.

— A mamãe não gosta que chame ela assim. — Nicole me defendeu fazendo nós dois rirmos.

— Mas eu ela deixa, né Eliza!?

— Não. Eu não gosto! — Falei com ar de brincadeira ainda.

Sentei no braço do sofá pra colocar meu tênis e recebi uma cutucada na costela do filho da mãe do Lennon.

— Ué, e a parada de não sentar no braço do sofá?

Ri pelo abuso.

— Olha só, gatinho. Quem comprou o sofá foi eu, se eu quiser deitar no braço do sofá eu vou. Tá bom? — Mandei um beijo pra ele que revirou o olho.

— Mamãe tá brava com você. — Ouvi a minha filha sussurrar pro Lennon.

— Você acha que ela vai me bater? — Ele sussurrou de volta.

— Não. Ela não bate em ninguém, mas vai te deixar de castigo.

Ri orgulhosa. Que bom que ela achava que eu era uma mulher controlada que não bate em ninguém, mesmo sendo o contrário disso.

Quando eu já tava pronta nós fomos pro carro do Lennon e eu lembrei de perguntar o porquê de não ter me respondido.

— Pensei que você não viesse na hora certa. Te mandei mensagem e tu nem visualizou. — Coloquei o cinto.

— Ah, esqueci de falar. Meu celular quebrou ontem. Tava vacilando com ele na janela. Acabou que escorregou e caiu lá embaixo. — Fiz uma careta imaginando o estado do celular. — Ficou todo 'coisado. Vou ter que comprar outro.

— Que bom que tu tem condição pra comprar outro ate a vista se quiser.

— Vou é dividir em cinco vezes, não tô otário ainda.

Gargalhei.

— Falou o que vai com uns vinte mil em dinheiro pra comprar três peças de roupa na Louis Vuitton. — Fiz ele rir também.

— Isso era antes deu virar pai.

É, ele conseguiu me calar direitinho.

Fomos nesse clima descontraído pro posto. E eu agradeci tanto por estar quase vazio. Assim ninguém reconhece o Lennon e questiona o que ele, a mais recente celebridade do Rio de Janeiro num postinho de Duque de Caxias.

E nem ficamos cinco minutos na recepção até chamarem a gente.

[...]

E começamos de novo. Exames, medição de peso, pressão sanguínea... Até chegar na parte que todos estavam ansiosos. A ultra-som.

Confesso que eu estava muito tranquila, até essa parte. Diferente do Lennon que estava assustado em praticamente tudo que a doutora fazia.

— Agora eu vou passar esse gel na tua barriga, tá bom? É meio geladinho... — A médica falou pegando o maldito gel. Eu odiava essa parte, ainda mais por já estar frio.

Ela passou o treco gelado na minha barriga e foi impossível de não fazer uma careta.

— Tá com dor? — Lennon perguntou assustado fazendo a mim e a doutora rir.

— Não, cara. Só é bem gelado esse gel. — Expliquei e ele fez um "o" com a boca.

A doutora começou a passar a maquininha pela minha barriga me fazendo procurar a mão do Lennon. Ele se aproximou de mim com a pequena no colo e segurou a minha mão com firmeza.

— Pelo visto tudo bem com ele, tá? Ele tá com mais ou menos uns cinco milímetros. Do tamanho de uma sementinha de romã. — Ela circulou uma mancha no visor da máquina. Meu coração disparou por alguns segundos. — O colo do útero tá fechadinho. Tudo como deve estar. Agora vamos ouvir o coraçãozinho?

Assenti em desgrudar os olhos da tela. Ela mexeu em algumas coisas e o som rápido dos batimentos tomaram conta. Até do meu coração que acelerou mais rápido.

Agora eu sentia que era real. Tinha outra vida dentro de mim se formando, e isso é tão lindo...

— Eu pesquisei antes e sei que coração do neném é sempre mais aceleradinho. Mas a dele não tá de mais não? — Lennon chamou a minha atenção pra ele. E como eu imaginava, as lágrimas nos olhos e a cara de assustado.

— Paizinho, é normal. Quanto menor o bebê mais rápido é sua frequência cardíaca.

Ri da cara dele. Lennon assentiu voltando a olhar orgulhoso pra tela.

— Olha, filha. Ali é teu irmãozinho ou irmãzinha. — Apontei pra tela.

Nicole ficou confusa e eu expliquei que ele ainda era muito pequenininho pra se ver.

Depois de ver analisar melhor ela concluiu de que estávamos perfeitamente bem. E então ela perguntou como eu me sentia, e eu contei que as mesmas coisas da minha primeira gravidez. Muito cansaço, e dores nas costas. A doutora disse que eu era até sortuda por não sentir os piores sintomas dessas semanas.

E como eu estava acostumada, foi um atendimento ótimo. E emocionante também.

$.$

hj eu n tô tão inspirada :(

precipício. | l7Onde histórias criam vida. Descubra agora