beatriz.
— Bia?
Ouvi a voz dele no andar de baixo.
— Tô indo! — Gritei me olhando no espelho enorme do meu quarto.
Desci e vi ele sentado no braço do sofá mexendo no celular. Dei um tapinha na cabeça dele fazendo se assustar.
— Sai do braço do meu sofá! — Mandei brincando.
Lennon ia reclamar mas me olhou, e então sorriu.
— Você tá linda! — Ele me elogiou.
Hoje eu tinha saído dos meus pijamas velhos. Ontem o Lennon me falou o que eu já sabia. Mas a verdade é muito difícil de ouvir as vezes. Ele tinha razão em dizer que eu não vivo mais e de certa forma era só o empurrão que eu precisava pra tomar a decisão de tentar de verdade.
— Reparou que eu não tô usando mais pijama. — Ri sentando do lado dele no sofá.
— Não tô falando da roupa. Sua cara tá outra, voltou a ter o brilho que eu tô acostumado. — Ele exagerou. Eu sabia que ainda tava com olheira, a pele péssima.
— Exagerado! Lennon... — Dei uma pausa. — Me desculpa por ontem, de novo.
Ele riu fraco negando.
— Passou, já!
Neguei.
— Eu fui babaca. Se você tivesse falado aquilo eu iria ter ódio da sua cara pela próxima encarnação.
— Tá tudo bem. Você tava confusa. Acho sim que você deveria ter sido menos grosseira. Só que eu não posso te contar sensatez agora, Bia. Quando do dia pra noite o mundo cai na sua cabeça. — Ele se ajeitou pra me olhar melhor.
— Mesmo assim, isso caiu no seu colo do mesmo jeito que no meu. Mas você nunca me tratou mal por isso.
Ele estalou a boca discordando de novo.
— Continua sendo diferente. Pra mim eu recebi a notícia de que eu vou ser pai. Eu tenho vinte e sete anos e uma condição muito boa pra sustentar uma criança, e eu sempre quis ter um bebê. Não foi tão assustador pra mim porque eu tenho a Nicole agora. — Ele deu uma pausa. — Mas pra você, Bia... Foi um mar de traumas. Você é uma mãe foda pra Nicole, mas ainda tem vinte e dois anos, grávida do segundo filho... Eu só segurei a onda porque não tem como não te entender. Mas não significa que tenha que ser sempre assim, se ligou!?
Assenti. Era bom demais ter o Lennon agora. Ele conseguia me entender melhor do que eu mesma, e isso deveria ser assustador. Mas me mostra um pouco do olhar cuidadoso que ele tem em mim, que consegue reparar todos os detalhes sem eu precisar nem falar nada.
— Eu sei. E é uma das coisas que eu decidi... Quero procurar ajuda, me livrar desses traumas. — Falei um pouco baixo.
Não era bonito, mas o meu orgulho nunca me fez admitir precisar de ajuda.
Lennon sorriu orgulhoso me deixando um pouco boba.
— Tá vendo! Você é foda.
Sorri fraco. Eu não acredito que eu fiquei com vergonha de um elogio. Meu deus quem sou eu? A Eliza?
— Pergunta o porquê deu estar sem meu pijama hoje. — Segurei o riso.
— Porque você tá tentando viver?
— Também. Mas pergunta!
Ele me olhou meio confuso por alguns segundos.
— Tá. Por que você não tá mais usando pijama, Bia?
— Eu me arrumei hoje porque a gente vai começar o pré-natal.
Vi o sorriso do Lennon aumentar devagar percebendo o que eu tinha dito.
— Então vamos ter? — Ele perguntou esperançoso. Assenti dando um sorriso fraco.
Eu não gostava da ideia de ter, mas tirar era uma coisa que também não conseguia pensar. Por isso eu tentei fingir que nada tava acontecendo, porque as duas opções eram horríveis. Mas ontem eu olhei pra Nicolle e imaginei se tivesse escutado minha mãe, se eu tivesse dado ouvidos pro medo. E eu não consigo mais pensar na minha vida sem ela. Minha filha era tudo na minha vida. E eu precisava parar de ouvir o medo e dar uma chance pra esse bebê.
— Tá falando sério? — Os olhos dele marejaram.
— Eu não quero cometer o erro de não ter um filho por causa do meu medo. Se eu não tivesse estrutura alguma... Mas eu tenho uma casa, saúde. Eu tenho você, Lennon. — Sorri segurando a mão dele que estava em cima do sofá.
E então eu vi algumas lágrimas escaparem dos olhos dele. Senti um nó se formando na minha garganta.
— Não fala isso, Bia! — Ele levantou me puxando pra um abraço.
Sorri ficando pela primeira vez feliz com essa gravidez.
Lennon chorou mais um minuto no meu ombro até se afastar e me olhar com um amor nítido nos olhos. Era a mesma coisa de quando a Nicole chamou ele de "pai" pela primeira vez.
— Obrigado por essa oportunidade. Juro que eu vou tentar ser o melhor pra vocês três. — Ele alisou minha bochecha. — Cacete, eu te amo! — Ele me abraçou de novo me fazendo gargalhar e sentir os olhos marejarem.
— Eu te amo também, Papai Ldez. — Apertei ele nos braços.
— Eu posso beijar a barriga? — Ele se afastou de novo me olhando nos olhos.
Assenti.
Vi ele agachar e subir a minha camiseta. Minha barriga parecia que eu tinha acabado de comer feijoada com cerveja, só estava um pouco estufada. E eu não tinha reparado nisso, evitei todos esses dias olhar muito pra barriga.
— Ei, neném. Aqui é o seu papai... Te amo, tá bom?
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precipício. | l7
Fanfictiono amor é como um precipício. as vezes a gente pensa que esta voando, mas na verdade esta caindo.