Capítulo 6- O meu patrão

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Lura

O sol já picava na manhã de segunda-feira demonstrando que seria um dia de muito calor, apressada desci do chapa em direção a casa dos Mbalate, no caminho passei da padaria para comprar o pão acabado de sair da fornalha para impressionar os meus patrões, se tudo desse certo aquele seria um dia muito bom para tal efeito, razão: Antonieta estava incomodada e não iria se fazer ao trabalho, portanto aquela era a minha oportunidade de ouro para mostrar á Silvia que ela precisava de uma governanta jovem e saudável, vulgo euzinha. Se aquela velha pensava que eu ia ser a escrava dela para sempre estava muito enganada, de quebra eu iria usurpar o lugar dela e fazer com que fosse enviada direitinha para casa, com uma reforma miserável.

Sorridente coloquei o código na entrada  mas assim que atravessei o jardim o sorriso murchou, o carro de Nwando estava estacionado na garagem, as lembranças daquela noite me fizeram arrepiar, forçei a minha mente a voltar ao lugar, que merda! Estava aborrecida, esperava que ele não estivesse em casa já que na semana passada não o vi nem por um dia, mas Nwando era um estraga-prazeres inato, já deveria ter adivinhado que meu único desejo para aquele dia não me seria concedido, ele não me daria o gostinho da sua ausência pois não?

Respirei fundo tentando me convencer que iria correr bem, ele não me afetava mais, todas as lágrimas que havia derramado por ele naquele final de semana não poderiam ser em vão, eu seria forte e não... não iria me importar com a sua presença. A casa estava silenciosa, agradeci aos céus por não ter me cruzado com ele ainda, mesmo que isso fosse inevitável a qualquer momento. Era hora de botar a mão na massa. Preparei um matabicho farto com ovos, bacon, batata frita, frutas laminadas em diversos desenhos complexos como Teresa me tinha ensinado, ainda fiz um bolo caseiro de laranja e biscoitos amanteigados. Já ia terminar de arrumar a mesa quando ouvi os passos preguiçosos de alguém a descer as escadas, pintei meu rosto do melhor sorriso.

— Wau, que cheiro maravilhoso é esse? — perguntou Sílvia espreguiçando com o roube de cetim azul escuro.

— Bom dia Dona Sílvia. Como descansou?— sorri para ela orgulhosa de mim mesma, Sílvia se sentou á mesa ainda vislumbrada com a decoração.

— Muito bem Lura, obrigada. Cadê a Antonieta?— perguntou estranhando que eu é que estava ali para servi-los, ela não me deixava fazer isso nunca, para mim eram os trabalhos pesados e as tarefas impossíveis de concluir.

— Ah, ela não vem hoje, a filha ligou-me a avisar que está com Malária.— respondi.

— Ah que pena. Mas vejo que você está no comando de tudo.— voltou-se para a mesa, sorri em resposta contente que o meu plano estava a dar certo.— Faz muito tempo que eu não vejo essa loiça.— disse acariciando o pires.— Foi a minha mãe que me deu antes de falecer, tem um significado muito especial para mim.— disse emocionada.

— Me desculpe, eu não sabia que...

— Não.— cortou o meu discurso.— Eu adorei.— sorriu para mim com os olhos brilhando, sorri de volta aliviada, ponto para a Lura!

— Olha Alberto.— Sílvia chamou o meu patrão que já estava vestido do terno cinzento aprumado, ele sentou-se na cabeceira sério como sempre.— Ela fez até o bolo que você gosta.— aquele com certeza estava a ser o meu dia de sorte, quer dizer que meu patrão gostava de bolo de cenoura, ponto para a Lura!

— Uhn.— respondeu apenas já colocando o babete, apressei-me a servir o chá em sua chávena e cortar uma fatia generosa de seu bolo favorito.

Sr. Alberto não era muito comunicativo, estava sempre com o rosto fechado e a expressão cansada, com os óculos de vista e os cabelos brancos a despontar, ainda não o tinha ouvido dizer mais do que duas palavras, muito menos a sorrir. No início pensei que não tivesse gostado de mim mas a verdade é que mesmo com a sua esposa ele era assim, talvez Nwando tivesse herdado isso dele e falando nele não tardou a descer, de calções e a camiseta amarrotada, meias e chinelos, o cabelo estava encolhido e desarrumado.

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