Capítulo 14-As estrelas

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Lura

Acordei sobressaltada no quarto escuro, não se ouvia mais o barulho da chuva bater contra a janela, quando eu havia adormecido? Segurei no celular quase sem bateria, iam quase para às sete da noite, eu era com certeza a pior empregada que eu mesma já havia conhecido.

Liguei a lanterna do celular e avistei o interruptor mas ao tentar acendê-lo percebi logo que estávamos sem electricidade. Expirei o ar preparando-me para a guerra, depois daquela discussão com Nwando não queria ver mais a sua cara mas começava a ficar desidratada e a fome já me dava tonturas, eu precisava encontrá-lo para juntos arranjarmos uma solução, nem que eu tivesse que andar a pé por dez quilómetros eu iria, mas nós iríamos comer e já!

Cobri os ombros com uma mantinha e sorrateira saí do quarto, os pequenos pontos de luz á medida em que caminhava em direção á sala chamaram-me a atenção. Haviam várias velas iluminando o caminho, desliguei a lanterna para poupar a pouca carga que tinha no meu celular e continuei a andar com o coração aos pulos.
— Ah finalmente acordou, começava a ficar preocupado.— ouvi ele gritar ao longe ao pé da lareira, sentei-me na alcatifa ao lado dele em silêncio aproveitando o calor.

— Você fez isso tudo sozinho?— perguntei observando as fagulhas que desapareciam no ar.

— Teve de ser, visto que a funcionária precisou tirar uma cesta.— sorriu brincalhão e eu enrolei-me mais no edredom envergonhada.

— Quando é que ficamos sem electricidade?— perguntei ignorando o seu comentário anterior.

— Há umas duas horas, parecias realmente cansada então preferi deixar-te dormir.— respondeu e eu concordei com a cabeça. Ficamos em silêncio por longos minutos, nossos pensamentos pareciam ter se tornado audíveis mas ninguém tinha coragem para dizer nada.

— Desculpa por...— dissemos em uníssono e  sorrimos involuntariamente voltando ao silêncio desconfortável de antes.

— Ah eu vou primeiro.— tomou iniciativa.— Desculpa ter mexido nas tuas coisas e ter te chamado de nomes, eu não acho que tu sejas nenhuma daquelas coisas.— olhei para ele com desconfiança, não parecia nada do Nwando implacável e arrogante pedir desculpas assim de forma tão natural, mas o brilho em seus olhos transmitia sinceridade pelo que respondi:

— Desculpa por ter perdido o controle, você merecia todas aquelas palavras mas eu poderia ter dito de outra maneira.— Nwando riu incrédulo.— Você tem cá um gênio... Era suposto nós fazermos as pazes sabia?— sorri de volta deixando aquela discussão idiota para trás.

— Então, amigos?— ele esticou a mão para mim e eu apertei a dele assinando às tréguas.— Ainda bem!— ele parecia muito animado.— Porque a nossa noite está só a começar.— fez olhinhos espertinhos para mim.— Olha o que eu encontrei.— Nwando mostrou o saco da loja de conveniências da bomba de combustível de mais cedo, então ele retirou duas barras de chocolate atirando uma para mim, dois chips, divididos por igual e um pacote de bolachas à metade.

— Desculpa, eu não aguentava mais e acabei devorando metade do pacote.— ri da sua confissão.— Obrigada Nwando.— respondi sincera, num momento de crise como aquele ele estava a ser um verdadeiro herói.

— Infelizmente a única água que nos resta é a da torneira, mas eu encontrei uma coisa muito melhor.— ele retirou a garrafa de vodka de debaixo da almofada como se fosse um tesouro, balancei a cabeça para os lados em negação.

— Não posso beber, estou a trabalhar.— falei tentando soar séria mas Nwando ignorou abrindo a garrafa para deitar nos dois copinhos descartáveis.

— Só uma rodada.— disse insistente passando o copo para mim.— Nwando eu não posso...— sorri tentando resistir.— Deixa de ser matreca¹ Lura, é só um copinho, que mal pode fazer?— Nwando fez uma careta de súplica e eu finalmente segurei no copo.

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