LuraAcordei de madrugada naquele sábado, minha mala com apenas algumas roupas e produtos essenciais de higiene pessoal, afinal de contas não eram férias de verão, eu ia trabalhar. A mensagem de Nwando era clara:— Partimos pelas quatro horas e meia. Não se atrase.— ainda me perguntava como ele arranjou o meu contacto, mas rápido me recordei que ele era filho dos meus patrões, mas então por quê Dona Sílvia não mandou a mensagem por si mesma? No final acabei escolhendo deixar isso passar e não dar mais importância.
Ainda estava escuro quando saí, não havia nem uma alma vagueando àquela hora, em outra vida eu poderia estar assustada por caminhar nas ruelas da baixa da cidade sozinha em plena madrugada, mas eu não era mais a Lura de há cinco anos atrás que vivia com medo.
Ouvi a porta do carro bater enquanto entrava na mansão dos Mbalate, observei um Nwando cansado espreguiçar-se de costas para mim, ele estava com o cabelo bagunçado, de blusão castanho de gola alta que colava o seu corpo como se estivesse com o tronco desnudo, meu corpo arrepiou-se imaginando-lhe sem roupa, ignorei meus pensamentos mundanos e aproximei-me devagar dele, parei atrás de seu corpo e sussurrei: — Bom dia.— ele pulou de susto e isso me fez gargalhar, rápido Nwando se recompôs, voltando à postura implacável de sempre.
— Bom dia Lura.— respondeu com as mãos na cintura, seus olhos me observaram de baixo para cima: eu estava de leggings pretas de algodão, uma camiseta larga castanha e sapatilhas confortáveis, preferi deixar o meu cabelo crespo natural, porque como eu havia dito antes, eu ia trabalhar e não para impressiona-lo.
— Você chegou antes do tempo, impressionante.— disse olhando para o relógio digital em seu pulso.— Pode guardar a sua mala aí. Vou só tomar um banho e partimos.— disse descontraído e eu concordei sendo contagiada por aquela energia que ele transmitia, se ele continuasse assim não haveria nenhum drama envolvido e poderíamos realmente agir como duas pessoas normais que não se desejavam.
— Toma.— ele atirou a chave do carro e eu segurei-a no ar por instinto.— Dez minutos.— ele disse já se dirigindo para dentro. Foi aí que eu abri a bagageira e percebi que só tinha uma mala e algumas com utensílios de casa.
— Nwando!— chamei-lhe começando a sentir meu coração bater descompassado no peito. Ele virou-se para mim já na entrada.— Seus pais não vêm conosco?— perguntei juntando os pontos e ele sorriu espertinho antes de confirmar as minhas suspeitas.
— Não, eles chegarão pela tarde, a ideia é você chegar mais cedo para organizar a casa e eu estou responsável de dirigi-la até lá.
— Eu posso ir com o motorista.— ataquei, não queria de forma alguma passar aquele tempo todo fechada com Nwando num carro rumo a uma praia paradisíaca e quem dirá afrodisíaca.
— Ele está de folga...
— Então eu posso ir de chapa, você não precisa se incomodar comigo, é só me passarem a localização que eu chego lá.— rebati e ele cruzou os braços notando o meu desconforto com a situação.
— Você chegaria muito tarde se fosse de autocarro, para além disso meu pai conduz muito devagar, seria uma viagem aborrecida, prefiro levar o meu próprio carro mas não gosto de viajar sozinho, não é incómodo algum Lura, apenas juntei o útil ao agradável.— falou por fim e eu engoli em seco sem conseguir pensar em outra solução, não havia jeito, ainda tentava assimilar o que ele acabava de dizer, iríamos viajar sozinhos para uma casa de praia em plena madrugada, isso era assustador.
Nwando deu às costas e desapareceu no interior da residência, comecei a dar voltas no jardim nervosa, porque raios eu estava nervosa? Era só uma viagem, o que mais poderia acontecer? Nwando estava claramente de bom humor, aquele comportamento dele era estranho, não sabia o que ele tinha planejado mas tinha a certeza de que não era bom, quando a esmola é grande o cego desconfia. Naquela espera maldita para que ele voltasse, lembrei-me de Bruno, não sabia o que dizer para ele mas mesmo assim retirei o celular do bolso, digitando em seguida:
—Tive um imprevisto no trabalho, vou passar o final de semana na casa de praia dos meus patrões, desculpa.— enviei a mensagem sem muito pensar e expirei o ar em meus pulmões aborrecida.

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Lura
RomanceLura é uma jovem mulher de grandes ambições, desde pequena seu maior sonho sempre fora abandonar a aldeia em Inhambane e conhecer o mundo e ela fará de tudo para alcançar os seus objetivos... Tudo! Vendida pelos pais como empregada doméstica para um...