Lura
Olhava para o relógio de dois e dois minutos aborrecida, será que ele havia desistido? As pernas doíam imenso, tentei movimentar os pés dentro do sapato que corroía os meus dedos, trabalhar de dia e de noite estava a acabar comigo. Estava prestes a ir embora quando ele buzinou para mim do outro lado da estrada, abriu o vidro do carro e acenou, sorri para ele cumprimentando-lhe e rápido atravessei a passadeira indo ao seu encontro.
— Desculpa fazer uma mulher tão bonita como tu esperar.— seu tom educado e o sorriso encantador me surpreenderam. Sorri ainda mais ao responder:— Não faz mal, eu cheguei agorinha também.— menti, eu estava parada já há meia hora.
— Ouvi dizer que faz parte da cultura moçambicana atrasar, parece que é verdade.— riu do próprio comentário.— Acreditas que no meu aniversário as pessoas só chegaram duas horas depois da hora combinada? E eu a achar que ninguém fosse aparecer.— ri para acompanhar o ambiente e o silêncio se instalou, embora ele me tivesse ligado e marcado aquele encontro não sabia qual era a impressão que aquele escândalo tinha causado e portanto precisava ser cautelosa.
Durante o caminho todo não trocamos mais nenhuma palavra, Bruno conduzia com prudência, seu olhar fixo no volante mas a expressão relaxada, expirei o ar contido em meus pulmões, ele parecia gente boa principalmente depois de ter me defendido em sua festa. No mundo em que eu vivia precisava estar sempre em alerta, nem todos os clientes eram boas pessoas e na sua maioria eles eram homens sem escrúpulos que batiam, torturavam e não respeitavam a mulher que contratavam, éramos apenas objetos de prazer. Antes quando tínhamos a proteção de Nhoca pelo menos poderíamos nos sentir seguras mas trabalhando por contra própria os riscos se tornaram individuais.
— Chegamos.— ele abriu a porta e eu imitei o seu movimento, Bruno então veio para o meu lado e dobrou o antebraço pedindo que o acompanhasse, coloquei a minha mão em seu braço e caminhamos para dentro do restaurante.
Na verdade não esperava por aquilo, a maioria deles só queria ir direto para o quarto e despachar o assunto, mas Bruno não. Ele gostava da conversa fiada e o vinho para aquecer o ambiente, aquela pequena espera entre sorrisos e olhares travessos era o elixir para acender o desejo.
— Você já tinha vindo aqui? — perguntou enquanto nos sentavamos, olhei para o salão elegante, num tom rústico, chão de madeira e algumas plantas de solos áridos, haviam tecidos brilhantes e algumas pedras enroladas neles envolta dos candelabros por cima das nossas cabeças, o ambiente lembrava o conto de fadas de Jasmin, um dos últimos filmes que assistira como menina antes da minha mocidade me ter sido roubada.
— Não. É a primeira vez, mas parece um lugar que eu voltaria a frequentar numa outra oportunidade.— respondi e ele concordou satisfeito, o garçom chegou com os cardápios e permaneceu em silêncio enquanto escolhiamos.
— Traga este vinho.— apontou baixinho e o garçom acenou para ele com a cabeça concordando.— Ah, você gosta de vinho Lura?— perguntou e os dois desviaram a atenção para mim.
— Ah...— a resposta era não mas não queria contraria-lo.— Posso sempre acompanhá-lo.
— Perfeito.— sorriu ainda mais.
Depois de fazermos os nossos pedidos o moço se foi, virei-me para encara-lo, ele parecia entretido com a vista, com a camiseta polo branca e o relógio singelo mas que me parecia caro, olhei para o seu dedo anelar, não havia nenhuma marca de anel nele, era difícil acreditar que aquele homem não estivesse noivo nem casado.
— O que o trouxe a Moçambique?— perguntei puxando conversa.
— Negócios. Investi numa empresa de combustível onde o Mike também tem ações. Você o conheceu na festa.— explicou tentando me recordar.
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Lura
RomanceLura é uma jovem mulher de grandes ambições, desde pequena seu maior sonho sempre fora abandonar a aldeia em Inhambane e conhecer o mundo e ela fará de tudo para alcançar os seus objetivos... Tudo! Vendida pelos pais como empregada doméstica para um...