Lura

Capítulo 24- Despedida

Lura

Três dias se passaram e eu nunca pensei que uma viagem desse tanto trabalho, felizmente eu tinha Sarita e Queen para ajudarem a empacotar todas as tralhas no apartamento alugado, deixaria tudo na casa de Sarita até que eu voltasse, se é que algum dia voltaria. Enquanto arrumavamos, as lembranças do passado enchiam os meus olhos de lágrimas, era tanta coisa que tínhamos passado juntas, eu as devia a minha vida e faria de tudo para retribuir todo o bem que elas me tinham feito por todos aqueles anos.

— Ai que inveja Lura.— disse Queen sentando num dos cachotes da mudança.— É o sonho de qualquer uma, ir para a Europa, com tudo pago, champanhe todos os dias e boa comida.— ela suspirou enquanto viajava em sua mente de olhos fechados.— És mesmo muito sortuda! Bruno não pode me arranjar um white como ele? Ele não tem um amigo que queira uma preta linda como eu, para acompanha-lo num cruzeiro também?— rimo-nos, mas a verdade é que eu não me sentia tão sortuda assim, tentava ocupar a cabeça mas ela estava cheia dele, cheia de seus beijos e da saudade do seu toque, da plenitude que sentia em seus braços e do vazio que sentiria sem ele.

Para além disso, havia algo de errado com Bruno, a maneira como se tinha portado na noite passada enquanto jantavamos levantava suspeitas, ou talvez fossem as teorias de conspiração de Nwando que estavam a deixar-me louca.

Flashback on

— Estás deslumbrante Lura.— disse ao me ver chegar na noite passada, no restaurante chique, com vista ao mar. Havia mudado o cabelo, para extensões longas e lisas, trajava um vestido cinza escuro lurex que chegava até aos calcanhares, com as costas desnudas. Queria passar a impressão correta para ele, de que seria uma ótima dama de companhia e não iria envergonha-lo.

— Obrigada.— disse enquanto o garçom puxava a cadeira para mim.

O jantar estava perfeito, um bom vinho e a comida maravilhosa, a música ambietal ecoava nas colunas deixando o clima mais intenso, Bruno olhava diretamente para os meus olhos e prestava atenção aos meus movimentos, eu até  iria achar aquele gesto sexy, se Nwando não tivesse enchido a minha cabeça de minhocas, agora eu sentia-me desconfortável com aquele olhar sobre mim, chegava a suar frio.

Bruno contava dos planos da viagem, dos lugares em que iríamos passar e eventualmente fui relaxando. Durante o jantar ele segurava na minha mão fazendo pequenos círculos na minha pele, ele não tentou nenhum contacto sexual, não mostrou sequer interesse em ir comigo para o hotel naquela noite,  estava a ser um gentleman, mas aquela dúvida me estava a consumir, eu iria viajar com aquele desconhecido e precisava ter a mínima certeza de que estava em boas mãos.

— Veneza é muito bonita, todo mundo diz que Paris é a terra do amor, mas só diz isso quem ainda não foi à Veneza, acho que vais adorar.— sorri fraco e mordi a língua antes de falar.

— Vejo que já esteve lá, foi com os seus pais?— perguntei olhando diretamente para ele e traguei o vinho, mais para molhar a garganta que começava a ficar seca, seu sorriso murchou e a testa ficou franzida por um instante, mas logo recuperou a postura.

— Não, fui com amigos.— então cortou o bife mal passado, o sangue no prato fez-me arrepiar, Bruno deu uma gargafada em silêncio, engoli em seco pronta para atacar novamente.

— Seus pais pareciam o tipo de pessoas que iriam gostar de lá ir.— falei tentando soar despreocupada, Bruno largou as talheres na mesa e olhou para mim com o olhar profundo, depois sorriu e comentou:— Não vamos mais falar sobre os meus pais, cria mau ambiente.

— Desculpa, eu não queria...

— Tudo bem, só não vamos mais falar disso. Ok?– assenti com a cabeça sob o comando do seu olhar e subitamente ele voltou a falar da logística da viagem.