Capítulo 29-Alucinação

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Nwando

"Nwando se tu saíres por essa porta e não me soltares, eu juro que nunca te irei perdoar, nunca!"

A voz de Lura ecoava na minha cabeça enquanto dirigia pelas ruas da cidade de Maputo, o medo dela nunca mais me perdoar corria a minha alma mas não era maior que o medo de perdê-la de vista para sempre. Eu sabia que era egoísmo, que tinha agido por impulso e que eu nem sequer tinha um plano. Não sabia o que fazer com aquele sentimento, não sabia o que fazer com ela, estava apavorado porque era a primeira vez que me sentia assim, eu nunca havia amado a ninguém como eu a amava.

Eu não podia assumir um relacionamento sério com Lura, tinha a certeza que seria banido só pelo simples facto dela ser uma empregada doméstica, quanto mais se descobrissem  que ela era uma prostituta. Em algum momento a verdade viria à tona e quando explodisse nas nossas caras todo mundo sairia chamuscado. Meu pai era uma figura pública, manchar o seu nome com toda aquela sujeira iria estragar o nosso bom nome e com certeza seria afastado do seu cargo em pouco tempo.

— Aprendeste a conduzir aonde caralho? — buzinou o motorista do carro no entroncamento da 25 de Setembro, consegui travar a tempo antes dos carros colidirem, respirei fundo, estava fora do controle.

— Eu te amo Lura.— as lembranças da noite passada fizeram a minha espinha arrepiar, seu corpo frágil em meus braços, totalmente entregue a mim, seu olhar que gritava para protegê-la, seus lábios entreabertos enquanto soltava gemidos dóceis que imitavam o cântico das sereias. Queria convencer-me de que ela tinha colocado algum tipo feitiço em mim pois meu corpo vibrava de desejo por ela, bati no volante inúmeras vezes e praguejei em várias línguas, eu precisava tomar uma decisão. Queria-a para mim, a todo tempo. Não só por alguns momentos, queria-a do meu lado, custasse o que custasse, doesse a quem doesse. Queria desvendar os segredos mais obscuros da sua alma e protegê-la dos seus demónios internos, me sentia no dever de cuidar dela, pois debaixo daquela armadura de mulher forte, eu via uma menina que só precisava de alguém que olhasse por ela.

Mas se ficasse com ela, eu perderia tudo: as regalias, o dinheiro, o prestígio, a minha família. Não sabia se era capaz de destruir tudo que tinha por causa de uma mulher. Será que ela ficaria comigo se eu não tivesse nada para oferecê-la? Afinal de contas Lura era uma mulher vivida, com um passado duvidoso. Ela estava disposta a ir para a Europa com um potencial assassino apenas porque ele tinha dinheiro e iria proporcionar-lhe uma viagem para o exterioe, e se eu estivesse a entregar-me de bandeja para uma caça-fortunas?

Dúvida...
Medo...
Incertezas...

Não. Devia ter pensado nisso antes de prendê-la no hotel e impedi-la de viajar. Agora era tarde demais para arrependimentos, eu precisava tomar uma decisão e rápido. Estranhei a quantidade de carros no lado de fora da minha casa, deixei o carro na calçada e entrei temeroso.

— Olha ele aí.— disse minha mãe quando abri a porta da sala. As senhoras vestidas de trajes tradicionais de capulana viraram-se para me encarar com os sorrisos amarelos: minhas tias, tias de Beatriz, a mãe de Beatriz e a sua avó, algumas primas e outras senhoras desconhecidas. Parei na entrada sem saber o que fazer, eu já imaginava de que se tratava aquela reunião. Minha mãe caminhou na minha direção para me abraçar: — Estava a dizer á comadre que tu já compraste o anel e que ele é simplesmente deslumbrante.— todas sorriram contentes, engoli em seco estático.

— Depois passo-te o modelo que ela quer, só faz o papel, sim?— minha mãe segredou baixinho dessa vez quando elas voltaram a conversar sobre os detalhes da festa de noivado, sem se importarem com a minha presença.

— Mãe, precisamos conversar.— disse sério e o sorriso dela murchou, dei-lhes às costas e minha mãe seguiu-me pelo corredor que levava á piscina.

LuraOnde histórias criam vida. Descubra agora