Capítulo 26-Tudo

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Lura

O cheiro amadeirado do perfume de Nwando despertou-me na manhã seguinte, continuei com os olhos fechados pois me recusava a aceitar que aquela tinha sido a nossa última noite. Senti o colchão afundar e o cheiro dele se intensificar, Nwando deu um selinho em meus lábios, o peso do seu corpo sobre o meu fez pressão sobre o meu estômago impedindo-me de respirar mas eu gostava daquela sensação, era bem parecida com o sentimento que eu tinha por ele: asfixiante de tal forma que parecia que me ia matar a qualquer momento. Abri os olhos com receio e finalmente encarei-o, os olhos castanhos de mel estavam sombrios, incertos... Engoli em seco sem saber o que dizer, Nwando voltou a beijar a minha boca, dessa vez com o desejo que queimava a minha pele e incendiava a minha alma. Se aquele era o nosso último beijo, com certeza eu nunca me esqueceria dele, nem em mil anos. Nwando passou a mão ao redor da minha cintura fazendo-me arquear a coluna, arrepiei-me toda e soltei um gemido sofrido, eu não iria suportar viver sem aquele toque, sem aquele beijo, sem aquele cheiro, segurei o pescoço dele com a mão direita e foi quando quis mexer o braço esquerdo para enroscar-me em seus ombros largos que este não se moveu do lugar. Eu já imaginava o que ele tinha feito, meu coração falhou uma batida e olhei rápido para o meu pulso. Eu estava presa á cama por uma algema de ferro prateada, voltei o olhar para Nwando incrédula, ele levantou da cama e deu-me às costas indo até ao mini bar, sentei-me na cama olhando da algema para ele vezes incontáveis, a bola em minha garganta impedia-me de dizer alguma coisa, apenas o barulho do uíque sendo derramado no copo fez-se ouvir, meu coração batia acelerado, Nwando deu um gole e então virou-se para mim em silêncio, encostando-se na cómoda em frente à cama.

—Nwando o que significa isto?— perguntei apontando para o meu pulso.

— Tu não me deste escolha.— disse sério   e deu mais um gole.

— Como é?— a voz falhou pelo nervosismo e tentei soltar-me à força da algema, a dor em meu pulso obrigou-me a parar.

— Desculpa Lura.— Nwando largou o copo na cómoda e veio até a mim, ele agachou-se do lado da cama e continuou:— Mas eu não vou deixar-te viajar com um assassino.

— Nwando solta-me por favor.— perguntei sentindo um misto de raiva e desespero.

— Infelizmente eu não posso.— disse sério e levantando segurou na chave do carro e o seu celular na cabeceira. Olhei para o despertador, faltavam apenas duas horas para o meu voo. Ele não podia estar a falar a sério.— Nwando, solta-me já!— gritei dessa vez, tentando forçar mais uma vez o pulso a sair da maldita algema.

— Lura pára com isso, vais acabar magoando o pulso.— falou com carinho e a essa altura as lágrimas ameaçavam cair a qualquer segundo.

— Nwando quem me está a magoar és tu. Por favor, não faças isso!— supliquei, Nwando olhou para mim incerto e por um segundo achei que fosse tirar a chave do bolso e soltar-me mas logo balançou a cabeça negativamente e se afastou.

— Eu não posso deixar-te ir...— disse mais que num monólogo do que para mim.

— Essa decisão não cabe a ti.— disse firme dessa vez, ele não tinha o direito, estávamos a falar da minha vida, do meu futuro, ele não era ninguém para interferir, aquela decisão era só minha e de mais ninguém. Nwando olhou para mim sombrio, achei que fosse mudar de ideia mas então ele segurou no casaco pronto para sair.— Nwando se tu saíres por essa porta e não me soltares, eu juro que nunca te irei perdoar, nunca!— ameaçei e ele hesitou, uma fina lágrima caiu da minha pálpebra cheia.

— Se eu te deixar ir, eu nunca vou me perdoar.— disse sério e deu-me às costas.

Gritei desesperada tentando soltar o pulso com força:— Nwando não, não vás. Tu não tens o direito! — gritei com todo o ar em meus pulmões, e sem olhar para mim ele respondeu: — Assim que eu tiver a certeza que Bruno já viajou, alguém virá trazer o teu pequeno almoço, o teu celular e a chave da algema.— e dito isto ele saiu pela porta. Continuei a gritar desesperada pedindo por ajuda enquanto tentava incansavelmente forçar o pulso a sair da algema mas a força em meu antebraço já se esvaía.

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