Lura

Capítulo 4 - Sexta, dia do homem.

Lura

O sol já se punha e os passarinhos recolhiam de volta aos seus ninhos para perto das suas famílias, mas enquanto o dia terminava, a noite estava apenas a começar. A sexta-feira em nossa cultura machista é o dia do homem, dia em que muitos deles se reúnem nas barracas¹ para tomar uns copos com os amigos e jogar conversa ao vento. Para outros, é o dia da mentira, dia em que alegam estar a assistir um jogo de futebol em grupo para poderem sair com as suas amantes e divertirem-se longe das esposas birrentas e ingratas. Para nós, aquele era o dia de encher os bolsos, pois com certeza os nossos serviços estavam entre os mais procurados.

Passava-se uma semana que começara a trabalhar na casa dos Mbalate e as coisas iam de mal a pior. Antonieta embirrava com tudo que eu fazia: os pratos não estavam bem limpos, a cama não estava bem feita, os armários não estavam devidamente organizados, a estante ainda tinha pó, o chão não brilhava o suficiente, a comida não sabia a nada.- Estava farta! - Eu não era assim tão má embora estivesse um tanto enferrujada, começava a achar que ela se sentia intimidada por mim, talvez com medo que lhe dessem a reforma e fosse obrigada a ficar em casa sem nada para fazer, perdida na solidão que ela própria plantou, mas aquele destino era inevitável,estava muito velha e deveria ter ido descansar faz tempo.

Pensei em desistir, não aguentava mais a rabujice daquela velha desgraçada mas a proposta de salário era mais que gorda, não podia desperdiçar aquela oportunidade, por nada! A quem eu queria enganar, estar na casa dele me dava uma sensação de segurança, como se pudesse tê-lo por perto, conhecê-lo melhor, jamais perdê-lo de vista. Mas essa última estava totalmente fora do meu controle visto que depois daquele beijo nunca mais o vi.

Nwando saía muito cedo antes do meu expediente começar e voltava para casa muito tarde, depois do meu horário de saída, talvez ele nem voltasse de todo e estivesse a divertir-se com outras mulheres em quartos de hotéis requintados como aquele em que me tinha levado, ou talvez me estivesse a evitar porque sentia o mesmo que eu, a segunda era muito pouco provável mas era preferível prender-me àquela ilusão do que aceitar que eu era apenas um caso de uma noite para ele.

A verdade é que a ansiedade de vê-lo novamente estava a matar-me, queria perguntar por onde ele andava mas tinha certeza que Antonieta mesmo que soubesse, não me diria.

Uma semana, uma maldita semana a trabalhar duro naquela casa enorme sem conseguir tirá-lo da cabeça. Felizmente a paixoneta começava a tornar-se em ódio á medida em que o tempo passava e era por isso que naquela sexta-feira eu estava pronta para me divertir muito, encher a cara e os bolsos.

Decidimos mudar de ambiente naquela noite, ninguém mais queria parar o carro numa esquina e carregar uma mulher como se estivesse a comprar um saco de batata, eles preferiam a fantasia de conquistar uma linda mulher numa discoteca e conseguir levá-la para cama, então era isso que nós iríamos dar para eles.

O Madjedje club era uma casa noturna badalada da cidade de Maputo, o lugar perfeito para encontrar homens casados e garotos solteiros abastados com imenso dinheiro para gastar em bebida, mulheres e narcóticos, mas naquela noite era diferente, o local estava alugado para uma festa privada na qual nós fomos convidadas.

Sarita podia ser uma fofoqueira incorrigível e terrível ladra mas ela tinha muitos contactos, contactos esses que nos salvaram em outras vidas, que me deram abrigo quando eu mais precisei e que agora tinham conseguido as entradas para aquela festa privada.

Éramos três, eu coloquei uma mini saía preta de napa com pregas que desenhavam as ancas salientes e o bumbum orgulhosamente africano e uma blusa brilhante com o decote até ao fim do esterno que mostrava meus seios pequenos e em pé de forma elegante, as sandálias prateadas de salto alto com cordas até aos joelhos e o meu cabelo natural alisado num totó com um rabo de cavalo. Sara colocou um vestido tubo colorido, ela era extravagante e gostava de exibir os peitos enormes, com a peruca loira até à bunda, as unhas compridas com cores berrantes e os saltos finos que magoavam os dedos que os sustentavam.