Capítulo 8- O passado que me condena

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Lura

5 anos atrás

O vento da madrugada batia em minhas pernas, não conseguia dormir com tanto frio, meus lábios rachados e as unhas sujas, sentada no asfalto da calçada descalça, coberta apenas com o papelão que encontrara na lixeira, balançava o corpo tentando sacudir o medo que gelava cada milímetro do meu corpo pequeno de menina, apenas a escuridão era minha companheira, meu estômago vazio roncava como se mil leões rosnassem de fome, pensei que fosse morrer, talvez de frio, talvez de fome, ou ainda de tristeza. Estava perdida, naquela grande cidade que um dia fora o meu sonho conhecer mas que rápido se tornara num pesadelo.

Respirei fundo, meus olhos molhados anunciando que as lágrimas cairiam em breve, não conseguia perceber porquê um pai ou uma mãe era capaz de entregar a sua filha para ser feita de escrava por famílias sem escrúpulos. Não, eles não tinham culpa. Tinham sido enganados tanto quanto eu.— pensei.— Mas então porquê quando liguei para eles na manhã seguinte àquele dia fatídico dia eles não me acolheram e ao invés disso se viraram contra mim mandando-me voltar para casa dos meus agressores pois ficariam sem sustento. Não!
Eles não eram inocentes com certeza.

— Ei você? — ouvi a voz de um homem e virei-me para encara-lo, segurei os joelhos firme contra o peito tremendo de medo, ele cambaleava com as pernas trocadas  juntamente com mais dois indivíduos, as calças caídas e as garrafas de cerveja em suas mãos.

— O que foi?— tentou tocar em meu rosto mas eu me esquivei, os outros riram empolgados como se de um jogo se tratasse.— O que uma menina tão linda faz na rua a essa hora?— ele deu um gole profundo terminando a sua bebida, não respondi, isso pareceu irrita-lo, atirou então a garrafa no chão com certa agressividade e os estilhaços brilharam na calçada refletindo o luar.

— Eu estou falando com você!— berrou segurando em meus braços e me obrigando a levantar, debati-me no chão e enquanto era arrastada para me levantar segurei num pedaço de vidro que encontrei no chão ameaçando-os com ele, eles riram em resposta.

— Ela é brava.— disse um deles, minha mão tremia enquanto empunhava a minha arma, não estava disposta a ceder.

O primeiro tentou se aproximar mas continuei a ameaça-lo para que não desse nem mais um passo. Rapidamente conseguiram imobilizar-me e retirar o pedaço de vidro da minha mão, debati-me ainda mais mas eles derrubaram-me no chão começando a despir-me.

— Por favor não.— eu gritava no chão. A alça da minha blusa rebentou-se deixando meu seio a vista e eles tentaram apalpar-me, lutava com as pernas tentando afasta-los de mim mas um deles já abria as calças e tentava colocar seu pênis em minha boca, o outro tentava retirar-me as calças a força.

— Então tu falas? — riam-se os três e um deles apertou as minhas bochechas tentando ajudar o amigo a colocar seu membro nojento em minha boca. Cuspi nele e ele irritado deu uma bofetada em meu rosto, cerrei os lábios e fechei os olhos, era o fim, eu iria morrer ali, esturprada numa ruela por três homens asquerosos.

— Larguem a ela!— ouvi a voz de uma mulher mas eles pareceram ignora-la.— Larguem a ela agora!

— Vocês não me ouviram? Ou querem que eu chame o Nhoca para ouvirem melhor?— disse segura e eles se entreolharam largando-me no chão e desviando a atenção para ela.

— Quem tu és?— perguntou o chefe.

— Isso pouco importa, vocês estão na área do Nhoca e sem pagamento não há divertimento, agora toca a pagar antes que isso vos saia bem caro.

— Mas ela nem trabalha para ele.— apontaram para mim, estava confusa, sem entender o que estava a acontecer.

— Ela está sob minha proteção. Toca a pagar, não me aborreçam mais.— ela esticou a mão exigindo o dinheiro e eles tiraram alguns trocados que ela recebeu de bom grado colocando as notas em seu sutiã.

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