Capítulo 21- Detective

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Nwando

Saber que ela tinha sido tocada por outro homem enfureceu-me, deu-me tonturas e adoeceu a minha alma, enquanto subia às escadas em direção ao meu quarto, as pernas pareciam que pesavam toneladas, a imagem de Lura a gemer nos braços de outro cegava-me. Cerrei a mandíbula sentindo a raiva crescer no meu peito e caminhar até aos meus punhos, eu queria saber quem ele era e mata-lo com as minhas próprias mãos, mas que direito eu tinha de fazer isso sendo que ela não era minha, muito pelo contrário, ela era de todos nós.

Eu não deveria sentir ciúmes, afinal de contas eu a conheci naquela vida, envolvi-me com ela sabendo exatamente o que ela era, eu não tinha o direito. Mas mesmo assim, me senti traído, eu achava que ela se estava a apaixonar por mim, mas a ficha finalmente caiu, era só o trabalho dela, fazer os homens rastejarem aos seus pés e acabar com tudo que tinham até não lhes restar nem um centavo.

Cheguei ao banheiro e abri a torneira, enquanto a água escorria, olhei para o meu rosto lembrando das palavras dela: —Me diga uma coisa Nwando, você confrontaria a sua família, seus amigos, para ficar comigo?— lavei o rosto uma, duas, três vezes tentando acalmar os nervos.

Naquele momento eu queria ter dito que sim, mas seria mentira, eu não tinha a certeza, não sabia se conseguiria enfrentar o meu pai, não depois de todas burradas e todo desgosto que eu havia dado à ele, eu estava a tentar recuperar-me das minhas falhas e assumir um relacionamento com Lura, seria um escândalo, iria parecer que estava a fazer de propósito, só para envergonha-lo. O que a sociedade diria? —"O filho do Ministro da Justiça está a namorar com uma prostituta da Rua Araújo."— já conseguia ver a grande manchete no Jornal Notícias pela manhã.

E para quê? Se ela não era só minha, como poderia confiar numa puta? Eu não sabia quais eram as verdadeiras intenções dela, se realmente tinha sido uma conscidência vir trabalhar na minha casa ou se aquilo era tudo parte de um plano para conquistar-me. Não, eu não podia acreditar nela, ela não era inocente, mas por quê seus olhos diziam outra coisa quando se entregava para mim? Ela parecia tão angelical quando tirava a roupa e seu corpo vibrava em uníssono com o meu.

Tortura...

Era o que estava a fazer comigo, aquele ciúme torturava a minha alma, quem será que era ele? O homem com quem se deitou? Será que ele a fez gozar como eu? Será que a fez sentir como eu a fazia sentir? Ou será que ela nunca tinha sentido nada comigo e aquilo era parte de um teatro ensaiado em anos de experiência?

Tortura...

Queria arrancar aquele sentimento de mim e fingir que nunca tinha a conhecido mas sabia que assim que descesse as escadas teria que olhar na cara dela de novo.

Tentava ao máximo ignora-la durante o pequeno-almoço, e foi quando o nome Beatriz veio a tona e eu tive a oportunidade de me vingar. Se ela queria jogar esse jogo de falsos interesses, então era isso que íamos fazer. Por outro lado, Beatriz era a nora dos sonhos para os meus pais, eles sempre quiseram que as famílias Mbalate e Mutemba se unissem e que deixassem de ser amigos e passassem a ser compadres, desde pequenos que instigavam que fôssemos próximos, mas embora eu a tivesse comido inúmeras vezes, nunca surgiu nenhum sentimento para além de tesão.

Beatriz sempre foi bonita e bem aparecida, sempre se comportou bem na presença dos mais velhos e sempre foi inteligente, o que a tornava o centro das atenções em todos os jantares e convívios. Mas poucos sabiam da verdadeira faceta dela, poucos sabiam como ela era malvada com os que estivessem numa classe social abaixo da nossa, como ela tratava mal as ditas amigas dela e como ela sempre culpava outra pessoa quando ela estragava algum brinquedo ou partia um copo. Beatriz nunca assumia as culpas, não sabia se desculpar, pelo menos não de verdade e ela realmente acreditava que o mundo girava em torno dela. Bem, nós nunca daríamos certo porque éramos muito parecidos, em muitas coisas.

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