Lura
— Sentiu saudades minhas?— perguntei para a velha carrancuda à minha frente, Antonieta olhou-me cima baixo sem expressar nenhuma emoção e entregou-me a lista de tarefas impressa, sorri já esperando por aquela reação.
— Eu ficarei na cozinha a controlar os cozinheiros, tu vais treinar as duas ajudantes e orientar as ornamentações.— concordei com a cabeça e olhei para as duas meninas aterrorizadas pela presença de Antonieta, perguntava-me que tipo de atrocidades ela tinha feito com elas na minha ausência.— Lura este evento é muito importante, tudo tem que estar nos trinques!— ordenou segurando no meu braço com os dedos enrugados e calosos.
— Sim chefe!— fiz uma continência para ela e Antonieta olhou para mim irritada, as meninas sorriram mas Antonieta lançou-lhes um olhar mortal pelo que elas se conteram, então deu-nos as costas e foi caminhando a passos curtos para a cozinha.
— Eu sou a Lura e eu serei a vossa guia no dia de hoje. E vocês como se chamam?— sorri e elas desconfiadas sorriram fraco.
— Maria. Petra.— responderam tímidas.
— Não se sintam acanhadas, eu sei que velha pode ser dura mas é porque ela se importa muito com os donos da casa, é praticamente da família.— segredei.— Sintam-se livres de fazer perguntas e pedir auxílio nas tarefas, sim?— as duas concordaram aliviadas e eu sorri verdadeira, só quem já sofreu sabe a necessidade de ser luz na vida de outra pessoa para que não passe pelo mesmo que ela passou.
A lista de tarefas tinha mais de cinco páginas, já poderia imaginar quem a tinha feito ao mínimo detalhe. A casa estava revirada, haviam presentes num canto da sala, caixas com material para a decoração, precisávamos fazer a limpeza antes que chegasse a empresa de ornamentação que iria montar tudo.
O almoço do noivado estava marcado para às três da tarde mas como bons moçambicanos que somos, era óbvio que ia começar por volta das quatro, quatro e meia. Mesmo assim, precisava cumprir com a meta estabelecida e deixar tudo pronto antes da hora marcada, ainda me perguntava o porquê da festa ser em casa do noivo, sendo que tradicionalmente ela é feita em casa da noiva, mas conhecendo Beatriz era de se esperar que ela quisesse mostrar para todo mundo que ia se casar com o filho do Ministro da Justiça e nada melhor para isso do que a própria celebração ser no casarão dos Mbalate.
Orientei Petra e Maria para tirarem os presentes para um dos quartos no andar de cima e começarem as limpezas, uma no andar de baixo e outra no andar de cima, coloquei um certinho no item "limpeza do interior" e corri para o jardim, o jardineiro fez um sinal para mim de que estava tudo nos conformes, acenei para ele agradecendo e saí em direção à entrada para receber o bolo. Mal acabava de pousar o bolo na cozinha e o interfone tocou novamente, corri para o portão, o carro estacionou e logo saiu Beatriz, com os óculos de sol e o pijama.
— Beatriz?— perguntei surpresa procurando na lista algum item que falava dela mas não havia nada.
— Segura.— entregou-me o vestido encapado e foi andando para dentro, mais três pessoas saíram do carro com ela, uma maquiadora e duas assistentes.
— Prepara-me um sumo de melancia, estou tão ansiosa que a minha pele deve estar horrível.— ela foi subindo as escadas como se da própria casa se tratasse, olhei para as assistentes procurando alguma resposta para aquilo mas elas pareciam mais aborrecidas que eu.
— Você não vai se preparar na sua casa?— perguntei irritada seguindo-o pela escada.
— Eu ia, mas está um calor insuportável
, eu podia suar e estragar a make toda, e o cabelo...— ela não podia estar a falar a sério.
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Lura
RomanceLura é uma jovem mulher de grandes ambições, desde pequena seu maior sonho sempre fora abandonar a aldeia em Inhambane e conhecer o mundo e ela fará de tudo para alcançar os seus objetivos... Tudo! Vendida pelos pais como empregada doméstica para um...