Lura— Ah finalmente em casa.— disse Sílvia entusiasmada assim que desceu do carro alugado, Sr. Alberto porém estava carrancudo como sempre.— Lura ajuda-me com as compras!— disse ela abrindo a bagageira, obedeci sorridente como sempre mas a verdade é que não estava tão bem disposta, a cabeça doía um pouco pela falta de descanso e o álcool que ainda me corria pelas veias, ou talvez, só talvez por causa de Nwando.
Depois daquela confissão, Nwando não despertava por nada, se não fosse o seu roncar começaria a ficar preocupada, depois de algum tempo tentando acorda-lo desisti e deixei-o descansar, mas mal conseguia dormir, eu virava de um lado para o outro na cama tentando esquecer aquela frase maldita mas a mente não parava de torturar-me como um disco riscado, tentava convencer-me de que ele não falou a sério mas uma parte de mim torcia secretamente para que fosse verdade. Felizmente a energia elétrica voltou por volta das quatro horas da manhã e cansada de pensar naquilo decidi levantar-me e limpar a bagunça na sala.
Os pais de Nwando chegaram às seis, dei graças aos céus por ter me apressado com as limpezas, imagina o que eles iriam pensar se encontrassem a garrafa de vodka, os dois copos, as mantinhas jogadas de qualquer jeito no chão e os restos de vela que faziam pensar num clima romântico. Não! Isso teria sido o caos e com certeza a minha carta de demissão.
— Tivemos que fazer algumas compras de novo, alguns produtos acabaram estragando ontem, faça um pequeno-almoço que agrade o seu patrão, ele está muito irritadiço hoje, sovina que não é!— disse baixinho Sílvia e eu concordei com a cabeça.
Tentava concentrar-me nas minhas tarefas domésticas mas de tempos em tempos meu olhar se fixava nas escadas esperando vê-lo descer, será que me rejeitaria e trataria mal? Imaginava a postura inabalável e os olhos cor de mel, seus bíceps e o abdômen trincado, ele era uma escultura de Malangatana viva.
— Au!— reclamei percebendo que havia cortado o meu dedo com a faca afiada, eu precisava parar com aquilo e já.
Apressei-me a tratar a ferida e voltei para a cozinha, o trabalho não parava mas aquela maldita paixoneta precisava parar. Depois de duas horas a mesa finalmente estava pronta e num timing perfeito Sílvia apareceu.
— Meu Deus Lura! Sempre consegue me deixar impressionada.— disse vislumbrada com a decoração.— Se você quisesse poderia ser uma cozinheira de mão cheia, ou quem sabe uma dessas designers de eventos.— sorri feliz pelo elogio, eu designer de eventos? Essa era boa.
— Imagine senhora, contento-me com o trabalho que tenho.— respondi comedida mas a verdade é que meus olhos não paravam de encarar as escadas, onde será que ele se tinha metido? Porquê não descia? Meu coração batia forte em meu peito querendo sair pela boca, as mãos suavam e mal conseguia respirar de tanta ansiedade.
— Você não deveria se contentar com tão pouco menina. Você é jovem, é bonita e ainda prendada. Tenho a certeza que deve ter sonhos mais ambiciosos do que ser uma governanta.— olhou para mim espertinha incentivando-me a falar, e ela tinha razão, eu queria muito mais, queria conhecer o mundo e me fazer notar, eu queria com certeza ser muito mais do que uma empregada ou uma prostituta de quinta, mas mesmo assim respondi:— Sonhar hoje em dia tem um preço muito alto que pessoas como eu não têm como pagar.— o sorriso dela murchou instantaneamente e quando ia responder-me o seu marido apareceu.
— Tem bolo.— disse mais relaxado dessa vez.— Isso mesmo, hoje eu deixo você comer bolo, mas só duas fatias.— ameaçou e ele apressou-se a pedir para que o servisse.
— Não corte fatias de madrasta.— falou para mim e eu ri disfarçadamente enquanto aumentava o tamanho das fatias de bolo.
Entretida em servir os meus patrões esqueci-me por um segundo de checar as escadas e quando menos esperava o cheiro amadeirado fez-se sentir no ar e mesmo sem olhar para ele senti sua presença.
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Lura
RomantikLura é uma jovem mulher de grandes ambições, desde pequena seu maior sonho sempre fora abandonar a aldeia em Inhambane e conhecer o mundo e ela fará de tudo para alcançar os seus objetivos... Tudo! Vendida pelos pais como empregada doméstica para um...