Capítulo 16-De volta à realidade

135 18 2
                                    

Lura

Fazia uma semana que tínhamos voltado da casa de praia em Bilene, eu achava que Nwando me trataria com frieza assim que eu saísse do carro quando chegamos à Maputo na segunda-feira mas nunca estive tão errada, ele parecia outra pessoa. Aquela semana foi uma das melhores em toda a minha vida e olha que eu não tive muitas ao longo dos anos.

Tudo começou na terça-feira à hora do matabicho, seu pai lia o jornal como o habitual com a cara inexpressiva enquanto a mãe tentava agrada-lo prometendo uma fatia de bolo generosa dessa vez. Servi mais uma chávena de chá para ela quando Nwando apareceu de terno e gravata como um furacão, seu cheiro amadeirado encheu o ambiente enibriando os meus sentidos.

— Onde vai todo arrumado filho?— disse a mãe parafraseando as palavras que todos os presentes queriam dizer.

— Vou à faculdade...— deu uma pausa tentando engolir o pedaço de bolo que meteu com pressa em sua boca e continuou com a boca cheia.— Tratar da papelada para voltar a estudar.

A mãe pousou a chávena no pires, o pai fechou o jornal pela primeira vez e eu tentei soar menos surpresa do que realmente estava.

— O que você disse?— perguntou o pai olhando diretamente nos seus olhos, procurando por qualquer vestígio de mentira ou brincadeira, Nwando tinha um péssimo sentido de humor quando se tratava de provocar o pai, aquilo poderia ser sim uma forma de incitar uma briga entre os dois.

— Assumo que fui irresponsável ao largar os estudos e pretendo compensar,  isso se eles me aceitarem de volta, visto que já se passaram duas semanas sem aparecer por lá.

— É isso mesmo que você quer filho?— perguntou Sílvia num misto de incerteza e felicidade e aguardamos ele acabar de mastigar com pressa para responder:— Sim.— seu tom era firme.

— O que o fez mudar de ideia?— perguntou o pai fingindo não acreditar muito naquela súbita mudança, mas eu sentia que estava tão contente quanto Sílvia e eu.

— Mesmo se eu falasse, vocês não entenderiam.— ele olhou diretamente em meus olhos como se estivesse a dizer na lata que eu fui o motivo pelo qual decidiu tentar uma vez. Senti-me especial, como se fosse a única que podia mudar a sua cabeça e aquilo me deixou feliz, como nunca havia ficado, Nwando estava a indireitar-se e eu fazia parte dessa mudança, era maravilhoso.

Naquele dia nem mesmo a maldita da Antonieta conseguiu mudar o meu humor, esperei ansiosamente que ele voltasse e quando ele chegou procurou-me em todos os cómodos só para me dar um beijo escondido.

— Estou com tanta vontade de te comer aqui e agora Lura.— estremeci querendo mais dele mas depois de termos escapado do flagrante em sua cama na praia precisávamos ser mais cautelosos, pelo que afastei-me dele e respondi:— Aqui não!— respondi quase que num gemido e ele sorriu mordendo os lábios lembrando exatamente do que tinha acontecido.

Flashback on:

— Nwando o que fazemos?— ele pulou da cama vestindo.

— Eu os empato lá fora, você desce e muda de roupa.— ele saiu antes mesmo de terminar a frase. Apressei-me a vestir o macacão e pulei os degraus da escada na tentativa de chegar ao meu quarto o mais rápido possível.

— Eu disse para o seu pai não abusar do frango à Zambeziana, ele sabe que o côco faz mal para o estômago dele.— resmungou a mãe alto demais enquanto esgueirava-me no quarto e tentava vestir uma roupa confortável. Ouvi os passos lentos atravessarem a sala e achei o momento oportuno para entrar em cena.

— Dona Sílvia, o que aconteceu?— perguntei preocupada ao ver meu patrão andar com dificuldades em direção à casa de banho.

— Diarreia.— ela mimicou com os lábios e eu sorri sem querer.

LuraOnde histórias criam vida. Descubra agora