Capítulo 6

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— Realmente você é louco.

— Jinki e o Minho falaram a mesma coisa. — Ele suspirou alto e coçou a nuca. — Esperava que falasse também. É complicado, não é como se fosse realmente você, mas naquele dia, quando te encontrei no corredor senti algo estranho.

— Talvez repulsa por me ver vomitar?

Ele riu.

— Não, mas é como se a garota que eu sonho às vezes, o mesmo sentimento que sinto, foi o mesmo daquele dia. E outra coisa, sei o suficiente quando vi sua ficha com a enfermeira.

— Isso é errado, sabia?

— Errado é ver alguém passando mal e não fazer nada.

— Obrigada por aquele dia. Você está certo, ninguém se incomodaria.

— Não há de que. — Ele já não parecia o mesmo quando respondeu.

Na verdade, Taemin se manteve em silêncio até o momento que me deixou novamente no meu portão de embarque.

— Foi bom te ver novamente. — Ele forçou um sorriso. — Tenha cuidado.

— Você também. Obrigada por tudo!

Ele se afastou sem falar mais nada. Algo que eu nem sabia dentro de mim se quebrou.

"Atenção passageiros com o destino para a Vitória, Espirito Santo, informamos que por conta das fortes chuvas estamos cancelando a viagem até segunda ordem."

— Mas que merda!

Olhei para a tempestade e o xinguei mentalmente. Forçada, retornei para casa até ter uma previsão de quando poderia viajar.

Enquanto remexia na cama concluindo que essa hora poderia estar nos braços da minha mãe, também senti meu peito doer sem parar.

Por conta dessa dor, foi a primeira noite que sonhei com Taemin. Com o seu rosto quando dizia que eu era o destino dele e como o seu rosto ficou quando disse que ele era louco. Era como se eu contasse que o papai noel não existisse para a criança mais crente.

Como eu poderia ser o destino dele? Um artista. Um homem tão bonito, talentoso e tão gentil? Ainda carregando o fruto de uma paixão antiga? Eu estava grávida e isso estava tudo bem? Nunca. Um homem de verdade nunca aceitaria o filho de outro.

De repente o calor que senti quando me aproximei de Taemin tomou conta do meu corpo, seus olhos me engoliram e tudo que consegui fazer foi me afogar ali.

Acordei com o corpo úmido do suor e o coração batendo como metralhadora. Minhas mãos tremiam e quando procurei pelo meu celular percebi que peguei no sono olhando a foto mais recente que encontrei de Taemin.

Rindo fechei a tela o mais rápido possível.

— Foi por isso que sonhei com ele. — Aquele aperto voltou. — Eu sou uma rocha, meu coração é uma rocha também.

Era o que eu queria acreditar, mas de alguma forma, Taemin arranhou a barreira que construí ao redor de meu coração. Ou novamente, eu tentava acreditar.

No dia seguinte, acabei com o meu plano de internet pesquisando por quem não devia. A cada foto que encarava ria enquanto dizia: "Destino".

Quando não tinha mais nada para fazer em casa, peguei minha câmera e caminhei até o parque mais próximo. As chuvas começaram a dar uma trégua e isso deixou as fotos mais bonitas.

Não gostava muito de tirar fotos de paisagem, mas a paz que estava me trazendo fazia valer a pena.

Uma mensagem nova anunciou que poderia viajar em breve.

Uma mistura de felicidade e tristeza me consumiram e não conseguia mais clicar, fiquei em silêncio enquanto observava os pais com seus filhos brincando de um lado para o outro. Os meninos jogam futebol com os seus pais e as meninas faziam piquenique com as suas mães. Eles pareciam felizes.

— Espero me sentir que nem eles quando você tiver aqui.

Suspirei e comecei a cantarolar uma música que ouvi mais cedo do grupo de Taemin. Se uma coisa eu tinha aprendido trabalhando no meio artístico era que músicas de kpop grudam em sua cabeça sem que você quisesse.

"Sing sing your song sing sing your song sing it" — era o único trecho que sabia verbalmente dos meus lábios e a parte que mais cantava mentalmente até que percebi que saia dos meus lábios sem querer.

— Sabe, Yuri, se por um milagre acabar vendo-o mais uma vez, talvez eu acredite no destino.

Fechei os olhos e contei até 10. Se for destino ele vai aparecer agora de repente.

Quando abri os olhos, nada.

Fiz isso mais três vezes e quando o céu escureceu, desisti.

— Destino não existe!

Era final de semana e o sol brilhava.

Agora não teria nada que me impedisse de ir para casa.

Minha mãe avisou que estava preparando o meu prato favorito para quando chegasse e é claro que fiquei com mais vontade ainda de ir embora.

Dessa vez, deixei a mala mais leve deixando mais coisas para trás e senti melhor para carregar a mala sozinha dessa vez. Pelo menos até o aeroporto porque lá acabei gastando mais do que devia em doces que eu estava louca para comer desde a última vez e só teria paz quando os consumisse.

Faltavam apenas trinta minutos quando vi que as pessoas começaram a entregar os documentos e entrar no avião. Apressei meus passos e entrei na fila. Conforme andava, sentia o frio na barriga ir aumentando mais e mais. Era como milhares de borboletas voavam sem direção por todos os lados no estômago. A minha vez estava se aproximando e eu não conseguia me movimentar mais. O corredor à minha frente foi se estreitando, se fechando ao meu redor e eu nem estava ali ainda.

— Moça? É a sua vez. — A voz fina de uma senhora veio logo atrás de mim, mas não conseguia avançar.

— Eu não consigo. — Falei quase sem voz para ninguém em particular.

— Moça!

— Anda logo! — Já era uma voz masculina me apressando.

Uma mão segurou o meu cotovelo e me tirou da fila. O corredor ainda estava se fechando em minha mente quando me abraçaram. Eu sabia que era ele.

Só percebi que tremia quando minha respiração finalmente se controlou.

— Eu não quero ir. — falei chorosa contra o seu peito.

— Então, não vá. — Eu concordei com a cabeça e deixei o seu abraço me acalmar. 

Shine - TaeminOnde histórias criam vida. Descubra agora