Capítulo 4

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No dia seguinte, mesmo ainda sentindo cansada, fui ao mercado e comprei vários sacos de lixo e alguns produtos de limpeza para começar a fazer uma bela de uma geral na casa. Não era porque eu iria embora, deixaria a casa que minha vó deixou para mim, um terror de uma recém-separada.

A viagem estava marcada para daqui a um mês e meio, era tempo o suficiente, mas não queria perder aquela agitação como das outras vezes. Sempre dizia que faria mais tarde e nunca fazia, mas dessa vez seria diferente, a lua nova me disse isso.

Ao vestir uma camiseta velha, percebi que minha barriga finalmente começava a aparecer de verdade, de um jeito que não tinha reparado antes. Toquei-a de leve e para minha surpresa, a ansiedade de senti-la se mexer começava a aparecer.

— Vamos eliminar tudo o que tem a ver com a pessoa que você deveria chamar de pai!

Bati o pé decidida e com um enorme saco preto em mãos, comecei a jogar cada pequeno detalhe que lembrava aquele que amei um dia.

Os porta-retratos quebrados e virados para baixo foram os primeiros a sumir, depois suas anotações, cadernos, caixas e outras coisas inúteis que sempre quis jogar no lixo e ele nunca deixou.

Em outra sacola, as roupas, livros, bonecos e jogos que ele acabou esquecendo foram colocados no que seria doado.

Logo a casa se tornou vazia e com eco em todos os cantos. Tirar todas as coisas só tornou mais real que ele partiu e fiquei sozinha.

Ter boa parte das suas coisas ainda davam esperanças, mas todo o contato possível com aquele que deveria ser pai daquela criança, desapareceu. Até os e-mails eram ignorados. Ele devia ter criado um novo, assim como os seus pais que diziam que eu era como uma filha para ele e hoje que mais preciso deles, simplesmente viraram pó junto com o filho.

Só percebi que estava chorando quando notei a manta em meu colo molhada.

Demoraria muito para superar tudo aquilo? Superar um romance de anos?

Eu estava pronta para uma família e tudo que sobrou foi eu e o meu filho.

Enquanto enfiava as últimas coisas no porta-malas, percebi como as mães solos eram fortes e como eu precisava disso. Ser forte, uma mãe forte.

Com o pouco de energia que ainda restava, levei o que o caminhão não conseguiu para o centro de doação da cidade.

Os agradecimentos foram tantos, mas tudo que eu queria era agradecer por eles aceitarem receber o que eu não aguentava mais ver.

Eu não precisava mais do Carlos, e nem meu filho, é isso seria uma decisão definitiva.

Estava tudo pronto. Faltava muito pouco para subir no avião e começar uma nova vida.

Conferi a mala mais uma vez e os últimos exames estavam ali junto com todos os documentos.

Ainda não era possível saber o sexo do bebê, mas por algum motivo, o nome Yuri soava no fundo da mente toda vez que pensava na pequena criança que crescia dentro de mim, e quando descobri que o nome era unisex, me senti mais tranquila porque não precisaria trocar o nome assim que nascesse, afinal, já estava acostumada.

A única coisa que me preocupava era como minha mãe já fazia uma lista gigante de nomes para seu primeiro neto. A briga seria intensa.

Percebi que não tinha mais nada na cozinha quando o estômago roncou ferozmente. Estava com muita fome e tudo que tinha sobrado era o vento. Por que tinha me livrado de tudo tão cedo assim? A viagem seria em dois dias e não precisava adiantar tanto. Desci até o mercado mais próximo e enchi os armários com o que fosse preciso pelos próximos dias.

Trancar a porta do lugar que foi meu lar por tanto tempo fez meu coração doer mais do que nunca. Era difícil dizer adeus para o lugar que foi minha proteção quando mais precisava, mas dessa vez precisava de mais do que isso.

— Se um dia eu não voltar para essa casa, ela pode ser sua, quem sabe. — Ficar sozinha tinha feito com que eu criasse o hábito estranho de conversar com a criança em minha barriga. Será que isso era algo normal quando uma mulher se tornava mãe?

Com dificuldade, arrastei a mala pesada pelo aeroporto pronta para socar qualquer um. Já estava irritada quando o taxista cobrou uma fortuna para me ajudar a descarregar a mala do carro e depois saber que o voo estava atrasado por conta das chuvas.

— Se cancelarem o voo, vou ficar muito brava. — Sentei próximo da saída esperando, talvez, que a sorte finalmente viesse e o avião partisse.

E fiquei assim por oito horas até que o cansaço finalmente me vencesse. Deixando a bolsa o mais próximo possível e prendendo a mala em meus braços, deitei no banco e desmaiei depois de esperar tanto.

Um trovão alto atravessou o aeroporto causando eco por todos os lados e me fazendo acordar assustada e tremendo. Quando levantei percebendo onde estava, algo pesado caiu e quando fui pegar o cheiro doce do perfume que Taemin usava naquele dia atingiu meu coração e notei que a blusa que me cobria não estava ali antes.

— Finalmente acordou. — Quando me virei, o rosto sorridente de Taemin estava ali novamente, como se fosse um sonho. 

Shine - TaeminOnde histórias criam vida. Descubra agora