Capítulo 28

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A minha cabeça girava, girava e girava, por que tudo aquilo estava acontecendo comigo? Por que justo agora que estava sozinha? Completamente sozinha. Ana estava ocupada, Taemin estava no exército, a maioria dos amigos, conhecidos ou familiares estavam do outro lado do mundo. A única pessoa que eu poderia cogitar era Carlos, mesmo tendo mil e um motivos para não fazer isso, mas e se tivesse certo?
Que garantia eu teria aqui? Primeiro que seria sempre assim, Taemin mesmo retornando para casa, voltaria para a sua rotina e viveria viajando a maior parte do tempo, provavelmente depois de tudo o que aconteceu, sair juntos seria um problema enorme, seria assim como era quando estava no Brasil. E além do mais...
O fato daquela nota sair, da mentira que contaram e como Taemin aceitou aquilo tão facilmente deixava tudo pior. Isso só significava que iria mentir o tempo todo, eu nunca seria alguém de verdade na vida dele, nem mesmo Yuri, que ao invés de pai, seria apenas um sobrinho. Se ele dizia que seus fãs eram parte de tudo isso, então qual seria a razão de nos esconder? Correndo risco ou não? Poderia ter outro jeito, sei que teria, mas não, a mentira venceu, a empresa venceu, a carreira dele venceu.
— Não somos mais importantes do que a carreira dele. — sussurrei chorosa entre os cabelos de Yuri e adormeci com os piores sentimentos do mundo.

Yuri que me acordou dessa vez, ele tinha na mão um pacote de biscoito nas mãos.
— Omma, abre para mim?
— Claro, meu amor. Desculpa, a mamãe dormiu demais? — Ele negou com a cabeça. — Você é um príncipe, meu amor. Vou fazer algo melhor do que abrir esse pacote, o que acha de comermos o seu lanche favorito?
— EBA!! — Ele sorriu e largou o pacote.
O seu sorriso era tudo o que eu precisava.

Enquanto Yuri se acabava no lanche, observei o número na mesa, ainda era o mesmo, eu sabia aqueles números de cabeça, Sua letra também, permanecia o mesmo. Será que ele ainda era o mesmo?
Apesar de tudo, eu sabia porque tinha me apaixonado por ele e os melhores momentos agora pareciam ser maiores do que nossos problemas. Olhei para Yuri e percebi as semelhanças que eu tentava ignorar, ele não poderia parecer fisicamente como Carlos, mas as suas caretas eram idênticas.
Decidi pela primeira vez abrir e pesquisar sobre o ocorrido nos fóruns dos fã-clubes e redes sociais. Era difícil ler cada um dos comentários. Xingamentos, risadas, xenofobia e mais um monte de coisas que evitei o máximo todos esses dias, mas nada pesava mais do que ler que Taemin jamais ficaria com uma pessoa como eu, que elas deviam ter pensado mais porque era óbvio demais. Eu não era o suficiente para um homem como ele e com isso, várias fotos dele com outras garotas, uma inclusive que todas pareciam fazer questão de mostrar como eles eram perfeitos juntos... e realmente eram.

Elas estavam certas, quem eu pensava que era? O que passou na minha cabeça para achar que poderia ficar com Taemin? Ele era um como príncipe e eu, apenas uma qualquer. A vida não é um conto de fadas, então não poderia acreditar que daria certo.
Eu era muito estúpida mesmo.

— Yuri, meu amor, o que acha de visitarmos a vovó?
— Qual vovó?
— A vovó que mora muito longe, que sempre manda aqueles docinhos que você ama tanto.
— Doim?
— Esse mesmo. — Dei risada com a sua falta de jeito com o português.
— Queroooo!!
— Vamos arrumar nossas coisas, então?
— Mas e o appa?
— Appa está ocupado agora, então irá apenas você, eu e o amigo da mamãe.
— O moço feio?
— Ele mesmo.

— Tudo pronto? — Carlos ajudou a carregar as malas para o táxi. Yuri estava emburrado naquela manhã porque não dormiu o suficiente, passou a noite fazendo planos e tentando colocar todos os brinquedos dentro da mala para mostrar para a avó no Brasil.
— Quase. — Prendi o cinto de Yuri e beijei sua bochecha. Ele bocejou e resmungou. — Pode dormir, meu amor. A viagem será longa.
Deixei-os por um instante e junto com as chaves e a aliança, deixei uma carta de despedida. Eu o amava, mas não tinha como ter espaço na vida dele para nós. Era grata por tudo, e por isso, não ousei a levar do que ele havia nos dados, apenas roupas e nossos documentos.
— Adeus! — Tranquei a porta do lado de fora e nunca retornaria para aquele lugar que um dia amei chamar de lar.
Conforme o carro foi se distanciando, as minhas lágrimas se tornaram mais intensas.
"Espero que ele um dia me perdoe." Era só o que eu podia pedir.

Não tinha imaginado voltar para aquela casa. Tudo estava do mesmo jeito que deixei. Era estranho, o ambiente não era acolhedor como costumava ser, pelo o contrário, era como se fosse um lugar totalmente desconhecido.
— Só vou pegar algumas coisas e já te encontro. — disse para Carlos que esperava na porta. Ele então me deixou sozinha para pegar os meus pertences mais importantes. No caminho, Carlos me convenceu que a melhor coisa seria vender todos os móveis e a casa, não teria porque vivemos em um lugar onde sabia que poderia ser um risco. Alguém poderia vazar o endereço e seríamos encontrados, e ele tinha razão, agora seria eternamente marcada, então tinha que evitar o máximo possível.
Moraríamos juntos em um apartamento que Carlos disse ter comprado no período em que estivemos separados. Não era muito grande, mas pelo menos tinha outro quarto e não precisaremos dormir todos no mesmo quarto.
— Bem-vinda ao seu novo lar. — Carlos parecia animado, mais do que era comum de ver. — Você vai ver, tudo vai ser melhor dessa vez.
— Espero que sim.

Os primeiros meses juntos foram incríveis, mesmo que não tenha feito o meu maior propósito que era ficar com a minha mãe, senti que poderia ficar calma e tranquila, já que Carlos estava sendo o melhor do mundo. Dormíamos em quartos separados, eu ficava com Yuri e Carlos no quarto ao lado, e isso só me deu mais espaço para ficar confortável.
Todos os finais de semana saímos para passear no parque próximo e, para minha surpresa, ele era totalmente rendido a Yuri. Eles brincavam até anoitecer. Ele até mesmo ensinava o português para Yuri enquanto jogavam futebol. Fiquei surpresa ao descobrir que meu garotinho tinha talento para o esporte.
— Tal pai, tal filho. — Carlos piscou quando Yuri fez o primeiro gol de sua vida.
Aos poucos ele o conquistava.
Como forma de proteção, Carlos achou que era melhor que eu não ficasse com o celular conectado a internet, na verdade, ele me deu um novo celular com outro número que só ele tinha.
— É apenas para te proteger.
E por isso nem internet tínhamos em casa, mas não poderia reclamar, com isso, poderia dedicar todo o meu tempo com Yuri.

A paz reinava todos os dias naquele apartamento, até mesmo quando Carlos conseguia um emprego melhor e com isso, nos mudamos para um estado diferente, mas dessa vez para um apartamento melhor.

Cada vez mais o quarto de Yuri se encheria de brinquedos e teria que me mudar para o próximo quarto. Por sorte, dessa vez o apartamento tinha um quarto extra.

Carlos tentava se reaproximar, mas por mais que eu tentasse, não conseguia. Era como se houvesse um repelente entre nós sempre que ele se aproximava.
Não importava o que tinha acontecido, no fundo, eu ainda era de Taemin. Não havia uma noite sequer que acordava no meio da noite o procurando, ou chorando de saudade. Eu o queria mais do que tudo, mas não poderia tê-lo.
Pelo menos, Carlos tinha conquistado Yuri.

— Mamãe. — Yuri entrou no quarto e pulou na cama. Seu português estava bem melhor. Talvez fosse hora de ir para escola.
— Sim, meu amor? — Eu estava sentada na cama tentando desenrolar um de seus brinquedos de corda.
— Eu estou com saudade do papai. — Confessou triste de voz baixa.
— Eu sei, eu também. — Acariciei seus cabelos pretos e sorri. — Mas quer saber de uma coisa? Acho que aqui é bem mais legal.
Ele torceu o nariz me fazendo rir.
— Prefiro o papai Taemin, por que não podemos voltar?
— Porque é muito perigoso, e também o seu papai Taemin precisa focar na carreira dele, e não dá para ele cuidar da gente.
— Eu posso cuidar do Yuri sozinho. — disse confiante.
— Ah, é? E se o monstro das coceguinhas aparecer?
— NÃO!! — Ele fugiu e entre as risadas, comecei a chorar.

Shine - TaeminOnde histórias criam vida. Descubra agora