Estava sonhando, era isso, era tudo um sonho ruim, um pesadelo.
Pisquei várias vezes e disse para mim mesma mentalmente acordar.
"Acorda, acorda, acorda".
— Quanto tempo, querida. — A voz de Carlos fez com que eu saisse do transe e olhasse para o seu rosto nitidamente.
— O que você está fazendo aqui? — A minha voz falhou.
— Você está bem? Parece que viu um fantasma. — Ele riu quando passou pelo meu corpo imovel e entrou na casa.
— Você é o fantasma. De novo, o que está fazendo aqui?
— Olha, eu sinto muito por tudo...
— Sente? Ok, agora pode ir embora da minha casa. — Abri mais a porta para fazer com que ele entendesse e desaparecesse, assim como já tinha feito antes. Ele continuou parado no meio da sala, e decidi que eu teria que tirá-lo dali, então quando o segurei pelo braço, Yuri apareceu sonolento e nos encarou.
— Omma, quem é esse homem?
— Ninguém, meu amor, volte para o quarto que mamãe já volta. — Tentei esconder o meu nervosismo, mas não pude evitar quando Carlos soltou o seu braço da minha mão e foi até Yuri.
— Olá, grandão, você entende português?
— NÃO CHEGUE PERTO DO MEU FILHO! — Corri e peguei Yuri antes que Carlos pudesse se aproximar dele. Yuri claro se apavorou e se agarrou em meu pescoço.
— Ele é mau? — perguntou choroso em meu ouvido.
— Está tudo bem, ele é um velho amigo da mamãe.
— Por que está na defensiva comigo, Heloisa? Parece que sou um monstro.
— E você é.
— Sou?
— Carlos, o que você quer? Pelo amor de Deus, por que você está aqui na Coréia do Sul? Qual é a sua?
— O garoto não entende mesmo o nosso idioma?
— Um pouco, não é como se ele precisasse falar português o tempo todo.
— Ótimo, enfim, podemos conversar? Decentemente/?
— Assim como quando você decidiu que não queria mais uma família e foi embora?
— Olha, você não sabe o que estava acontecendo...
— E você sabe o que aconteceu comigo?
— Agora eu sei, graças a internet.
— E o que a internet diz é verdade? Desde quando? O que mais existe é fake news nesse mundo.
Ele riu.
— Tudo bem, você está certa, mas eu te conheço muito bem, Heloisa e sei saber a diferença entre a mentira e a verdade.
— E o que você acha que sabe? Hein? Me diga!
— Podemos conversar apenas nós dois? O garoto nitidamente está assustado e não quero que ele tenha uma má ideia de mim.
Bufei
— Como se ele não teria se soubesse a verdade. Só me dê um momento, e não mexa em nada, se ousar, eu chamo a polícia, essa casa pode parecer inofensiva, mas o que mais tem é segurança.
— Oh! Pode ficar tranquila, vou sentar aqui e esperar. — E foi o que ele fez, sentou-se no sofá e ficou olhando em volta.
Entrei no quarto de Yuri e o coloquei na cama. Ele chorava em silêncio. Tive que beijar a sua testa e sorrir.
— Está tudo bem, meu amor, não precisa ficar com medo.
— Ele é igual aquelas mulheres que queriam me pegar?
— Claro que não, aquelas mulheres estão bem longe daqui, não precisa ficar com medo, mamãe sempre vai te proteger, mas agora preciso conversar com aquele moço, você consegue ficar aqui quietinho? — Ele concordou. — Então, se por acaso, você ver alguma coisa estranha, sabe aquele botão que a mamãe deixou escondido?
— Sim, debaixo da cama do Yuri.
— Exatamente. Você pode apertar e se esconder, ok?
— Mamãe vai ficar bem?
— Sim, meu amor. Agora, por que não assisti seu desenho favorito? — Ele sorriu e pulou para pegar o seu tablet.
Deixei-o sozinho e tranquei o quarto pelo lado de fora. A chave escondi dentro do lustre mais próximo. Poderia estar exagerando, mas não era incomum acontecer de pais roubarem e sumirem com os filhos. Ainda mais agora que o rosto dele estava em todo o mundo.
Quando voltei, Carlos ainda estava no mesmo lugar.
— Mais calma?
— Apenas quando descobrir o que veio fazer aqui.
Ele respirou fundo e bateu no espaço ao seu lado. Sentei no outro sofá.
— Está bem, é justo. Fiz por merecer.
— E?
— E estou arrependido.
— Está um pouco tarde demais para isso.
— Eu sei, mas quando vi sua foto rolando para todos na internet, fiquei preocupado. Precisei de ajuda para entender o que estava acontecendo. Não sei se viu, mas...
— Fique tranquilo, eu estou segura aqui.
— E Yuri?
— Principalmente ele.
— Que bom, fico aliviado em saber que estão bem.
— Como conseguiu esse endereço?
— Sua mãe me passou.
— Minha mãe? Por que ela faria isso?
— Ela está tão preocupada quanto eu.
— Ela deveria falar comigo e não com você. Isso é uma idiotice.
— Heloisa...
— Olha, Carlos, obrigada pela preocupação comigo e com meu filho, mas estamos bem, não precisamos de qualquer ajuda agora. Você deveria ter pensado nisso antes, quando nos abandonou.
— Eu não fiz porque queria, eu estava apavorado...
— APAVORADO, E O ESTAVA O QUE? CALMA.
— Não precisa gritar. — Pensei em Yuri no quarto e respirei fundo, mas mantive a voz dura. — Você me deixou sozinha e grávida, você sabe como foi péssimo ter que lidar com a sua partida repentina e a gravidez? Eu estava no inferno, tive sorte que alguém cuidou de mim.
— Que nem está cuidando agora? Eu não bobo, Heloisa. Ou aquele cara que aceitou aquele divulgar aquela mentira é tão melhor do que?
— Pode ter certeza que é sim.
— Sério? Ele deixou outro ser o pai de Yuri diante da mídia.
— Ele não tinha escolha.
— Não? Tem certeza?
— Sim.
— Olha, Helo, eu tive muito tempo para pensar e quando percebi, você tinha partido, não tive como te encontrar, esses anos que perdi do nosso filho foi muito difícil e quando vi o nosso garoto, eu soube que realmente queria fazer parte da vida dele, na verdade de vocês... — ele respirou fundo e segurou a minha mão. — Eu ainda te amo, Heloisa, que viajei o mundo para poder te dizer isso, que quero você de volta. Eu quero a nossa família.
— Está um pouco tarde para isso.
— Eu sei, mas se puder considerar um pouquinho, se não quiser ficar comigo, vamos voltar para o Brasil comigo, por favor? Estamos todos preocupados com vocês e sinceramente, passar por tudo isso sozinha, não é o melhor.
Um bolo se formou em minha garganta, não poderia dizer nada, se falasse, eu poderia chorar.
— Não precisa dizer, eu vejo em seus olhos. — Ele ainda tinha o poder de ler a minha mente. — Pense com carinho, não precisa responder agora, estarei na espera.
— E se a resposta não vier?
— Espero o tempo que for. Vou deixar o meu telefone aqui na mesa se quiser entrar em contato comigo. — Carlos beijou o alto da minha cabeça e partiu.A primeira atitude que tomei foi destrancar a porta do quarto de Yuri e vê-lo dormir enquanto Pororo rodava sozinho no aparelho. Suspirei de alívio, não queria ter que lidar com tudo aquilo agora, se Yuri tivesse acionado o botão, seria só mais uma para me preocupar. Desliguei o desenho, o ajeitei na cama e o aninhei no colo.
Senti o coração pulsando forte agora que estava segura novamente. Ou nem tanto. Se Carlos conseguiu o endereço dali, quem mais poderia conseguir? Suspirei e abracei meu filho mais um pouco.
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Shine - Taemin
FanfictionOnde uma mãe solo e de primeira viagem conhece alguém que vai mostrar que as vezes, pode valer a pena confiar novamente. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀♡♡♡ ‹ OBRA ORIGINAL. PLÁGIO É CRIME! › 2021