epílogo.

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📍julho de 2021.
Lisboa, Portugal.

Os versados dedos que fricionavam levemente a extensão das costas expostas de Mariana provocaram o seu progressivo despertar e um involuntário sorriso irrompeu nos seus lábios para ficar, ao recordar os, sempre, especiais acontecimentos da noite anterior e o responsável por aquelas aprazíveis carícias.

Já disse, hoje, que te amo? — Aquele roufenho timbre de voz penetrou-lhe a membrana timpânica e o seu mostrar de dentes amplificou.

Não, mas podes já começar a dizê-lo porque eu adoro ouvir-te fazê-lo. — A mais velha de três irmãos replicou, rodando a sua nua fisionomia e consumando consequente contacto visual com o português, que já a deslumbrava com uma expressão facial que transportava paixão e devoção para com aquela relação.

O patentear de tais sentimentos no atraente semblante do benfiquista rendeu-lhe um beijo que o próprio tomou a iniciativa de, no imediato, aprofundar.

Para que foi isso? Não que me esteja a queixar. — O moreno da Amadora gracejou, após a carência por ar os coagir a recuar. O másculo polegar deslizou suavemente pela extensão da sua bochecha, provocando o automático enrubescer da mesma.

       — Porque vou ficar, outra vez, sem ti mas, agora, durante muito mais tempo. — Num — quase — inaudível volume, a polícia de segurança pública confidenciou, evadindo-se ao apaixonante castanho do amado, por conhecer que aquele procurava por contacto ocular.

       O antigo capitão dos diversos escalões de formação da instituição objeto de fundação por Cosme Damião já havia pisado, numa primeira vez, Terras de Sua Majestade, para lhe ser exequível proceder à redação da sua assinatura no contrato profissional que possuía como contraparte o Manchester City Football Club, bem como à sua acomodação, não só à instituição como aos seus mais recentes colegas de equipa mas, igualmente, à cidade e às condições de vida proporcionadas, com a seleção de uma habitação, a organização e disposição da mobília e utensílios naquela e um mais profundo conhecimento da metrópole que, a partir de então, seria a sua morada de residência. Havendo sido a segunda viagem de ambos, na companhia somente um do outro, o casal usufruiu dos momentos solitários, não só para aventurar-se pelo desconhecido mas, sobretudo, para se permitirem conhecer, mais profundamente, ao que eram, não só sozinhos como e, principalmente, juntos, pelas mais mais diversas formas.

       Contudo, aquela renovada necessidade de partir por parte do lampião, a partir de então somente de coração, era justificada pela iminente preparação para a época desportiva, cujo pontapé de saída assinalar-se-ia no mês seguinte, pelo que Mariana já não mais poderia desempenhar o papel de acompanhante, visto que a própria possuía os seus compromissos profissionais e a azáfama rotineira em território português.

      — Vai passar rápido. — O único irmão de Ivan buscou apaziguar a profunda tristeza da apaixonada. — Prometo que vou tentar voltar a Portugal, logo depois do Natal. — Acrescentou, realizando uma promessa que empregaria a integralidade das suas diligências para cumprir, pois só naquele período, o calendário desportivo da instituição que o empregava viabilizava um retorno às origens.

       — Mas ainda falta tanto para o Natal, Rubs. São cinco meses. Não sei se aguento. — Os seus dentes contundiram o seu lábio inferior, provocando, até, a expulsão de sangue, cujo percurso da gota foi, imediatamente, interceptado pelo polegar do jogador. Todavia, fora a única forma que a polícia de segurança pública desvendara para preservar cativo o choro preso na garganta e as lágrimas amontoadas na resplandecente tonalidade das suas íris. — Só me apetece largar tudo e ir contigo.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora