vigésimo-terceiro capítulo.

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As azuis íris da agente de autoridade fixavam a janela de conversa, da rede social e de comunicação do WhatsApp, que possuía com a ruiva Mariana, enquanto procediam à leitura da última mensagem de texto remetida pela estudante do ensino superior — e que solicitava por um encontro, para que as mais recentes amigas pudessem partilhar uma conversação, uma vez que não se haviam mais contactado, após a faialense de coração a haver confrontado com a doença que vitimava a de fios amarelo-avermelhados, e esta última ter se evadido, não obstante, patenteado o seu ressentimento para com a constatação da agente de autoridade.

       A mais velha de três irmãos já tinha procedido à interpretação daqueles vocábulos — enviados na anterior noite e já num horário avançado —, por indefinidas vezes, procurando a certeza do que era exibido no visor, antes de avançar. Eram sete os dias desde o precedente ajuntamento entre as mais recentes amizades e a lisboeta conhecia que existia um assunto pendente que, pessoalmente, encontrava-se ávida para solucionar. Queria possuir infalível convicção de que a de cabelos de uma cor incomum lhe ofertaria o seu perdão. E ela lutaria por ele.

Onde vais? — O grave timbre de Mateus penetrou-lhe os tímpanos, cativando a sua atenção, até então disposta no processo de fechar o quente casaco, e que lhe concederia a devida, e almejada, proteção face às cortantes temperaturas exteriores que imperavam na, sempre, bonita "menina e moça".

Vou encontrar-me com uma amiga... — Proferiu, enquanto conduzia o fecho até à extremidade, próxima do seu pescoço. — E tu, o... — Aprontava-se para questionar-lhe acerca dos seus planos, contudo, assim que as suas órbitas moverem-se para o irmão, a posição em que o próprio se apresentava era uma nítida resposta à questão que, na realidade, nem chegaria a dirigir-lhe. — Meu Deus, Teus', tu acabaste de lanchar há, relativamente, pouco tempo! — Exclamou, ao observá-lo degustar uma fusão de bolacha Oreo, fragmentada em diversos pedaços, com iogurte grego. — O que raio já fizeste às duas sandes com Nutella e ao batido de frutas que tão, prontamente, devoraste? — Manifestamente indignada, pela insigne capacidade que o de vinte e uma primaveras possuía para estar, de modo constante, a saciar o seu, aparentemente, insaciável apetite, inquiriu, ao mesmo tempo que resgatava a chave que permitiria a abertura de portas do automóvel sua propriedade.

Já foram para dar lugar a outro. — Desconsiderando a reação da irmã, e que não era exclusiva daquela, acerca da sua incomparável aptidão para comer, replicou, conservando o seu foco no amplo ecrã da SmartTV— que exibia uma qualquer disputa relativa ao desporto-rei, no canal televisivo dedicado, também, a essa modalidade e para cujo pagamento da mensalidade, Mariana contribuía, apesar de não fazer uso da estação, pois Mateus havia acordado contribuir para o provento da ElevenSports, uma vontade da surfista, uma vez que aquele último era responsável pela transmissão da Fórmula 1, um dos desportos prediletos da do sexo feminino. — E olha, por falar em lanche, o que é feito dos restantes Jesuítas que estavam no frigorífico? Tinha mais. — Diante da interrogação, dotada de uma leviana acusação, a neta dos brasileiros Isaac e Manoella engoliu em seco, rememorando a última vez que tivera com o prodígio vermelho e branco, o real remetente da tradicional doçaria faialense.

Levei para o Fortuna. Sabes como ele os adora e, jamais, iria perdoar-me se não o tivesse feito. — Por intermédio da artimanha da mentira, e determinando que o forte companheirismo e ligação que partilhava com o, também, amigo e colega de trabalho teria de cobrir a verdade oculta, ainda que ciente sobre o melodrama que o adepto leonino protagonizaria, após conhecer que a polícia havia concebido como proprietários os desejos de outrem, que não os seus. — E, mais, já provei os novos sabores natalícios do Starbucks. — Diante do fulminante olhar que o do sexo masculino lhe endereçou, a morena liberou uma fraca risada, consecutiva de um sorriso povoado por um nítido remorso. — A culpa é do Fortuna. — Foi veloz a acrescentar, mais uma vez, direcionando a responsabilidade para o sportinguista, encontrando nele o refúgio de que carecia para mascarar o que, verdadeiramente, havia ocorrido.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora