vigésimo-segundo capítulo.

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Após remeter a comunicação escrita para o irmão de Ivan, Mariana abandonou a comodidade proporcionada pelo colchão, encaminhou-se na direção do guarda-roupa, de onde recolheu os seus ténis Nike Running — e os que utilizara naquela tarde, bem como aquando da prática de exercício físico com Rúben na Ilha do Faial —, e desocupou o seu espaço pessoal, jornadeando na direção do divisão idónea à confecção, e consequente degustação, de cada refeição, com o intento de ingerir um copo de água, antes de conduzir rumo à Costa da Caparica, mais concretamente, à praia da Fonte da Telha, naquele que era o refúgio de cada um, e que se havia convertido no porto seguro dos dois.

Enquanto depositava o líquido no interior do vidro, o seu azul cativou a figura do frigorífico e, ao rememorar o que residia na parte interna do eletrodoméstico, um sorriso rompeu nos seus lábios e, automaticamente, os seus pés moveram-se na orientação do objeto, resgatando as amostras do típico doce faialense — o Jesuíta —, e que deliciara o antigo capitão dos diversos escalões de formação do clube fundado por Cosme Damião, e que fora oferte pelos avós maternos, na curta visita do casal brasileiro a território continental — mais objetivamente a Carnaxide —, com o propósito de Isaac ser submetido a exames de rotina, que lhes concedessem precisa informação sobre o presente estado do problema cardiovascular que o vitimava. Extraiu três porções do doce, guardando-os numa caixa de cartão e realizou o caminho inverso, dirigindo-se para o corredor que antecipava a porta de entrada do lar, a fim de resgatar o casaco desportivo pendente no bengaleiro e, finalmente, retirou-se, posteriormente ao processo do trajar do mesmo, fazendo uso da escadaria do prédio, uma vez que a sua familiarização com a realidade da claustrofobia vedava à utilização dos aparelhos mecânicos que transportavam os indivíduos por entre os diversos andares dos prédios.

Num itinerário que, pela ausência de congestionamento de trânsito, bem como pelo exíguo número de veículos em circulação nas vias de comunicação terrestres, revelou-se tranquilo e breve, Mariana alcançou o seu rumo definitivo, cruzando-se com o sumptuoso e desportivo automóvel do profissional de futebol, no momento em que imobilizava o seu num dos espaços vagos, passíveis de ocupação. Um tímido sorriso ornou os seus lábios e, empregou a integralidade dos seus esforços, com o intento de conservar uma postura neutral e dotada de uma indiferença que, certamente, no que a Rúben Dias dizia respeito, a polícia de segurança pública não detinha.

Não estava à espera. — Com humor imprimido no seu rouco timbre de voz, o irmão de Ivan proclamou, indicando na direção da objeto quadrado, e de cartão, que a lisboeta firmava na sua mão.

Posso dizer o mesmo. — Numa imediata réplica, a morena redarguiu, meneando no sentido dos dois copos, alegóricos ao café Starbucks, que o colega de posição tática do internacional belga, Jan Vertongen, segurava em sua posse. — Se o meu irmão sabe que eu já bebi os cafés da versão natalícia do Starbucks quando o prometi fazer com ele, mata-me. — Numa nítida hipérbole, na companhia da diversão, aditou, rememorando a anterior noite quando, o apetite saciado pela refeição do McDonald's, lhe havia incitado a recusar a bebida quente, alvo de fabrico e comercialização por um dos mais céleres estabelecimento comerciais norte-americanos, no quesito das cafeterias.

O teu irmão, o benfiquista? — Diante do imediato movimento positivo de cabeça por parte da jovem, o segundo rebento de Bernardete e João prosseguiu. — Se lhe disseres que o fizeste com o Rúben Dias estarás, automaticamente, perdoada, morena.

— Tens-te em muito boa conta, jogador. — Patentemente inábil a camuflar o seu enfado pela presunção expressa pelo natural da região lisboeta da Amadora, a faialense de coração pronunciou, consecutivo de um profundo torcer do seu sublime azul claro, quase passível de distinção por entre a escuridão, de tão resplandecentes que eram.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora