décimo-segundo capítulo.

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       O relógio digital, encerrado no visor do dispositivo electrónico de Mariana, exibia um horário próximo da uma da manhã e a morena de natural da cidade confrontava um árduo labirinto, que escondia o sono que ela desejava mas que, por sua vez, se manifestava incapaz de encontrar. Refreou um pesado suspiro e o seu azul cativou a pouco nítida figura da cama de solteiro, aquela onde deveria estar mas que, na realidade, não estava e algo lhe dizia que não mais, nela, iria pousar.

Um inesperado afago no seu liso ventre, pela grande mão que ali pousava, provocou-lhe um ligeiro sobressalto e transportou-a à conclusão sobre o facto de Rúben se encontrar desperto quando deduzia que estivesse entregue a um profundo descanso.

       — Merda, acordei-te? — Inábil a camuflar o remorso no seu reduzido tom de voz, a polícia de segurança pública questionou o talento futebolístico, enquanto, tímida e lentamente, girava a sua nua fisionomia na direção oposta, àquela que naquele momento se situava, de modo a acomodar-se em posição frontal ao colega de posição tática de Francisco Ferreira, embora a — quase — escuridão em que o espaço se encontrava mergulhado vedasse a uma distinta visão do segundo rebento de Bernardete e João que, ainda assim, conservando-se de pálpebras cerradas, trajava um fraco sorriso no rosto mas um incomensurável desejo de a fazer, novamente, sua.

       — Não, eu já estava acordado. — O internacional português optou por proferir, equivocando-a, uma vez que o real motivo do seu súbito despertar residia na inconsciente agitação que a circundava, e que o próprio buscava compreender. Todavia, o roufenho timbre da sua voz denunciou-o.

Ainda que envoltos na ausência de um nível suficiente de luminosidade, que viabilizasse um firme e total contacto visual, o antigo capitão dos diversos escalões de formação do clube fundado por Cosme Damião procurou intensificar a conexão dos seus corpos, atraindo-a para o seu atlético peito, sem qualquer constrangimento da parte dela.

Se eu tivesse sabido, antes, que esta cama era tão confortável como, agora, sei, nunca a tinha recomendado para ti. — Numa sentença amortecida, pelo facto de a do sexo feminino haver ocultado o seu rosto na curvatura do pescoço de Rúben, a própria proferiu, em tom de comentário, e que foi a principal causa da gargalhada que se evadiu por entre os lábios do nascido no mês de maio do ano de noventa e sete, e que a contagiou.

E porque não? Como podes ver, tem espaço suficiente para os dois. — O camisola seis redarguiu, enquanto os seus lábios friccionavam levemente a pele exposta do ombro da agente de autoridade que, quando perante o lascivo gesto do central, e claramente indicativo dos seus reais desígnios, susteve a sua respiração.

       — Sabes, mesmo, como ser insaciável, não sabes? — Recreada com a agitação, e provocação do moreno da Amadora, a de azuis íris interrogou, envolvendo a sua perna esquerda ao redor da cintura de Rúben, de modo a impulsionar-se para o seu colo e, não só subjugar o corpo dele ao seu mas, igualmente, tomar o controlo do íntimo momento que protagonizavam.

       — Isso só porque és, naturalmente, irresistível. — E o irmão de Ivan compactuou com as intenções da, naquela circunstância, sua morena, erigindo o seu atlético tronco e embatendo os seus lábios nos dela, num eletrizante beijo, que acompanhou a total união dos seus corpos e, por isso, foi descontinuado, quando os automáticos suspiros de puro deleite se escapuliram por entre os lábios dos amantes.

       E, durante mais algumas horas, Mariana permitiu-se mergulhar na única onda onde, jamais, seria capaz de se equilibrar.

*

Daquela vez, o relógio exibia um horário prestes a atingir as quatro da madrugada quando Mariana, já fatigada daquela anómala dificuldade em dormir, determinou que era tempo de desocupar a comodidade proporcionada por aquele largo e cómodo colchão e ir encontrar a fresca brisa, que caraterizava aquela aurora.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora