oitavo capítulo.

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Como é que é possível? Passaram-se, apenas, alguns dias. — A apaixonada, e praticante, da modalidade do surf procurou refutar as palavras que havia acabado de escutar, mobilizando o argumento do tempo.

       Todavia, Rúben possuía outro. E mais forte. O da intensidade.

       — Gosto de acreditar que a intensidade dos momentos faz parecer insignificante o tempo dos mesmos. — Impugnou, em fim, restabelecendo a segura distância que, anteriormente, existia entre a dupla, permitindo que Mariana pudesse, finalmente, recuperar a sua insigne capacidade de encadear os pensamentos de forma lógica. No imediato, a do sexo feminino voltou a erguer o seu físico, daquela vez, deliberando desocupar o muro e fazendo desaparecer os vestígios de imundície que, por consequência do local que ocupava, se haviam aferrado às confortáveis leggings, de uma cor negra.

       Todavia, ao observar o seu relógio de pulso, que exibia um horário já idóneo à entrada do automóvel na embarcação, num ápice, desocupou a parede, caraterizada por uma frialdade que, até, lhe auxiliava a apaziguar o calor que o contacto próximo do jogador havia provocado por todo o seu ser, e alçou o seu azul na direção do porto, observando a fila — de dimensões exíguas —, de viaturas já alinhadas. Um suspiro, povoado pela frustração que sentia para consigo mesma, por permitir-se deixar-se levar, tão facilmente, pelas sensações proporcionadas pelo rapaz, escapuliu por entre as suas cordas vocais, colocando-o acautelado.

      — Queres que leve o carro e o estacione no interior do barco? — O antigo capitão dos diversos escalões de formação do clube fundado por Cosme Damião prodigalizou, no entanto, não evitando um breve (sor)riso, ao observar o lento anuir da jovem.

       — Se não te incomodar. — Empregando a integralidade dos seus esforços, com o intento de conservar cativa a sua timidez, a apaixonada pela modalidade do surf murmurou, sendo aquele comedido pedido de auxílio incitado pelo facto de ser a primeira vez que a primogénita dos Vilela transportaria a sua viatura numa viagem, nunca, antes, o tendo realizado e, por isso, ligeiramente, desconfortável para conduzi-la para o interior do barco, sobretudo, quando existiam outras, o que impeliria um redobrado cuidado.

Não tenho qualquer problema. — De imediato, e confortável com a sua condução e domínio de um automóvel, ainda que não fosse o seu, o natural da região lisboeta da Amadora replicou, enquanto, também, desocupava a parede. — Preferes ir andando, uma vez que já existem viaturas, ainda que poucas, a aguardar? — Diante da interrogação, e igual sugestão, do prodígio benfiquista, a agente de autoridade compactuou, através de um movimento positivo de cabeça.

       Trocaram, então, os assentos e Rúben ocupou o do motorista acionando, consecutivamente, o sistema do Renault, através do botão próprio a essa função, e que tornava dispensável a utilização de uma chave, transportando-os para o quinto lugar da fileira, e alcançando-a no exato momento em que o funcionário concedia a devida autorização à entrada do automóvel que liderava os restantes. Depois do acesso do primeiro, seguiram-se os outros, até o casal deter a sua oportunidade, com Rúben a escutar, atentamente, as instruções do assalariado, harmonizando com as mesmas e, igualmente, expressando a sua gratidão, antes de imobilizar o veículo na vaga que lhe havia sido indicada.

       Durante todo o processo, Mariana não evitara atentar o perfil concentrado do futebolista, e a segurança com que refreava o volante, e, consequentemente, conjecturar um cenário em que o camisola seis faria um usual, e voluntário, uso do seu carro, quando se encontrassem para desfrutar dos tempos livres na companhia um do outro. Ou seja, uma realidade em que Rúben Dias era uma assídua presença na sua vida. Involuntariamente, movimentou negativamente com a cabeça, como forma de afugentar tão incoerente, e longínquo, panorama.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora