"Mar', és a rapariga pela qual o Rúben se apaixonou nos Açores, não és?"
A interrogação ressoava-lhe nos seus tímpanos, o sangue ribombava os seus ouvidos e o choque violentava com um maior nível de intensidade o turbilhão de cada emoção que lhe trespassava a integralidade do ser, toldando-lhe a habilidade para projectar a sua voz e responder.
— Eu... — Procurou exercer uma qualquer reação, mas a mesma não surgia por intermédio de não importa qual modo.
O abalo emocional que a torneava obstruí-a de conservar a sua postura serena e, quase, inquebrantável. Sentia-se quebrada, e conhecia que o estava.
Vagarosa mas, sobretudo, apreensivamente, o azul das íris da polícia de segurança pública elevaram para as verdes da aspirante a profissional no universo da saúde, desvendando nas desta última o conhecimento da verdade. Mia sabia. Os seus olhos suplicavam somente pela verdade admitida pela boca de uma das partes daquela história. E Nana' encontrava-se, perfeitamente, ciente de que não podia mentir. Pelo menos, não mais do que já o havia feito. Era tempo de despojar-se da cobardia através da qual jamais almejara revestir-se e proteger-se com.
— Desculpa, Mariana. — A mais velha de três irmãos apresentou o seu genuíno perdão, apesar de possuir a consciência de que era em completo vão. Estava concretizada uma indesejada destruição a alguém que não era merecedora de outro quebrar de coração. Optou por evocá-la mediante o seu nome próprio, exatamente, por já não conhecer se a visada estava confortável para ser denominada pelos carinhosos agnomes que haviam surgido no decorrer daquela genuína união e confidência, e que a primogénita de Pedro e Luiza deduzia já não existir.
— Não tens que pedir desculpa, Mar'. — A réplica da integrante do curso de medicina na NOVA Medical School, sediada na cidade capital, provocou-lhe incomensurável surpresa, exatamente, por expectar uma reação que se concretizasse num acesso de cólera e na manifestação de um nítido ressentimento, e que seria, completamente, compreensível, considerando as circunstâncias. Todavia, a expressão facial da dotada de uns fios de uma tonalidade incomum era habitada pela sua tão caraterística tranquilidade, ainda que a irmã de Mateus pudesse jurar que uma comedida mágoa ali se encontrava para ficar.
— Porquê? Claro que tenho, Mia. — A iniciativa da companheira romântica de Rúben em a evocar pelo carinhoso epíteto incitou-a a corresponder ao gesto, retornando com a utilização do agnome com que, usualmente, a invocava. — Porque é que não estás a gritar comigo e a dizer-me que eu fui uma cabra? Porque é que não estás, neste momento, a odiar-me? Eu odiar-me-ia. — A apatia e a ausência de uma qualquer explosão de emoções por parte da futura médica instigaram-na a interrogar e procurar saber.
— Porque o papel fundamental que desempenhas na minha vida e o quanto eu te adoro enquanto irmã que nunca tive é mais forte do que qualquer ódio que eu poderia ter por, supostamente, me teres tirado alguém que, na verdade, há muito tempo que não me pertencia. — O volume da sua voz era diminuto mas, perfeitamente, inteligível diante da previsível desocupação que demarcava o areal, por consequência do horário precoce, uma vez que as temperaturas exteriores e o término dos respetivos horários de expediente invitam a um contacto com o mar, e às vantagens inerentes a isso, somente no período da tarde.
— O Rúben não tem a culpa sozinho, Mia. — Demovida pelos profundos sentimentos que nutria pelo capitão sem braçadeira, procurou protegê-lo com a veracidade.
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Morena | Rúben Dias
FanfictionOnde Mariana reencontra o amor que nunca lhe souberam mostrar nos braços do rapaz que, de melhor, o soube dar. "Ela é sol, é verão É poema, é canção que alegra o meu coração Morena, me encantei com o seu jeito de olhar"