terceiro capítulo.

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Vais, finalmente, explicar-me toda a tensão sexual, e não só, que, durante todo o tempo na companhia daquele gato, partilhaste com ele? — A súbita entrada de Matilde no seu espaço pessoal, provocou em Mariana um ligeiro sobressalto, face ao facto de a morena encontrar-se concentrada na missão de passear o pente pelos seus, ainda humedecidos castanhos fios, após o prolongado, mas merecido, banho.

       — Oi? E a educação e privacidade a que cada cidadão tem direito ficaram onde, moça? — Censurou a ausência de um pedido de autorização para penetrar a parte interna do aposento, conquistando como imediata reação, o profundo torcer do verde da futura universitária. — E o que sabes tu acerca de tensão sexual, criança? — Escarneceu a aspirante a profissional no universo jurídico, sendo brindada com o dedo do meio da mais velha, que encontrou a comodidade proporcionado pelo colchão.

       — Mais do que aquilo que pensas, Mar'. — A sentença por parte da de dezoito primaveras, cativou a totalidade da atenção da polícia de segurança pública que, apenas, através do olhar, demandou por uma, mais profunda, elucidação. — O quê? Eu optei pela educação sexual durante o ensino básico e, apesar de conservar a minha virgindade, não significa que seja leiga no que ao tema tabu do sexo diz respeito. — Sem qualquer resquício de recreio na característica suavidade do seu tom de voz, o rebento mais novo dos Vilela proferiu.

       — E concordo, plenamente, que se instrua os jovens acerca da sexualidade, de verdade, sobretudo, porque são experiências que eles, cada vez mais, tomam a decisão de ter o mais rápido possível e, por vezes, erradamente. — A de vinte e três primaveras verbalizou, enquanto abolia o espaço disponível entre ambas e colocava-se confortável à ilharga da finalista do ensino secundário. — Só não desejo que cometas um erro, do qual te arrependerás para o resto da tua vida, incitada pelas mais precoces experiências das tuas amizades, opiniões de outrem, entre outro. Cada um é detentor do seu próprio relógio. Não queiras viver no tempo dos outros. — Não desperdiçou a oportunidade para, sabiamente, aconselhar, rememorando a sua imprudência, aos dezassete anos de idade, ao envolver-se com um rapaz, por quem nutria uma forte paixoneta, e que, no dia seguinte à consumação do ato sexual, divulgara sobre o "inédito feito", palavras do próprio, de haver desflorado a "rapariga mais inalcançável da escola", mais uma vez, declarações da personificação da idiotice e imaturidade.

       — Tu és das pessoas que, melhor, me conhece, Mar'. Estás, perfeitamente, consciente que a minha caminhada não se faz com outros passos, que não os meus. — Diante da firme réplica de Matilde, a morena esboçou um sorriso, povoado pelo orgulho, e atraiu aquela que, independentemente de tudo, seria, sempre, a sua protegida, para um fraternal, e sentido, abraço.

       — E é por essa razão, de entre tantas outras, que és um dos meus maiores orgulhos. E é um prazer ver-te, tão bem, crescer e tornar-te neste mulherão da porra. —  A apaixonada pela literatura e pela sétima arte liberou uma gargalhada, intensificando o aperto que partilhavam.

       — Mas, vá, não procures escapar à conversa, que isto não é sobre mim. — A futura jurista, logo, recuperou o tema, anteriormente, objeto de discussão, despontando o aborrecimento do membro da força policial, que caminhou para a outra extremidade do espaço, de forma a escapar de uma, certa, pressão visual da irmã.

       — Seguramente, não é sobre mim, também. — Mariana redarguiu, enquanto introduzia os pés nas suas havaianas, de uma cor branca, e resgatava o seu dispositivo electrónico da superfície da mesa de cabeceira, com o intuito de visitar as páginas principais das diversas redes sociais, em que se encontrava inserida, apesar de fazer um invulgar uso das mesmas.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora