— Não sejas chato, Mateus. — Mariana rezingou com o irmão, enquanto, através de uma ritmada marcha, minimizava o espaço disponível entre ela e a A Padaria Portuguesa, o seu rumo definitivo. — Achas que quero desfrutar da minha noite de folga num jogo de futebol? — Manifestamente inábil a camuflar o seu enfado, a agente de autoridade questionou os planos para aquela treva, destinada ao descanso e que coincidira com a do progenitor e, igualmente, com a do rapaz sito do outro lado da linha.
— Por favor, Mar', é a primeira vez em semanas, se não em meses, que a nossa folga coincide com a do pai e sabes, também, o quanto ele gosta de as aproveitar com um bom jantar e uma disputa de futebol. Sabes o quanto aprecia e vibra com o Benfica. — O nascido do ano de mil novecentos e noventa e oito mobilizou o argumento básico que, por sua vez, afigurava-se insuficiente para demover uma afirmativa réplica por parte da apaixonada pela modalidade do surf.
— Disso não tenho a menor dúvida, Teus'. O pai é tão apaixonado pelo desporto-rei e pelo clube e vê só que, mesmo assim, não entendo nada e, sobretudo, não procuro entender. — A do sexo feminino refutou, no decorrer do tempo em que desobstruía a passagem para o interior do estabelecimento comercial e, nele, penetrava. A contração do seu rosto afigurou-se obrigatória, assim que o seu azul claro cativou a grande afluência de pessoas, quer na ocupação das respetivas mesas passíveis dessa mesma posse, quer na considerável fila de espera ao atendimento. A característica impaciência da virginiana de signo suplicava-lhe que recuasse e renunciasse ao desejo de consumir o delicioso pão de ló da marca portuguesa, contudo, esse último era mais veemente e, por essa mesma razão, o membro da força policial colocou-se na retaguarda do último indivíduo na fileira.
— Sabes que ele, provavelmente, já comprou os bilhetes. — A constatação do fervoroso benfiquista provocou o involuntário bufar da neta dos brasileiros Isaac e Manoella, que conhecia a indefinida probabilidade de aquele facto já ser uma realidade. — Provavelmente só te ligará daqui a umas horas para que não tenhas margem para recusar o seu convite... — A moça vedou à prossecução do discurso do de vinte e um anos de vida.
— Convite não, obrigação, queres tu dizer. — Malograda por observar-se impelida a resignar a uma visita às ondas da Nazaré, as suas prediletas, Mariana retificou, sendo brindada com a escandalosa gargalhada do filho do meio. Aprontava-se para continuar a falar mas o alcance da sua oportunidade de proceder à solicitação pela refeição que desejava inviabilizou essa possibilidade e, por esse mesmo facto, a mais velha de três irmãos requereu que o apaixonado pela modalidade mãe aguardasse por alguns minutos, que albergaram a quitação do custo dos alimentos, bem como pela desalentada procura por uma mesa disponível, onde pudesse saborear o doce e o seu café Caramelo Macchiato, apenas encontrando um lugar junto de uma moça, aparentemente, concentrada no seu dispositivo móvel, não obstante os livros e o computador portátil dispostos em posição frontal à própria. Lenta, e até timidamente, a faialense de coração abeirou a jovem, inquirindo sobre a disponibilidade para ocupação do assento e, sobretudo, acerca do conforto por parte da estudante em partilhar o espaço com ela. Diante da imediata resposta afirmativa da estranha, a lisboeta expressou a sua gratidão e colocou-se confortável, antes de retomar o diálogo com o irmão, possuindo como primordial intento o de o findar.
— Olha, Mateus, já tenho o meu pão de ló e quero comê-lo descansada. Portanto, tudo bem, eu vou a esse raio de jogo de futebol... — A infantil comemoração do irmão fê-la remeter-se ao silêncio, ainda que por instantes, para que o jovem pudesse festejar. — Mas, tu pagas-me o jantar. — Impôs como condição, conquistando como imediata reação o recalcitrar do rapaz. — É pegar ou largar, Mateus Henrique. — Rematou, manifestamente, incapaz de conter o seu recreio pela puerilidade expressa pelo, também, agente de autoridade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Morena | Rúben Dias
FanfictionOnde Mariana reencontra o amor que nunca lhe souberam mostrar nos braços do rapaz que, de melhor, o soube dar. "Ela é sol, é verão É poema, é canção que alegra o meu coração Morena, me encantei com o seu jeito de olhar"