sexto capítulo.

616 34 40
                                    

       — Oi, planeta Terra chama Mariana Vicencia. — Diante da evocação por parte de Mateus, o irmão, a agente de autoridade foi alvo de um ligeiro sobressalto e, consequentemente, coagida a abandonar as suas reflexões intropectivas que, desde o surgimento de Rúben na sua vida, conservavam-na refém, com uma maior regularidade do que a desejada ou, sequer, expectada, exatamente, por serem, por inúmeras vezes, ocupadas pela figura do atraente jogador profissional de futebol.

       — Se tu me chamas, mais alguma vez, desse modo, eu torço-te o gargalo, Mateus Henrique. — Procurou intimidar o mais novo, por apenas dois anos, que perante a advertência, liberou uma escandalosa gargalhada.

       — Mas é esse o teu nome, não é, Vicencia? — Permanecendo envergado na armadura de truão, e que era característico da incrível personalidade que o moldava, o, também, membro da força policial prosseguiu com as provocações, conquistando como imediata reação o arremessar da havaiana, sita no lado de Mariana e pertencente à própria, na sua direção, e que, por consequência dos notáveis reflexos e concentração da atiradora, atingiu-lhe, certeiramente, na cabeça, o alvo da do sexo feminino, que não camuflou o seu satisfeito sorriso, quando o léxico de baixo calão escapuliu por entre os lábios do rapaz.

       — O almoço está pronto. — Enquanto acariciava o lugar, objeto de dano, com o intento de apaziguar a leviana dor e, sobretudo, o latejar que vivenciava, Mateus, em fim, justificou a invasão ao espaço pessoal da apaixonada pela modalidade do surf, com o anúncio que a própria almejava escutar, por virtude do considerável apetite que, de forma gradual, a assolava.

       — Tudo bem, estou a caminho. — Proferiu, após observar a caminhada do benfiquista em direção à porta de saída. Após encontrar-se, novamente, na sua própria companhia, a de ondulados e castanhos fios uniu as extremidades do enredo, sua leitura atual, e transportou-o de encontro à prateleira onde pertencia, embora já se houvesse abstraído do conteúdo da obra literária, muito tempo antes, quando o momento protagonizado por ela e o jogador, naquela manhã, lhe dominou os pensamentos e, de forma incessante, neles se reproduziu.

Havia sido significativo para a morena, sobretudo, porque se havia permitido revelar uma grande parte de si — e que era a sua relação com o mar.

Por pouco, não havia conhecido os lábios e, consequentemente, o beijo, dele. Todavia, deliberara recuar quando ainda permanecia apologista da ideia de que não se deveria precipitar. No entanto, nada lhe vedava de imaginar como o seria beijar e as sensações que, tão almejado, contacto — ainda que, por ela, evitado —, lhe iria proporcionar. Além disso, não sabia como o iria encarar, quando havia combinado de, depois da refeição, e de novo, com ele se encontrar para, alguns pontos da ilha, lhe poder mostrar.

Uma vez que aquele era o tempo de dedicar-se à família, Mariana empregou a integralidade dos seus esforços, a fim de abstrair-se do bonito estranho, e estar de alma e coração com aqueles por quem daria a sua vida e que possuía a firme certeza de aqueles, por ela, também darem a sua, sendo bem sucedida nos seus intentos.

       Após a incumbência da higienização e organização do aposento dedicado à confecção, e consequente, degustação de cada refeição — e que se revelara breve, face ao facto de serem sete a auxiliarem-se uns aos outros —, a de vinte e três anos de idade apresentou as suas despedidas para com os diversos membros do seu grupo familiar, informando sobre a viagem de recreio que realizaria com um amigo, proveniente de território continental, a fim de lhe expor à vista os principais pontos turísticos da zona insular, e que poderiam ser apreciados em, apenas, dois dias — nem carecendo de utilizar as segundas vinte e quatro horas na sua totalidade —, por consequência da pequenez que demarcava a porção de terra rodeada de mar. Daquela forma, dava a conhecer aos seus mais queridos a verdade, ainda que, ligeiramente, destorcida, pois não partilhava uma amizade com o camisola seis, nem detendo a nítida, e total, noção — ainda — do que, verdadeiramente, a ligava a ele. Apenas Matilde, a futura universitária, detinha um conhecimento transparente sobre a situação, diante da visceral confiança que as irmãs depositavam uma na outra, não obstante a diferença de cinco anos que as separavam, no quesito da idade.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora