A tonalidade vermelha presente no semáforo inviabilizava a prossecução das vias de comunicação terrestres que transportariam a polícia de segurança pública em direção ao edifício habitacional. Com um mais elevado nível de força do que o usual, as suas mãos firmavam o volante, promovendo a dissipação da cor dos seus membros. Ainda que, muito, houvesse chorado na anterior noite, Mar' sentia que ainda não se tinha desassombrado da descoberta que havia realizado.
Não queria crer que o rapaz pelo qual se fora apaixonar era o mesmo que a sua melhor amiga ainda não tinha desistido de amar.
Recordava, vivamente, a força e energia despendida por si mesma — e que nem detinha a noção de possuir —, para camuflar a realidade de que, tão bem, conhecia o indivíduo na sua frente, e que lhe era apresentado como namorado da sua mais prezada amizade, encarando-o como se ele fosse um mero desconhecido, quando estava — muito — longe de o ser.
As suas introspectivas cogitações foram descontinuadas pelo genérico som provido do seu dispositivo móvel, e que indiciava a necessidade de contacto, por parte de algum daqueles que compunham a lista telefónica, e cujo azul da luso-brasileira, desvendou ser a ruiva da Amadora e companheira de Rúben Dias.
Não era uma estreia a tentativa de ligação por parte da universitária naquele dia. Era a terceira vez, após a remissão de algumas mensagens de texto. Ainda que o remorso a envolvesse na sua integralidade, a mais velha de três irmãos não se manifestava capaz de premir o botão verde, que viabilizaria a audição da voz da aspirante a profissional na área da saúde, e consequentemente, todo um diálogo, que não possuía determinação para desenvolver.
Igualmente persistente na procura de escutar a sua voz era Rúben. O número de vezes que o único irmão de Ivan já havia preenchido a sua lista de chamadas não atendidas, bem como comunicações escritas recebidas, era — quase — inexequível de determinar a quantidade. Através do seu empenho, a primogénita dos Vilela era, integralmente, hábil a captar a perturbação do profissional de futebol, e a precisão do próprio em falar com ela. O que não parecia compreender era que a rapariga não queria falar com ele.
Desejava apenas esquecer. Quando, no seu mais ínfimo ser, sabia que tal seria, simplesmente, impossível de acontecer.
Porque tudo em Rúben Dias era memorável. Porque o próprio Rúben Dias era, eternamente, inesquecível.
Um incomodativo coro de instrumentos sonoros provenientes dos veículos sitos na sua retaguarda, em nítido protesto para com a imobilidade da agente de autoridade, quando o verde do posto de sinalização já permitia o avanço dos diversos veículos, provocaram o seu abrupto regresso à realidade, bem como o brusco retomar da sua condução, que prosseguiu em direção ao seu rumo definitivo, mais concretamente, ao edifício habitacional, cuja propriedade de uma das frações autónomas componentes do mesmo lhe pertencia, bem como ao irmão.
Uma vez imobilizado o veículo no espaço, no interior da garagem, e correspondente ao número da sua porta, a neta dos brasileiros Isaac e Manoella, através do ascensor, alcançou o seu respetivo andar, e posteriormente, a parte interna da sua habitação.
O apartamento encontrava-se envolvido por um integral silêncio, indiciando a ausência de Mateus, ainda não retornado do seu, entretanto já findado, cumprimento do expediente. Libertou-se do conforto proporcionado pelo seu casaco comprido, e cujo tecido concedia-lhe a proteção almejada face às cortantes temperaturas que imperavam na cidade capital, e antes de recolher ao seu espaço pessoal, a fim de iniciar a organização das suas bagagens, optou por contactar os seus avós maternos, e residentes na sua tão estimada Ilha do Faial, a fim de lhes comunicar sobre deslocação, e modificação de residência, ainda que temporária, para São Miguel, por motivos profissionais, o que viabilizaria um maior contacto físico e convívios mais frequentes, por consequência da reduzida duração de viagem entre destinos insulares.
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Morena | Rúben Dias
FanfictionOnde Mariana reencontra o amor que nunca lhe souberam mostrar nos braços do rapaz que, de melhor, o soube dar. "Ela é sol, é verão É poema, é canção que alegra o meu coração Morena, me encantei com o seu jeito de olhar"