Morena | Rúben Dias

vigésimo-quinto capítulo.

Na manhã seguinte, no processo do seu natural despertar, o azul de Mariana capturou a figura de um mamilo que, por instantes, a desorientou. Todavia, e naquele exato momento, uma fraca risada, consecutiva de um amplo sorriso, irrompeu-lhe nos lábios, face às memórias da anterior noite que trespassavam os seus pensamentos, subjugando-os na sua integralidade. Lenta, e até timidamente, a mais velha de três irmãos ergueu o seu azul, confrontando o amorável retrato do jogador, aparentemente, refém de um profundo descanso. Imprimindo a integralidade do seu cuidado, e ainda que o seu almejo residisse em permanecer no conforto do seu regaço, a agente de autoridade quebrou o contacto físico entre ambos e repousou a sua desnuda configuração externa sobre a tábua da cama, não evitando que um arrepio bailasse pela extensão da sua espinha, assim que as suas costas — quentes, por consequência do conforto proporcionado pelos lençóis —, conheceram a frialdade da madeira. Atraiu o tecido para junto si, de modo a ofertar-lhe uma maior proteção ao seu peito despido, e fixou a sua retina no jovem futebolista, antes de a direcionar para o gorila de algodão, que a transportou a um aprazível retrocesso no tempo, mais concretamente, às memórias que ambos haviam construído no paraíso açoriano. Todavia, assim que tudo o que os atingiu desde o regresso de ambos a território continental foi a primordial razão para o desvanecimento do sorriso que, entretanto, por consequência das recordações, lhe havia surgido a ornar o rosto — ainda — amassado pelo seu recente acordar.

— Em que estás a pensar? — A rouca voz do moreno penetrou-lhe os tímpanos, provocando-lhe um ligeiro sobressalto, precisamente, por não expectar escutá-la, pelo menos, por um intervalo de mais um par de horas.

As suas breves risadas fundiram-se e, de modo gradual, cessaram, até que remanesceu a intensidade que residia no contacto visual que sustentavam.

— Primeiro, no quanto quero ir tomar um banho. — De novo, (sor)riram mas, no exato instante, a tensão voltou a dominar a atmosfera. — Sei que já vou tarde demais mas, não consigo deixar de pensar na Mia e no quanto ela não mereceu isto, Rúben. — Num — quase — inaudível timbre de voz, dotado de remorso, auto censura e, até, embaraço, aditou, enquanto os seus dedos encontravam o seu entretenimento na peça do tecido, que lhes protegiam os respetivos físicos.

       O súbito movimento do lado ocupado pelo internacional português impeliu-a a transladar o seu azul para aquele, observando-o repousar as mãos sobre o seu gracioso rosto, de modo a ocultar o mesmo. Afigurava-se, igualmente, arrependido. Não no que a Mar' dizia respeito mas como as coisas, no início, havia feito. Ele considerava-se o único responsável pela atual situação com a rapariga por quem, freneticamente, palpitava o seu coração.

— Esqueci-me de todos e só me lembrei de ti. — Fazendo uso de um tom semelhante, quase ininteligível, mas perfeitamente decifrável para Vilela, Dias confessou, em fim, abandonando a escuridão e permitindo-se vislumbrá-la, não evitando uma breve risada pela tonalidade rosa que, por consequência das suas palavras, se havia apoderado da face dela.

— E tu sabes que, antes, deves lembrar-te de todos e esquecer-te de mim. — A cada vocábulo que por entre os seus lábios escapava, um pouco mais do seu coração se dilacerava.

       — Não estás errada. — O da Amadora corroborou. — Mas, numa altura destas já devias saber que eu nunca vou pelo certo.

       — Não estás a facilitar as coisas, Rúben Dias! — Manifestamente incapaz de camuflar a sua timidez, exteriorizada através da coloração rosada do seu rosto, a do sexo feminino pronunciou, liberando um estridente grito, consecutivo de uma gargalhada, assim que o capitão sem braçadeira enfaixou os seus tonificados braços ao redor da cintura dela e atraiu-a para próximo do seu corpo, culminando com a colocação da rapariga sob si.