trigésimo capítulo.

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Obrigado, mesmo, por me ajudares e preparar a festa do Rúben tão em cima da hora. — O súbito abraço para o qual fora atraída coagira Mar' a romper contacto visual com os diversos porta-retratos disseminados pela ampla divisão da sala de estar, e que albergavam um infindável conjunto de memórias do jogador, quer enquanto tal, quer com a sua família, cara-metade e, até, na sua própria companhia.

       Consciente das lágrimas que haviam encontrado guarida nas suas azuis órbitas, a neta dos brasileiros Isaac e Manoella moveu a cabeça para o flanco oposto àquele onde se localizava a sua mais prezada amizade, de modo a fazer recuar o choro preso na garganta.

Não tens de agradecer por nada, cabelo de fogo. — A luso-brasileira replicou, retribuindo o carinho. — O que necessitas que faça? Qualquer coisa, posso fazer.

— Estava a terminar de organizar aqui a sala, para depois preparar a mesa do jantar, uma vez que o Ivan vai trazer as refeições que encomendámos. — Indicou na direção do exterior, extremamente, amplo, organizado e ornado por uma imensa piscina, um inevitável e cuidado campo de futebol, e uma zona destinada ao consumo de refeições e possíveis convívios — e que seria, para aquela específica e especial ocasião de comemoração, o espaço de eleição. — E gostava de lhe fazer o bolo, para que ele tivesse algo feito em casa, uma vez que as comidas foram todas confecionadas fora.

       — Estou a ver. — A mais velha de três irmãos devolveu em compreensão, construindo um esboço mental de como a dupla poderia organizar-se, usufruindo, maximamente, das horas que as apartavam do regresso a casa por parte do proprietário dela e aniversariante. — Porque não me deixas terminar isto cá dentro, enquanto vais começando a organizar as coisas lá fora, uma vez que é o mais importante? E assim que acabar aqui, vou ter contigo. — Pronunciou-se sobre um possível plano, conquistando como imediata reação a aceitação da universitária.

Tudo bem. Mas, depois, preciso de ajuda com o bolo. — Tímida, solicitou, provocando uma fraca risada na neta dos brasileiros Isaac e Manoella. — Digamos que as sobremesas não são o meu forte, apesar de eu me safar nelas.

       — Não te preocupes, eu ajudo! — A polícia de segurança pública mostrou-se, logo, disponível. — Quais os sabores que pensaste para o bolo do Rúben? — Inquiriu, sentindo as borboletas manifestarem-se de forma ruidosa no seu ventre, aquando da menção ao camisola seis da instituição vermelha e branca.

       — Brigadeiro, sobretudo. E estava a pensar juntar morango. São dois dos sabores preferidos dele. — A aspirante a profissional no universo da saúde revelou, provocando um comedido sorriso na luso-brasileira, quando referenciou a gastronomia do país da América do Sul, e cuja confecção a primogénita dos Vilela realizava com mestria.

       — Então, deixa comigo. Se há coisa que eu sei fazer é bolo de brigadeiro. — Falou com veracidade, surpreendendo a estudante do ensino superior, que expectou por mais pormenorizadas informações. — Cortesia da minha avó que, desde sempre, foi mestre da confeitaria e, sobretudo, do doce típico do seu país.

— Espera lá, tu és descendentes de brasileiros? Uau, porque é que eu não sabia dessa? — A natural da região lisboeta da Amadora gracejou, recreando a primeira descendente do casal Pedro e Luíza. — Quer dizer, o que é que ainda não me disseste sobre ti? O que me andas a esconder e que ainda não revelaste? — Entre risos, provocou, causando um involuntário engolir em seco, por parte da polícia de segurança pública.

       Imediatamente, o cenário dos diversos momentos partilhados com o capitão sem braçadeira foram-lhe trazidos à memória, agitando-a e envolvendo-a num violento sentimento de culpa, que a sufocava. Ainda assim, empregou a integralidade dos seus esforços, com o intuito de os camuflar e não permitir que eles se conseguissem exteriorizar. Não era o tempo ou, sequer, o espaço adequados. Aliás, nunca haveria um nem outro.

Morena | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora