Capítulo Seis.

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- Sai de perto das minhas batatinhas! - se irrita Morgan.

- Credo, sua grossa! - briga Olívia, botando uma batata frita na boca.

- Meninas, será que vocês podem parar de brigar. - peço calmo.

- Fala isso pra sua irmã, nem parece que é rica, essa morta de fome.

- Morgan, - chamo sua atenção. - divide as batatas com a sua amiga.

- Não. - responde simplista.

- Tá vendo só? - acusa irritada, se virando pra mim com cara de choro. - é assim que ela me trata, nem parece que é minha amiga.

- Morgan, se você não dividir a batata agora, eu vou comprar outro porção só pra nós dois.

- Mas você é meu irmão, devia estar do meu lado! - exclama aborrecida.

- Justamente por ser seu irmão que estou te pedindo pra dividir. - termino gentil.

- Tá bom, - diz emburrada, arrastando o pode de batatas fritas até a loira. - toma.

- Obrigada. - responde contente.

- Morgan, eu preciso falar com você. - falo nervoso.

- Pode falar Petey. - incentiva ela, me olhando fixamente.

- Eu não vou poder te buscar mais tarde pra gente ir pra casa. - começo divagar, testando sua reação. - vou sair com o Ned pra comer alguma coisa e estudar. Nada de mais.

- O que? - pergunta decepcionada. - mas agente sempre vai pra casa juntos, e hoje é dia em família!

- Eu sei, mas os trabalhos andam corridos e o Ned prometeu me ajudar com uma pesquisa. - digo calmo.

Odeio mentir pra ela, mas o Ned realmente prometeu me ajudar a descobrir como eu vim parar aqui e como eu posso voltar. Fora que eu não sei se estou pronto para as tardes em família, com todos os abraços afetuosos e palavras de carinho. Não que isso fosse necessariamente algo ruim, mas eu me sentia mal ao mentir pra eles e receber todo o amor e carinho que deveria ser dado a outra pessoa.

- Não quero que você vá, Peter. - pede triste, me olhando com os olhos brilhantes e profundos. - você também é da família, não existe tardes em família sem você!

Se ela soubesse o quanto estava enganada...

- Não fica assim Morgan, - peço calmo, a culpa me corroendo por inteiro. - é só segunda, agente ainda tem quarta e sexta.

- Eu sei, mas queria que você ficasse comigo... - explica chateada.

- Eu... - sou salvo pelo barulho estridente do sinal, indicando pra todo mundo voltar pras salas. Sinto que se eu tivesse ficado mais um pouco olhando pro seu rostinho tristonho, acabaria sedendo. Por sorte o sinal me livrou dessa situação. - eu tenho que ir. Vejo você a noite.

Me estico sobre a mesa e deixo um selar na sua testa, me afastando e bagunçando os cabelos de Olívia. Roubo um morango da sua panqueca e ando em direção ao meu armário com a intenção de trocar os materiais antes da próxima aula, não sem antes ouvir reclamações da loira por ter roubado sua comida. Elas nem percebiam que eram iguaizinhas.

- Eu te amo, Peter! - grita Morgan, tentando chamar minha atenção.

Finjo que não ouvi e continuo andando, não podia olhar nós olhos dela e mentir tão descaradamente. Meu coração doía ao saber que suas palavras não eram realmente direcionadas a mim. Eu não podia me apegar, aquela não era minha família de verdade, não podia arriscar tudo nutrindo sentimentos que não seriam retribuídos. Uma hora ou outra eu teria que voltar pra casa e tudo isso não passaria de uma memória vazia. Eu voltaria pro meu apartamento pequeno e continuaria estudando na mesma escola, até ir pra faculdade e me formar. Olharia todos os dias pro retrato de Tony ao lado da minha cama e lembraria do tempo que passamos juntos.

E era só isso, sem sentimentos, sem relacionamentos.

[...]

- E aí? - pergunta Ned, de boca cheia.

Estávamos andando pelos corredores até a saída, tinha comprado um sanduíche de presunto pra ele com o dinheiro que sobrou do lanche. As pessoas nós olhavam estranho por onde passávamos, Ned não parecia perceber, caminhando ao meu lado com curiosidade, me perguntando porque não tinha ido buscar Morgan como sempre. Parece que fazíamos muitas coisas juntos naquele lugar.

- Eu só achei que não era nessisario, - respondo indiferente, mantendo meus olhos longes dos seus. - ela parece já ter idade o suficiente pra saber atravessar a rua sozinha, Happy se vira com o resto.

- Hm... - me olha acusador.

- Quantos anos ela tem afinal? - pergunto mudando de assunto.

- Onze. - responde calmo.

- Tá... - concordo confuso.

- O que foi? - percebe minha confusão.

- E que é estranho, - respondo sincero, olhando pra ele curioso. - Harley faz faculdade numa das melhores universidades do mundo. Eu até entendo que essa escola é boa e tals, mas se nesse lugar eu sou filho de Tony Stark, porque eu estudo aqui? Porque não Harvard ou Stanford, por exemplo?

- Seu pai até tentou te convencer a mudar de escola, mas você disse que queria ser um adolescente normal e estudar na mesma escola que eu.

- Do jeito que o Sr. Stark é, me surpreende ele não ter pagado uma inscrição pra você, só pra mim aceitar mudar de escola. - digo rindo.

- Ele tentou, mas Pepper não deixou. - explica rindo também.

- Fala sério? - pergunto chocado.

- Poisé! - concorda, secando as lágrimas invisíveis. - É uma pena você ser tão teimoso, nós podíamos estudar juntos em Yale.

- Poisé... - concordo pensativo.

- Sem falar que agente se livraria do Flash. - acrescenta sonhador.

- É, isso seria ótimo. - balanço a cabeça divertido.

- Mas voltando ao assunto, - me olha interrogativo. - como a Morg reagiu quando você disse que não ia pra tarde em família?

- Ficou decepcionada, acho que magoei ela. - suspiro triste.

- É por isso que não quis acompanhar ela até a saída? - pergunta gentil.

- Talvez. - respondo inserto.

- Ela não vai ficar com raiva de você. - diz como se tivesse lido meus pensamentos.

- Não é só isso, - sussurro envergonhado. - hoje ela disse uma coisa...

- O que? - pergunta curioso.

- "Eu te amo, Peter", - olho pro lado arrependido. - eu não respondi...

- E porque não?

- Não sei exatamente, me senti pressionado. Estou aqui a um dia e parece que todo mundo quer algo de mim, algo que não sei se posso fazer. - falo nervoso, esfregando as mãos suadas na calça jeans.

- Por exemplo? - insiste compreensível.

- Tipo falarem pra mim dizer coisas que eu nunca disse, ou retribuir sentimentos que eu não sei se posso retribuir. - explico estressado, sentindo minha cabeça doer.

- Você passou por muitas coisas hoje, só precisa descansar e pensar um pouco. - aconselha sútil.

- Acho que você tem razão. - concordo agradecido, sorrindo cansado.

- Então está desidido, - diz puxando meu braço até às portas de entrada. - você vai dormir na minha casa hoje e amanhã agente decide o que fazer.

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora