Capítulo Onze.

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Aquele dia não podia ser mais longo, com as aulas intermináveis e diálogos sem sentido, estamos no último período e eu não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. E se alguém descobrisse? E se a escola ligasse para o Sr. e a Sra. Stark? E se ligassem pra polícia? E se alguém tivesse se machucado? Não conseguia parar de pensar em mil e uma coisas que podiam ter acontecido.

- Peter? - me chama Ned, tocando no meu ombro. - o sinal já tocou.

Só consigo perceber agora que a sala já estava praticamente vazia, só sobrando eu, Ned e algumas outras poucas pessoas. O professor estava recolhendo suas coisas, e do lado de fora das grandes janelas pode-se ver o céu mudando de laranja e amarelo pra um verde e azul meio arroxeado. A aula já havia acabado, estava na hora de sair e encarar Happy, que provavelmente já me enchia de mensagens no celular pra me apresar e buscar Morgan, tínhamos que chegar em casa a tempo pro almoço.

- Claro, vamos. - digo me levantando, pegando meus materiais e enfiando tudo na mochila.

Depois de estarmos fora da sala posso finalmente respirar de verdade, estava me sentindo sufocado lá dentro, com as janelas e portas fechadas, ninguém merecia isso. Ajeito a mochila nas costas e ando até o campus da Morgan, pretendendo buscar ela o mais rápido possível pra poder me livrar desse lugar e enfrentar o que tivesse que enfrentar de uma vez por todas. Ned me observa curioso, tentando chamar minha atenção.

- O que foi? - pergunto indiferente, andando o mais rápido possível.

- Nada, é só que você tá estranho. - explica apreensivo. - tá tudo bem?

- Porque não estaria? - retruco, tentando não olhar pra ele.

- Deve ser porque você finalmente vai ter que enfrentar o seu mentor morto em forma de pai? - pergunta retóricamente, botando a mão no meu ombro pra desacelerar meus passos. - qualé, eu sou seu amigo, pode me contar qualquer coisa.

- Eu sei, mas não é tão fácil. - explico nervoso, olhando pra ele. - tá tudo acontecendo tão rápido, e eu não sei como lidar com isso.

- Vem comigo. - me puxa pelo braço, me levando até os banheiros em reforma do último andar. A verdade é que a grande "reforma", era só pra pintar as paredes, mas por algum motivo, ninguém ia lá. - vamos conversar.

Entramos no banheiro silenciosamente, olhando pra ver se não tinha ninguém escutando. Ned tranca a porta e vai até às janelas de vidro, as abrindo e verificando o movimento, larga a mochila no chão e se escora na parede, voltando a olhar pra mim, posso ver um olhar acolhedor em seu rosto, tentando me passar confiança.

- Tudo bem, estamos sozinhos. - avisa gentil, sinalizando pra mim fazer o mesmo que ele. - pode me contar, ainda temos um tempo antes do segurança do seu pai nós achar e esconder nossos corpos no quintal da escola.

- Happy nunca faria isso! - exclamo chocado, gargalhando logo em seguida, deixando minha mochila cair no chão e me sentando na bancada da pia. - pelo menos eu acho que não.

- Vai se saber... - brinca divertido, escorregando com as costas na parede até sentar no piso do banheiro. - mas agora é sério, o que você tá sentindo?

- É complicado... - começo cansado, tentando formular algo que fizesse sentido. - é tudo tão confuso e estanho. Eu estou aqui só faz dois dias e sinto como se eu estive semanas...

- Acha que as coisas estão indo rápido demais? - pergunta curioso.

- Com certeza! - concordo, o olhando nós olhos. - e o pior não é isso, o pior é que eu não tenho controle sobre isso. Não sei o que eu posso ou não posso fazer, nem o que pode acontecer se eu fizer algo de errado. A verdade é que eu não conheço ninguém aqui, não sei o quanto dessa linha eu posso cruzar...

- Você acha que se fizer algo de errado aqui, vai magoar todo mundo? - tanta entender, me encarando gentil.

- Não exatamente. - respondo sincero, suspirando fundo. - esse não é o principal...

- Então o que é?

- Eu tenho medo de me apegar, medo de falhar e acabar machucando essas pessoas, medo de machucar quem eu gosto... - falo nervoso, desviando o olhar pras minhas pernas. - eu sei que eles não são minha família de verdade, sei que eu estou só esperando o momento onde vou me decepcionar e estragar tudo, mas não consigo evitar pensar que em tão pouco tempo, eu consegui finalmente ter ideia do que é uma família. Uma grande, com pais, irmãos, tios, primos e avos...

- Peter... - me olha compreensível, sentando ao meu lado e botando o braço por cima dos meus ombros, me puxando pra perto. - eu não sou a melhor pessoa pra te dar conselhos ou dizer alguma coisa, mas eu quero que você saiba que não tá sozinho. Eu sei que eu não sou o "seu" Ned, mas ainda sou seu amigo, e vou te ajudar no que der e vier.

- Obrigado, Ned. - agradeço gentil, o abraçando de lado. - é importante pra mim.

- Sem problema, sempre que precisar conversar eu tô aqui. - diz contente, me olhando divertido.

- Valeu... - sorrio agradecido.

- Mas agora me diz, acha que tá pronto pra enfrentar seu mentor zumbi?

- Definitivamente não, mas acho que eu sobrevivo. - respondo sincero.

- Então tá, nesse caso vamos buscar a Morgan antes que o Happy nós mate.

- Vamos. - concordo com graça, bem mais relaxado depois de ter conversado com meu amigo.

Pegamos nossas coisas e saímos do banheiro, ajeitando a mochila em nossos ombros e andando em direção contrária ao nosso campus, conversando sobre o quanto Happy estaria zangado. Morgan já nós esperava junto com Olívia, na frente dos portões da escola, a morena se despede da amiga com um abraço e vem correndo em minha direção, abraçando minha cintura com os braços.

- Oi, Petey e Ned. - nós cumprimenta gentil, se separando de mim e indo abraçar o Leeds. - Vamos?

- Vamos. - respondemos juntos, indo em direção do carro preto estacionado na frente da escola.

Ned e Morgan correm na frente, apostando corrida, eu fico mais atrás rindo da cara de irritado que Happy faz ao abaixar o vidro do carro. Logo sinto uma vibração estranha, tudo parece mais lento e meus sentidos se intensificam, olho prós lados tentando entender o que estava acontecendo, meu sentido aranha me avisa que alguma coisa vai acontecer, mas não vejo o que é até virar pra direita.

Um garoto talvez um ou dois anos mais velho me olha fixamente, me analisando. Seus cabelos eram castanhos um pouco mais escuros que os meus, ele tinha um topete e seus cabelos eram raspados dos lados, seus olhos eram de um marrom bonito e seu rosto era fino e bem feito, seus lábios eram rosados e sua roupa parecia simples, mas confortável.

- Peter! - grita Happy, me chamando do carro. Vejo o garoto virar o rosto ao mesmo tempo que eu quando meu nome é pronunciado. - vem logo, se não te deixo ir apê!

- Vamos logo, Peter! - chama Morgan, me olhando confusa.

- Já tô indo! - grito de volta. Quando volto a olhar pro lado, o garoto não estava mais lá. Será que eu estava alucinando?

Decido ignorar e voltar ao carro, não duvidava nada que o segurança me deixasse apê se eu demorasse mais um pouco. Entro no carro e boto o cinto de segurança, Happy liga o motor e se distância rapidamente, olho mais uma vez pela janela tentando enxergar alguma coisa, mas não vejo nada.

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora