Capítulo Nove.

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O dia estava realmente quente, não aquele quente que te dá vontade de ligar o ar-condicionado e tirar a camisa, mas aquele quente que te faz sentir como um ovo fritando no asfalto ardente. Sabe quando suas costas suam e você não tem outro opção a não ser deitar no chão gelado e sentir sua pele grudar nas pequenas sujeirinhas do piso? Poisé, era assim que eu me sentia, sujo, suado e fedorento.

Tinha melhor combinação?

Naquele momento eu agradecia por ter faltado a aula de educação física, ninguém merecia correr e ofegar naquele calor. Fora o fato de todos serem obrigados a tomar banho depois do treino pra não ficar fedido, não que isso fosse exatamente um problema, mas não ajudava muito ter que tomar banho junto com um monte de adolescentes nojentos, com os hormônios a flor da pele e suas piadinhas indecentes. Ninguém merecia isso.

- Lembra quando o papai nós levou pra tomar sorvete no shopping e perdeu agente? - começa Morgan, comendo seu sorvete de morango e flocos. - Harley tinha fugido pra encontrar os amigos, você tinha escapado pra ir ver uma loja nerd cheia de canecas e camisetas de Star Wars e eu tinha sumido pra ver uma apresentação de princesas na praça de alimentação.

- Eu lembro disso! Peter me contou. - fala Ned gargalhando, com seu sorvete de chocolate e creme quase completamente derretido na mão. - quantos anos vocês tinham mesmo?

- Não faço ideia. - digo divertido, limpando as pequenas gotas de água nos cantos do olho.

- Harley tinha treze, Peter tinha onze e eu tinha uns seis. - soluça Morgan, se engasgando com o sorvete.

- Tá bom, tá bom... - Ned respira fundo, me olhando divertido. - acho que já comemos sorvete demais.

- Há, qualé Ned, só mais um! - pede a castanha afobada.

- Nem pensar, se agente perder mais aulas hoje estamos ferrados. Falando nisso, alguém sabe que horas são? - pergunta, terminando de tomar sua sopa de sorvete.

- São 09:01 - responde Morgan, vendo as horas no seu celular.

- Tá brincando?! - cuspo o meu sorvete de chocolate e baunilha. - estamos muito atrasados!

- Morgan, porque você não disse antes? - pergunta Ned, começando a suar. - nós voltamos de trem, até chegarmos lá já vamos ter perdido a aula toda.

- Foi mal, eu não sabia. - responde acanhada. - como minha turma não tinha professor eu acabei esquecendo completamente que vocês tinham.

- Tudo bem, agora não é hora pra se desesperar, precisamos respirar fundo e pensar em um jeito de chegar lá o mais rápido possível. - tranquiliza Ned, se levantando e pagando a conta.

- Ned, não precisa, deixa que eu pago. - tento argumentar.

- Relaxa, eu vou pagar. Você comprou um sanduíche pra mim ontem e agora eu tô pagando um sorvete pra vocês. - nega gentil.

- Na verdade, eu posso pagar meu sorvete. - avisa a castanha, mostrando uma nota de cem pratas na sua mão esquerda.

- Você tinha dinheiro o tempo todo? - pergunto chocado.

- Claro, papai sempre faz questão de que nós estejamos preparados em caso de emergência, por isso sempre tenho dinheiro na meia. - responde óbvia.

- Mas se você tinha dinheiro o tempo todo porque nós não viemos de táxi? Seria muito mais rápido do que de trem. - argumento impaciente.

- Não me julgue, você também teria se aceitasse o dinheiro que o papai te oferece! - responde irritada.

- Tudo bem, tudo bem, não é hora de brigar! - interrompe Ned, pegando alguns guardanapos e enfiando no bolso. - vamos ir embora, só temos uma hora pra chegar na escola, precisamos pensar.

- O Ned tem razão, não podemos ir de trem, demoraria demais. - concordo pensativo. - precisamos de um veículo rápido que agente possa usar pra chegar lá. Morgan e Ned, vocês ainda tem dinheiro?

- Não, gastei com as passagens de trem e nossos sorvetes. - responde desanimado.

- Morgan?

- Nem olha pra mim, gastei com o meu sorvete. - responde desinteressada.

- Você gastou cem pratas num sorvete de copinho? - pergunto chocado, olhando pra ela sem reação.

- E daí? Eu sou rica. - dá de ombros, me olhando calma.

- Tá de sacanagem! - bufo irritado, começando a andar de um lado pro outro na calçada. - só podia ser filha de Tony Stark...

- Tá bom, agora estamos oficialmente ferrados... - fala Ned, se escorando na parede da sorveteria.

- Não sei pra que tanto drama, - ela diz revirando os olhos. - porque só não chamamos Harley?

- Deve ser porque ele está na faculdade. - responde óbvio.

- E daí? O Harley vive fugindo da faculdade pra sair com garotas e ir pra festas idiotas, aposto que ele nem está lá.

- Então como ele não é pego? - pergunta Ned, interessado.

- Porque ele é filho de Tony Stark e todos bebam o ovo dele, sem falar que o Harley sempre tira notas boas então ninguém liga para as faltas dele.

- Você tem certeza de que ele é confiável? - pergunto acanhado.

- Credo, Peter! - me olha atravessada. - nem perece que você tá falando do nosso irmão.

- Não foi o que eu quis dizer... - tento consertar.

- Não importa, agente não tem escolha. - Ned fala desidido, segurando Morgan pelos braços. - precisamos de carona!

- Entendido! - concorda Morgan, pegando seu celular e ligando pro irmão.

- Tô sentindo que isso não vai acabar bem... - murmuro acanhado, me escorando ao lado do Ned. - o que você acha Ned?

- Temos escolha? - rebate cansado.

- Prontinho, agora só precisamos esperar. - avisa a castanha, se escorando ao meu lado.

[...]

Somos despertos pelo som estridente da buzina logo a frente. Harley estava com os cabelos loiros bagunçados e os olhos azuis escondidos atrás de um óculos escuro, que pareciam extremamente caros, vestia uma camisa branca e um casaco de couro escuro por cima, parecia relaxado e descontraído, mas sem perder o poder e o luxo. Seu carro era um Audi R8 Spyder branco e aconchegante, não tinha a parte de cima e era totalmente aberto, o tipo de carro que uma pessoa como eu nunca sonharia em ter.

- Alguém pediu uma carona? - debocha divertido, abaixando o óculos até o nariz.

- Harley! - grita Morgan, correndo até o carro e abrindo a porta.

- Oi, Morg. - cumprimenta gentil, abraçando a irmã e alisando seu cabelo. - como vai?

- Ótima! - responde contente, encostando o nariz no nariz do loiro. - o Petey e o Ned me levaram pra comer sorvete.

- Percebi... - fala divertido, me olhando fixamente. - vamos, se o pai e a mãe descobrirem que os três filhos cabularam aula no mesmo dia, nós não saímos de casa nunca mais.

- Vamos. - diz Ned, me puxando até o carro.

- Tudo bem Morg, você e o gorducho no banco de trás, Peter você passa pra frente. - avisa rápido, ajudando a irmã a passar pra trás.

- Então tá... - vejo Ned e Morgan botarem o cinto de segurança enquanto eu fecho a porta.

- Cinto de segurança, Peter. - avisa o loiro, me olhando torto. - não quero ficar de castigo por matar meu irmão mais novo.

- Claro. - respondo inserto, encaixando o cinto e me ajeitando no banco.

- Ótimo, agora de uma escala de um a dez, o quanto estamos atrasados? - pergunta curioso, se virando pra trás.

- Sete! - respondem os dois ao mesmo tempo, se olhando esquisito.

- Beleza, apertem os cintos porque vamos voar. - avisa contente, pisando no acelerador.

Porque eu sentia que isso não ia acabar bem?

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora