Capítulo Oito.

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- Peter! - grita Morgan, correndo na minha direção.

É a primeira coisa que eu vejo assim que piso em Midtown, Ned e eu tínhamos vindo de trem, era um pouco demorado mas tínhamos vindo uma hora antes pra não ter perigo de nós atrasar. Morgan estava com uma blusa branca social e uma saia rodada cinza, como no dia anterior, a diferença é que estava sem o blazer e usava um tênis all Star preto. Seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo e tinha um pequeno bandeide no seu joelho direito.

- Morgan? - pergunto gentil, me aproximando também. - o que faz aqui? Não deveria estar na sua sala?

- Eu sei, mas a professora ainda não chegou, então é horário livre. - responde me abraçando, esfregando a buchecha na minha camiseta. - decidi te esperar aqui fora, senti sua falta ontem.

- Obrigado por me esperar. - respondo sincero, tentando me separar do abraço.

- Não! - me repreende, erguendo seu rosto e olhando nós meus olhos. - quero ficar com você.

- Eu sei Morgan, mas está quase na hora de ir pra minha aula, e é perigoso ficar aqui fora sozinha. - explico sem graça.

Na realidade eu estava apenas inventando uma desculpa pra me soltar do abraço, não queria acabar me apegando a ela, sabia que Morgan não era minha irmã de verdade, não podia acabar me deixando levar. Tento me soltar mais uma vez, mas a castanha não sede, se agarrando ainda mais forte no tecido da minha camiseta.

- Eu não ligo! - exclama aborrecida.

- Morgan, me solta. - peço gentil.

- Não! - responde, enterrando o rosto na minha camiseta.

- Morgan, eu preciso ir! - tenta mais uma vez, tentando falar com seriedade.

- Não precisa não! - escuto sua voz abafada pela camisa dizer, sentindo o tecido molhado. Ela estava chorando? Será que eu tinha sido muito grosso?

- Morgan, olha pra mim. - peço gentilmente, alisando seus cabelos. Ela ergue a cabeça e eu consigo ver seus olhos inchados do recente choro, suas bochechas vermelhas e seus lábios tremerem de leve. - O que aconteceu?

- Você nem falou comigo direito ontem, e defendeu a Olívia ao invés de mim na lanchonete, e agora fica me chamando de Morgan, você nunca me chama assim, é sempre Morg ou Mogy. Achei que estivesse com raiva de mim, mas deixei quieto porque a mamãe disse que você estava com a cabeça cheia por causa dos trabalhos da escola. - explica apreensiva, se agarrando mais forte em mim. - mas aí você não quis ir para casa comigo, e nem disse que também sentia minha falta quando eu te mandei mensagem dizendo que senti saudades. Achei que você não me amasse mais.

Meu deus, o que eu tinha feito? Eu fui tão egoísta ao ponto de só pensar em mim mesmo que esqueci completamente que ela não sabia que eu não era o irmão dela, deixei ela achar que não me importava com seus sentimentos. Eu não sabia praticamente nada sobre ela, e mesmo assim ela conseguia me fazer sentir como se a conhecesse a anos. Estava pensando tanto em não me apegar pra não me machucar que acabei machucando ela, sem pensar no quanto ela era próxima do Peter daquele lugar, do irmão dela. O de verdade.

- Morgan... - murmuro chocado, me abaixando até a sua altura e segurando os dois lados das suas bochechas vermelhas. - eu sinto muito, não fazia ideia de que você se sentia assim. Eu quero que você saiba que eu nunca faria algo pra te machucar propositalmente, você é minha irmãzinha afinal, sempre vou te proteger, mas preciso que você entenda que estou passando por algo complicado, e não quero que você se machuque. Preciso que confie em mim, tudo bem?

- Aham, - balança a cabeça em concordância, com seus olhos brilhando em lágrimas. - então você não me odeia?

- Claro que não, eu já disse que eu nunca vou te odiar. - digo calmo, tentando mostrar que estava falando a verdade.

- Eu te amo, Peter. - diz contente, sorrindo sem dentes.

- Eu também gosto de você, Morgan. - respondo sem graça, vendo ela me olhar torto. Desvio o olhar, tentando mudar de assunto. Ainda não estava pronto pra dizer essas palavras, e creio que quando estivesse, teria que voltar pra casa.

- Você não vai...

- Peter? Morgan? - somos interrompidos por Ned, que se aproxima confuso, me lançamento um olhar questionador. - o que fazem aqui? A aula já vai começar.

- Eu sei, vamos... - olho pra castanha, vendo ela afundar o narizinho no meu pescoço, fungando fraquinho. Olho pra Ned pedindo ajuda, sou respondido com um dar de ombros e um olhar acolhedor. Penso um pouco, que mal faria faltar algumas aulas? Era pra um bem maior, certo? - tomar sorvete!

- O que? - pergunta Ned, confuso.

- É, - respondo desidido, vendo Morgan me olhar com os olhinhos brilhando em espectativa. - eu estou devendo um sorvete pra Morgan e hoje tá muito quente, que mal pode fazer cabular algumas aulas?

- Não sei...? Que tal expulsão? Ou talvez um sermão de uma hora dos nossos pais? Ou talvez sermos sequestrados? Atropelados? Mortos?

- Ned! - repreendo divertido, vendo Morgan rir fraquinho. - só vamos tomar um sorvete e voltar, não vamos roubar um banco.

- Não sei não, Peter... - diz apreensivo.

- Qualé! Olha pra essa carinha triste e vê se você consegue dizer não. - aponto pra Morgan, que faz biquinho, tentando convencer o mais velho.

- Tá bom, - concorda derrotado, afagando seus cabelos castanhos. - mas só um sorvete!

- Fechado! - concordo animado, me levantando com Morgan ainda pendurada no meu pescoço. - vamos Morgan.

- Colo. - sussurra envergonhada.

- Você já não é muito velha pra ser carregada no colo? - cassou divertido.

- Eu queria colo... - resmunga triste.

- Você sabe que o Peter é muito magricela, não tem força pra te carregar. - argumenta Ned, tentando amenizar o clima.

É claro que ele sabia que eu podia carregar ela facilmente, mas não queria envergonhar a castanha, por isso me lançou um olhar irritado, dando um beliscão em meu braço. Resmunguei a contragosto e me abaixei de novo, segurando em baixo das axilas de Morgan e a levantando facilmente do chão.

- Prontinho, - abraço sua cintura, enquanto ela segura ainda mais forte os braços em volta do meu pescoço. - agora podemos ir?

- Agora sim, - concorda Ned, sorrindo pra mim. - vamos lá.

Segue em frente, segurando na alça da mochila. Sigo seus passos, segurando com cuidado a garotinha em meus braços. Sinto ela sorrir no meu pescoço, dou uma risadinha divertida e beijo seus cabelos castanhos, sentindo o cheirinho de lírios devido ao shampoo. Talvez ter uma irmã não fosse tão ruim afinal de contas.

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora