Capítulo Cinco.

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Estava caminhando no grande gramado de Midtown, atravessando o campus até a outra fileira de prédios de cor alaranjada. Minha caminhada foi curta, acabei me distraindo vendo os jogadores e líderes de torcida sentados nas arquibancadas conversando depois de um jogo agitado. Nunca me importei com esse tipo de coisa, eu nunca fui o garoto mas atlético ou esportivo do mundo, sempre achei esse tipo de coisa perca de tempo. Antes de me tornar o Homem-Aranha e ganhar super poderes eu era só um fracote que ninguém se importava em conhecer, Ned ao contrário de muitos sempre esteve ao meu lado, muito antes de ser picado por uma aranha geneticamente modificada.

Eu agradecia muito por ter ele como amigo, as inúmeras vezes que ele me ajudou e apoiou, mesmo quando acabava encrencado ou em perigo, mostravam o quão especial e fiel ele podia ser. Ned nunca se importou se eu era ou não um Super-herói, sempre me apoiando e me dando conselhos, até mesmo salvando a minha vida e levando a culpa por mim. As vezes eu me sentia mal por meter ele nessas coisas, tinha medo que um dia ele decidisse arranjar novos amigos e me abandonasse. Por outro lado, talvez eu merecesse, pelo menos assim ele estaria seguro e longe do perigo.

- Peter? - escuto alguém me chamar, viro em direção da voz e olho confuso pra pessoa a minha frente. - o que está fazendo aqui?

- Oi? - digo apreensivo. Eu não fazia ideia de quem era a garotinha loira a minha frente, mas não podia dizer isso a ela.

- Você tá estranho. - afirma séria, me olhando de cima a baixo como se me analisasse. - não deveria estar indo buscar Morgan?

A garotinha me interroga, se aproximando com passos calmos. Seja lá quem ela fosse, ela me dava medo, com seus cabelos loiros bagunçados, óculos maiores que seu rosto e olhos verdes brilhantes. Ela usava blusa branca social por baixo do blazer cinza, uma saia rodada quatro dedos acima do joelho, também cinza, e sapatos pretos acima das meias brancas. O mesmo uniforme que Morgan, talvez fossem colegas.

- Sim, eu estava indo pra lá. - respondo nervoso.

- Mas a sala dela fica pra lá. - aponta pro prédio ao lado, com rosto interrogativo.

- Há! Sim, eu sabia... - rio nervoso, virando o rosto para as portas azuis.

- Hm... - resmunga debochada, se aproximando e pegando a minha mão. - vem, vou levar você até ela. Você sabe que ela odeia ficar esperando na sala.

- Claro, sei sim... - respondo inserto.

[...]

Passamos por inúmeras salas e crianças, as paredes eram de um verde vivo e as portas eram repletas de desenhos infantis. As crianças corriam de um lado pro outro, rindo e gritando como loucas, de vez em quando esbarrando em minhas pernas e pedindo desculpas em seguida. A garota loira, que eu descobri se chamar Olívia, me guiava por corredores largos e portas coloridas, explicando como tinha sido sua aula de Ciências, dizendo o quão horrível e covarde as pessoas eram ao matar inocentes sapinhos pra dar pras crianças dissecarem. 

- Só acho que os sapos merecem mais! - explicava zangada. - o quão covarde uma pessoa pode ser aponto de matar a sangue frio um bichinho inofensivo que não pode se defender sozinho?

- Bom... - digo apreensivo, tinha medo de falar a coisa errada e ela ficar com raiva de mim. - acho que você tem razão...?

- É claro que eu tenho razão! - diz óbvia. - quando foi a última vez que eu errei?

- Não sei...? - respondo sincero.

- NUNCA! - grita chocada, como se eu tivesse dado uma facada em suas costas. - você realmente está estranho...

- Eu nã-

- Peter! - escuto uma voz conhecida gritar.

Me viro e vejo Morgan, com um sorriso animado e rosto corado. Seu terninho estava todo amassado e sua saia estava mais curta que o normal, seus cabelos castanhos estavam bagunçados e suas pernas brancas estavam sujas de terra e grama. Veja ela correr em minha direção e se agarrar as minhas pernas, as abraçando o mas forte que seus bracinhos conseguem.

- Morgan? - pergunto preocupado, soltando gentilmente a mão de Olívia e me abaixando até estar a sua altura. - o que ouve? Porque você tá toda suja?

- Foi a aula de educação física, eu esqueci a senha do meu armário e não consegui pegar meu uniforme. - explica apreensiva, me olhando com seus olhinhos infantis. - desculpa, você tá brabo comigo?

- O que? Claro que não! - respondo rápido, botando uma mecha de cabeça atrás de sua orelha. - eu nunca ficaria zangado com você.

- Jura? - pergunta esperançosa.

- Juro! - afirmo gentil, abraçando sua cintura com meus braços.

- Juradinho? - pergunta de novo, estendendo o dedo mundinho e sorrindo fofa.

- Juro Juradinho. - respondo sincero, juntando meu dedo mundinho ao dela.

- Ótimo! - interrompe Olívia. - então vamos logo que eu tô com fome, e você vai pagar meu lanche.

- Porque eu? - pergunto chocado, me separando de Morgan e olhando a loira nós olhos.

- Porque você é mais velho e tem que cuidar da gente. - diz simplista.

- Isso aí, além do mais, o papai te deu dinheiro não deu? - pergunta Morgan, me olhando empolgada.

- Sim. - respondo me lembrando das cem pratas que Tony me deu.

- Ótimo! - se anima Morgan, indo até a loira e pegando a sua mão. - então vamos lá.

- Espera aí, - chamo sua atenção, indo atrás das duas que já iao caminhando na frente. - Morgan!

- O quê? - pergunta confusa, enquanto Olívia me olha interrogativa.

- Sua saia, - aviso, me abaixando e puxando o tecido pra baixo. Não queria que as pessoas olhassem pras pernas dela, afinal ela ainda era minha responsabilidade. - deixa eu arrumar.

- Ok, - concorda a loira, se virando pra frente e pegando na mão da morena novamente. - agora a gente vai.

- Podemos? - pergunta Morgan.

- Sim, agora sim! - respondo prontamente, seguindo as duas até o refeitório.

- A gente pode comer panquecas? - pergunta Olívia, virando a cabeça pra trás e olhando pra mim. - por favorzinho!

- Claro.

- Legal! - sorri animada, se virando pra frente novamente.

- A gente pode comer sorvete? - Morgan olha pra mim com olhos de cachorrinho que caiu da mudança.

- Sorvete não é comida Morgan. - respondo divertido.

- Chatooo! - reclama decepcionada.

Quem diria que além de cuidar de uma eu teria que cuidar de duas crianças.

Onde eu fui me meter?!

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora