Capítulo Treze.

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Passar por aqueles enormes corredores de novo me trazia uma sensação acolhedora, como uma bandeja de lembranças fortes e avassaladoras. As inúmeras vezes que eu estive naqueles mesmos corredores com o Sr. Stark eram boas e especiais, mas também me deixavam com uma estranha sensação de não saber quem eu sou ou pra onde ir.

Eu nunca tive muitas pessoas na minha vida, e as poucas pessoas que estavam nela acabavam indo embora e nunca mais voltado, de certa forma acho que você se acostuma com o tempo. Meu pai e minha mãe, depois o tio Ben, então o Tony... Tantas pessoas que vem e vão, as vezes você para pra pensar e é meio impossível descartar a ideia de que talvez seja culpa sua. Tipo, será que eu boto todas as pessoas que eu amo em perigo?

Eu sei que é errado pensar assim, sei que se eles ainda estivessem vivos me diriam que não é culpa minha e que eu fiz meu melhor, mas a questão disso tudo era que pensar no que eles diriam ou o que fariam se estivessem aqui só me fazia pensar ainda mais que talvez eu pudesse ter feito algo pra impedir. Nesse tempo todo eu tentei me distrair com trabalhos da escola e rondas como Homem-Aranha, tentando focar em outras coisas, tentando pensar positivo, mas a verdade é que eu estava com medo, o tempo todo.

Medo de ficar sozinho, medo de perder as últimas pessoas que eu sabia que nunca iriam me abandonar, medo de perder a Tia May, de perder o Ned, de perder a MJ e até a Betty. As últimas pessoas que eu tinha, porque eu sabia que não conseguiria suportar, e eu com certeza não estava pronto para aquela dor. Pensar que eu podia ter mais uma chance alí, uma chance de recomeçar do zero, ter uma família e ser um garoto normal parecia um sonho impossível, um sonho bom que você torce pra não acordar e quando acontece você faz de tudo pra tentar voltar mas não consegue, aí se torna só uma memória vazia, uma lembrança que se apaga com o tempo.

Estar de frente pras portas do laboratório do Sr. Stark mais uma vez me fazia pensar que tudo tinha voltado a ser como antigamente, quando o Thanos não estava tentando destruir o mundo e eu e o Tony nós viamos quase todo dia pra ficar horas enfurnados naquele lugar e comer fastfood até explodir. Bato na porta gentilmente, esperando uma confirmação pra entrar, escuto a voz tão conhecida por mim perguntar quem é, sorrio nostálgico tentando não chorar.

- Sou eu, Peter. - respondo fraco, torcendo pra não estar na cara o quão abalado eu estou.

"Seja bem vindo, pequeno gênio." - escuto Sexta-feira dizer, vendo a luz vermelha da porta virar verde como uma confirmação pra entrar.

- Obrigado. - respondo gentil, abrindo a porta e a fechando logo em seguida. Procuro a cabeleireira escura com os olhos, vendo uma pequena movimentação atrás de caixas de metal. - Sr. Stark?

- Aqui! - ouso sua voz responder, levantando a mão num pequeno movimento descontraído.

- Pepper mandou eu te chamar pra comer. - explico apreensivo, chegando mais perto. Vejo ele levantar a cabeça lentamente e direcionar o olhar pra mim, numa estranha careta frustrada.

- Já não conversamos sobre chamar sua mãe e eu pelo nome? - pergunta me olhando torto, se levantando e vindo em minha direção. - me fala como foi a aula?

- Foi normal. - sussurro envergonhado, mordendo os lábios nervosamente.

- Então foi chata. - concorda divertido, me segurando pelos ombros e me abraçando apertado. - e a Morg? Tomou conta dela?

- Sim, eu, sim... - tento pensar em algo pra dizer, mas sou impedido de continuar quando sinto o cheiro de óleo de motor e espuma de barbear.

- Virou gago de repente? - debocha ele, tentando se separar do abraço. Seguro em sua blusa como se minha vida dependesse disso, sentindo o cheirinho tão conhecido por mim adentrar minhas narinas como um calmante instantâneo. - o que foi, sentiu saudades?

- Você não faz ideia... - respondo sincero, afundando o nariz em seu peito.

- Tudo bem? - pergunta gentil, estranhando meu comportamento enquanto faz cafuné nos meus cabelos. - você tá mais carente que o normal.

- Tô melhor agora. - digo calmo, abraçando ainda mais sua cintura.

- Desde quando você é tão forte? - pergunta confuso, me olhando surpreso.

- Sei lá, deve ser a puberdade. - falo sem prestar atenção, mais interessado em sentir seu calor corporal.

- Sei... - resmunga desconfiado, me olhando fixamente.

"Sem querer atrapalhar, mas todos estão esperando vocês descerem pra almoçarem." - conta Sexta-feira, com um tom gentil.

- Já estamos indo. - avisa Tony, tentando se separar do abraço, sem sucesso. - tudo bem pirralho, já pode me soltar.

- Só mais um pouco. - peço calmo, ainda grudado em seu peito. - por favor...

- O que deu em você? - pergunta preocupado, me analisando cuidadosamente. - aconteceu alguma coisa?

Sim... Você morreu...

- Não, é só saudades. - olho para seus olhos castanhos, tão vivos e brilhantes. - muito saudade...

- Você só ficou um dia fora. - fala divertido, me abraçando apertado.

- Pra mim pareceu muito mais tempo. - conto sincero, segurando as lágrimas que insistem em querer cair.

- Tudo bem então bebê do papai, - sorri convencido, me puxando pra fora do laboratório. - eu sei que eu sou o melhor pai do mundo, mas agente não quer que a sua mãe saiba que eu sou o preferido.

- Acho que sim. - respondo inserto, esquecendo completamente que alí o Sr. Stark era meu "Pai", e que consequentemente a Pepper era minha "Mãe."

- Ótimo, então vamos descer porque eu tô morrendo de fome. - conta divertido, me levando para o andar de baixo ainda abraçado. - e a sua mãe vai me matar se eu demorar mais um pouquinho.

- Aposto que sim. - concordo sincero, sentindo ele se afastar minimamente e botar o braço por cima do meu ombro.

- Até que enfim! - sou tirado dos meus pensamentos com a voz doce da Sra. Stark preenchendo o ambiente. - achei que não iam vir nunca.

- Finalmente. - concorda Morgan, sentada ao lado de Pepper e Ned. - eu quase morri de fome!

- Não é atoa que é filha de Tony Stark. - se diverte Steve, sentado ao lado de Bucky e Sam.

- O que você quer dizer com isso picolé? - cassou Tony, me puxando pra sentar ao seu lado, entre ele e Harley.

- Eai, decidiu voltar pra casa? - debocha Harley, bagunçando meus cabelos.

- Deixa seu irmão em paz, Harley. - diz Pietro, que estava sentado a sua esquerda.

- Quietinho ligeirinho. - responde o loiro, olhando pro amigo divertido.

- Você e o papai com esses apelidos. - Morgan revira os olhos, sentada ao lado de Pepper.

- Quietinha arco-íris. - implica Tony, virando pra filha.

- Eu tinha sete anos! - argumenta ela, irritada.

- Para de irritar ela Tony. - pede Pepper, sentada ao lado do marido.

- Vai começar... - boceja Rhodey, bebendo seu suco de laranja.

Acho que eu devia ter pensado melhor nesse negócio de ter uma família grande...

Como (não) ser um heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora