03. Reter é perecer.

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Lauren Jauregui's point of view

Aquele buquê puxou minha atenção por todo percurso da floricultura até a casa de Ashley. Eu não menti quando disse que não entendia a paixão das pessoas por flores. Elas são flores. Mas depois da palestra que a moça deu, algo nelas me despertou a curiosidade. Eu não entendia o porquê de as pessoas gostarem de receber flores no aniversário ou outras datas especiais, é algo momentâneo demais. Não é como ganhar uma visita na Universal, por exemplo, isso gera memórias, lembranças, mas uma história para contar na sua vida, mas flores? Flores morrem rápido. Mas, segundo a moça da floricultura, é essa a essência. E elas também são lindas, devo considerar.

Talvez, as pessoas gostam de receber flores das pessoas amadas, pois significa que elas portam belezas iguais.

É, talvez seja algo a se pensar, mas eu não sei porque eu estou pensando nisso.

Me livro dos pensamentos quando bato a campainha. Olho rapidamente para a garrafa na minha mão, um pouco mais vazia do que estava quando saí da floricultura. Eu deveria jogá-la fora? Ela pode entregar o que eu estava fazendo? Ela poderia demonstrar que eu estava muito mais mal do que digo que estou?

Não seja estúpida, Lauren, é óbvio que uma garrafa de tequila não vai te entregar. Bebida é algo presente na sua vida.

Mas, mesmo assim, sinto meu coração se agitar nas minhas costelas e um arrepio percorrer meu corpo quando ouço a porta sendo destrancada. Ashley é esperta demais. Ashley me conhece demais, e só não descobriu o meu real estado emocional porque eu finjo que estou bem, mas também não mostro qual a profundidade do poço em que estou. Era como se eu apaziguasse a situação, e o motivo disso não era orgulho, não era vergonha, era medo de a preocupar comigo. O medo de ela começar a abandonar sua vida para cuidar da minha, porque eu sei que ela faria isso. Sei porque eu faria o mesmo.

Quando a porta enfim se abre, eu já estou a ponto de tremer, mas abro um sorriso enorme pra ela e estendo meus braços, que logo são preenchidos pelo seu corpo.

- Parabéns, vida!

Desejo, a apertando com força contra meu peito. E quando ela me aperta de volta, e seu sinto seu coração bater junto ao meu, sinto vontade de chorar de novo. Seu abraço sempre foi tudo o que eu precisei, dependente da situação, e era tão ruim não poder tê-lo a todo momento sem precisar explicar o porquê. Seu abraço era um conforto pra mim, um escape de tudo.

- Você está dez minutos atrasada - ela avisa, mas sem se soltar de mim, e eu imagino que esteja sorrindo, como sempre.

O sorriso dela também é um conforto pra mim. Ashley tem um sorriso lindo.

Involuntariamente, as palavras "por pouco, eu estaria atrasada para sempre" invadiram minha mente, e eu sinto tanto medo daquele pensamento e daquela infeliz verdade, que tenho que me controlar com todas as forças para não saltar pra trás.

- Você vai ter que me perdoar - digo, ao invés -, mas eu passei muito tempo escolhendo o que poderia te dar, e quando realmente saí à procura, já não tinha mais nada aberto. E meu carro deu um problema, então tive que vir andando.

Com pesar, minto, me separando dela. Ashley estava realmente sorrindo, e isso fazia suas bochechas apertarem os olhos claros dela. O cabelo castanho claro estava livremente solto pelos seus ombros, com aquelas ondinhas perfeitas, e as duas mechas platinadas na parte da frente ficavam em evidência na falta de um penteado. Suas roupas não se passavam de um top branco e um moletom, e seus pés estavam desnudos de qualquer sapato. Parecia que eu não a via a séculos.

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