Lauren Jauregui's point of view.
- O que foi? - Camila pergunta, me despertando, e eu percebo que estava com o cenho franzido.
- Fiquei presa aqui dentro por tanto tempo naqueles meses, com todos os sentimentos ruins possíveis me envolvendo - digo, tentando encarar o quarto com mais atenção. Algo em mim tinha medo de que aquela falta de sentimentos negativos fosse coisa da minha cabeça, e que, de uma hora pra outra, tudo iria cair nos meus ombros. - Pensei que quando voltasse me sentiria da mesma forma.
- Você estava péssima naqueles meses, e esse quarto só te deixava pior ainda - Camila diz, apoiando sua mão no meu ombro. - Agora que passou um tempo fora daqui, e começou a se curar no processo, esse lugar deixa de ser tão aterrorizante assim e passa a ser só mais um quatro. Um quarto cheio de lembranças, mas, ainda assim, só um quatro.
Eu a olho quase que imediatamente. Como era possível ela entender o que nem eu estava conseguindo explicar dentro da minha cabeça?
- Por um acaso você está lendo meus pensamentos? - Pergunto, e ela sorri, negando com a cabeça.
- Não, só acho que comecei a te entender melhor - Camila pisca pra mim, e eu sorrio como uma boba, antes de afastar os pensamentos e focar no que vim fazer ali.
No centro da parede esquerda do quarto, havia uma estante para livros pequena, mas muito mais trabalhada e decorada. Os livros dentro dela eram protegidos por uma portinha de vidro, e, sendo sincera, acho que ali dentro era o único lugar da casa onde não estava coberto de poeira.
Eu indico a estante para Camila, e ela rapidamente se aproxima.- Sei que eles deveriam ficar no escritório, para me inspirar mais, mas eu gostava de ir dormir os vendo - digo, mirando a lombadas dos meus livros.
- Posso abrir? - Ela pergunta, sua mão teimando em ir até a portinha.
- Pode - com a permissão, Camila libera os livros, e corre os dedos por eles antes de escolher um da prateleira, e o tirar do lugar. Faço o mesmo com um em específico, e sorrio comigo mesma ao ver a arte da capa, o título, e o meu nome calígrafado em dourado ali. - Esse foi o primeiro.
Lauren Jauregui.
Percorro o formato das letras com o dedo, sentindo um misto de sentimentos que não conseguiria explicar mesmo se eu quisesse. Eu ainda era aquela Lauren Jauregui, a que escreveu todos esses livros. Mas era a qual foi obrigada a abandonar o sonho.
Os vendo. Os tocando outra vez, eu sinto vontade de sentar na frente do notebook e escrever por horas, como nos velhos tempos. Escrever com uma xícara de café do lado para me manter acordada durante a madrugada, falando comigo mesma como se estivesse discutindo uma pauta importante em uma reunião. Aquela sensação era a que eu tinha quando encostava nos meus livros antes de tudo acontecer. A mesma sensação gostosa.
Mas eu seria capaz de escrever alguma coisa hoje em dia?
- Como foi escrever o primeiro livro? - Camila pergunta, e percebo que ela já está vasculhando o terceiro livro.
- Foi muito louco, e muito bom, pra resumir - solto uma risada nostálgica, acariciando a capa. - Eu virava madrugadas escrevendo. Madrugadas revisando. Madrugadas editando. Parecia que eu estava vivendo a vida de cada personagem que eu escrevia, sentindo o que eles sentiam. E quando tive coragem para mandar para uma editora, nossa! Não dormi direito enquanto não recebia uma resposta. Ficava com medo do que as pessoas iriam achar, se gostariam da minha escrita, dos meus personagens, do meu universo, mas, ao mesmo tempo, me lembrava o quão incrível seria quando alguém lesse algo que saiu unicamente da minha cabeça e gostasse, elogiasse. Na época foi agonizante, mas eu faria de tudo pra sentir aquilo de novo, porque, no fundo, foi muito bom.
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FanficLidar com os livros fracassando nas vendas após uma polêmica, o saldo da conta bancária caindo cada vez mais, o dono do prédio batendo no seu apartamento com a ordem de despejo em mãos e a vida amorosa indo pior que a saúde mental e física não é fác...