Reasons

27. Cara-a-cara com o passado.

Lauren Jauregui's point of view.

Meu coração está batendo forte, mas eu tento ignorar isso enquanto leio a matéria de Ashley que foi publicada, a qual a ajudei. Estava realmente bom -excelente, eu poderia dizer-, e isso me fazia pensar no que Camila disse pra mim. Uma biografia não é tão diferente de um livro, são palavras, de qualquer maneira. Só tem apenas uma diferença, a qual é a mais persistente: com os livros, você inventa os personagens, pode fazê-los com todos os defeitos e acertos do mundo. Pode até mesmo colocar os seus defeitos neles, afinal, é um nome diferente do seu ali. Mas em uma biografia não. Na biografia, você é a personagem principal. Qualquer traço de personalidade é seu. Qualquer erro é seu. Não tem como se esconder em uma biografia.

Quero dizer, esse é o ponto, não é?

Deixo a matéria de lado novamente para olhar as horas outra vez. Eram 5:15PM, Keana já deveria estar aqui. E dando uma olhada no verde ao meu redor, eu seguro a vontade de ir até o bar que sei que tem na esquina e comprar alguma coisa. Quero estar sóbria para essa conversa, mas isso também me assusta.
Eu conversei com Ashley sobre esse encontro após minha ida a terapeuta, e depois de uma longa discussão -saudável, digo-, ela deixou que eu pegasse seu telefone para mandar mensagem para Keana pelo Instragram. Ela estava bloqueada, assim como no meu, mas eu não queria reativar meu perfil só para poder mandar uma mensagem pra ela. Eu estava bem sem essas redes sociais. No fim, marquei em uma praça mais afastada que tinha na cidade. Não passava muita gente, o que nos dá a liberdade para extravasar, caso fosse necessário. E por mais que Ashley tinha dado a ideia de nos encontrarmos em algum restaurante ou em qualquer outro lugar que tenha pessoas, eu não quero que isso pareça com um encontro de nenhuma forma.

- Seu cabelo cresceu.

A voz surge atrás de mim, e quando a reconheço como a de Keana, os pelos do meu braço se arrepiam. Um arrepio ruim.
Não preciso olhar para trás, porque ela já está dando a volta no banco onde estou sentada, com aquele sorriso meio-sem-graça e meio-inocente que ela sempre tinha. Enquanto estávamos juntas, Keana nunca teve coragem de matar uma mosca sequer, e agora, olhando pra ela, eu me pergunto como ela teve coragem de fazer o que fez.

Pensar nisso me faz querer vomitar.

Eu, caso estivesse no lugar dela, nunca aceitaria me encontrar com a pessoa na qual eu fodi a vida. Nunca conseguiria olhar para a cara dela sabendo que inventei uma das maiores mentiras que alguém poderia inventar.

- E você continua se atrasando - minha voz não saí ríspida, ou rude, e o motivo é bem claro na minha cabeça.

- Eu cheguei faz uns dez minutos, mas fiquei parada ali atrás, pensando se teria coragem de vir - ela assume, com os ombros encolhidos. Seu rosto tinha dois ou três cortes, provavelmente da briga com Ashley.

- Você parecia bem corajosa quando veio até mim na segunda - digo, e Keana da de ombros.

- Foi um impulso. Eu te vi no início do evento, fiquei tomando coragem durante aquele tempo todo, e quando te vi indo embora, imaginei que ia perder, talvez, minha única chance de te dar "oi" de novo - ela ainda está em pé, os raios alaranjados do pôr-do-sol atingindo seu rosto. - Mas bem... não acabou como eu esperava.

Eu levanto as sobrancelhas, e abaixo o olhar, passando a língua pelos meus dentes para que não comece mordiscar o lábio de nervoso.

- O que esperava? - A olho outra vez. - Que eu ficasse feliz em te ver de novo?

- Não, eu só... - agora, ela abaixa a cabeça, colocando as mãos para trás. - Aquela com vocês era sua namorada?

- Sim, ela é.