07. Cicatrizes.

3.4K 323 192
                                    

Lauren Jauregui's point of view.

Moça da floricultura: você pediu para mandar mensagem, e aqui estou eu. Conseguiu chegar em casa bem?

Leio a mensagem de Camila pela décima vez, e percebo estou a um passo de surtar.

"Cada pessoa é uma pessoa"... essa frase fazia tanto sentido pra mim. Até agora.

Desde quando saí da casa de Camila, meu peito não parava de se contrair. Ela era tão legal, me fazia rir e tinha um bom papo, e eu queria, eu realmente queria prosseguir com essa boa relação que criamos no Hunter's, mas havia um tipo de barreira em mim. Uma barreira que eu nem sabia que existia. Ok, eu não era ignorante a esse sentimento, afinal, eu não transava com nenhuma mulher desde meu antigo, e não achava que isso era acaso do destino. Eu não fazia porque tinha medo de aquilo voltasse a acontecer, e que a culpa caísse nos meus ombros outra vez, mesmo que quisesse fazer.

Hoje eu descobri que é assim com qualquer tipo de relação. Eu quero continuar me aproximando, mas eu consigo?

A tarde inteira foi incrível, mas bastou eu virar a esquina que a sensação de que eu estava confiando para depois alguém vir e puxar meu tapete surgiu.

— Então, acho que usar esse texto aqui como um ênfase a mais do que o está acontecendo é sim preocupante vai ser bom – A voz de Ashley me puxa um pouco do devaneio. Ela está empurrando uma página de jornal pra mim.

A mesa estava coberta de papeis, fotografias, revistas, jornais, tesouras e canetas, ambas espalhadas desorganizadamente. Eu estava a ajudando a montar uma matéria para o editorial novo da empresa em que ela trabalhava desde que cheguei. O tema era Gravidez na Adolescência, e por mais que eu nunca tenha convivido com alguém que ficou grávida da adolescência, era fácil dominar o tema. A milhares de depoimentos, notícias, discriminações e dicas para e sobre isso em tantas plataformas.

Bloqueio a tela e deixo a mensagem sem resposta outra vez, para focar no papel.

— Argumentos ou depoimentos verídicos são sempre bem-vindos – digo, correndo o olhar pelas linhas do texto destacado por caneta vermelha. – Nossa, essa menina tinha quatorze anos quando engravidou?

Ashley se apoia na parede, cruzando os braços para assentir, e eu sinto um aperto ruim no coração.

— E os pais ainda a colocaram pra fora de casa.

— Meu Deus... – preciso dar um gole no café que fiz a alguns minutos para tentar engolir essa dó que estava sentindo da menina, mesmo que na notícia dizia que o caso aconteceu em 2015. – Imagina só ter quatorze anos, um filho crescendo dentro de você e sem casa para morar?

— Deve ser horrível... – Ashley parece pensativa, com a linha de tristeza nos lábios. – Com quatorze anos a gente era tão estúpida, imagina ser jogada na rua assim? Acho que, no meu caso, eu ficaria tão transtornada que faria uma besteira.

— Uma besteira com você ou com o bebê? – Pergunto, destacando algumas partes do texto que achei interessante de serem abordadas.

— Com os dois, talvez – Ash da de ombros. – Mas com certeza com o bebê.

— Eu também, provavelmente – conserto meus óculos de leitura, e suspiro fundo. – Acho que eu ia sentir que não ia ser o mesmo que brincar de boneca. Não sei... isso é tão real mas também tão surreal que eu nem sei o que pensar.

ReasonsOnde histórias criam vida. Descubra agora