23

286 42 10
                                    

Cassian.

Não consegui nem ter vergonha, eu só a queria ali comigo. Não sei nem o porquê, mas eu sentia um pequeno alívio quando ela falava e quando me tocava ou dizia algo pra me fazer sentir melhor. Mesmo eu não achando o corpo dela bonito, eu acho, que se ela tem razão sobre a casca, sobre o que ela é não é o que eu vejo, Lilith deve ser muito linda. Descemos juntos e eu teria que viajar o tempo todo com meu pai falando sobre minha mãe e eu não queria aquilo. E de um jeito muito estranho eu precisava da Lilith. A olhei e de alguma forma ela me entendeu como se soubesse ler mentes.

—Mãe por que você não vai com o Ronny e Cassian vai conosco, Ângelo dirige melhor do que você com as estradas nessas condições.

Nossa eu poderia abraçá-la de tanto alívio. Meu pai me olhou e eu assenti.

—Tudo bem então! —Disse ele me dando um beijo na cabeça e eu segui Lilith até o carro. Eu precisava tocá-la e eu não pensei direito quando peguei o dedo dela, na hora ela ficou tensa e então me sorriu, não consegui retribuir, mas foi reconfortante. Entrei no carro na parte de trás junto dela.

—Obrigado! —Me obriguei a dizer.

—Não fizemos nada! —Comentou Ângelo enquanto seguia o carro do meu pai.

—Eu não ia aguentar ir no carro com meu pai. —Confessei.

—Sempre que precisar de nós pode contar! —Disse Mor e então olhei pra Lili de soslaio e ela pegou minha mão entrelaçando nossos dedos. fiquei olhando nossas mãos por um momento.

—Quer que ligue o som Cass? —Perguntou Mor.

—Pode ser! —Eu não iria ouvir mesmo. Joguei minha cabeça pra trás esperando algum sono me agraciar, mas nada veio apenas imagens da minha mãe. —Será que ela sentiu dor?

—Não! —Disse Lili e me dei conta que tinha pensado em voz alta. Mor baixou o volume da rádio. —A maioria nesse tipo de passagem só se dá conta que morreu quando abre os olhos do outro lado e se vê, não sente e nem lembra de dor.

—Você fala como se soubesse de verdade. —Comentei.

—Estudo. . . posso ser wiccana, mas estudo o espiritismo também, deveria ler mais.

Ela pareceu sincera. E falou de um jeito meigo. Quero acreditar nela. Começou a chover durante o caminho e eu precisava ouvir a voz delas, minha mente vazia estava muito perigosa.

—Como é ter duas mães? —Perguntei.

—Humm. . . acho que normal! —Disse Mor.

—Pra mim é como viver em um mundo feito por deusas. —Disse Lili olhando pra Mor. —Quando você me desestabilizou a primeira vez, que aliás foi o primeiro e último a fazer isso. Cheguei em casa chorando e uma das minhas Deusas me puxou. Me impediu que eu caísse.

Meus olhos arderam lembrando de como a minha mãe me consolou aquele dia.

—Aquele dia corri pra casa. —Virei o rosto olhando a chuva escorrer no vidro como se eu pode-se ver a cena. —Minha mãe . . . ela estava lá. —Respirei fundo. —Me abraçou e perguntou quem tinha batido em mim. —Sorri um pouco. —Aí. . . eu disse que ninguém tinha me batido.

—Por que chorou? O que eu te fiz?

—Você simplesmente acabou com tudo o que eu tinha planejado pra minha vida. —A olhei e ela parecia não ter entendido. —Agora mais nada importa mesmo. . . não ia importar também porque meus pais iriam se separar e se não fosse você seria eles a soprar meu castelo de cartas.

—Não compreendo por que acha que eu fiz isso?

—Eu planejava meu primeiro beijo com a Tiffany e ela nos viu. . .

—Como pode ter raiva de mim se foi você quem me beijou?

Olhei nossos dedos entrelaçados.

—Fiquei com raiva de você. . . —Olhei em seus olhos. —Porque você me fez eu te querer, fez eu ter vontade de te beijar e eu . . . eu gostei e quando percebi ela estava nos olhando e fugiu, não tive outra reação eu queria que você me odiasse pra eu não te querer mais, mas parece que tudo conspira contra mim.

—Que planos podia ter com 9 anos? —Perguntou Mor.

—Inúmeros . . . —Sorri ironicamente com o que eu queria. —Namoraria a garota que dei o primeiro beijo, entraria pro time de basquete e seria o Capitão do time, iria pra faculdade e levaria ela pra conhecer meus pais, a pediria em casamento no dia de minha formatura, abriria minha própria empresa e por aí vai. . . —Voltei a olhar em seus olhos. —Minha vida era como uma torre de cartas, cada uma era um plano perfeitamente planejado e você Lilith puxou a carta base, a carta que segurava tudo no lugar e meu castelo ruiu.

Falando em voz alta àquilo soava tão, tão idiota. Como eu pude achar que a vida era perfeita, como eu pude me iludir e magoar a garota que fui eu quem a beijou e agora me sinto. . .

—Eu sei. . . sou um idiota!

—O que a sua mãe disse quando contou? —A voz dela saiu rouca.

—Que eu me acalma-se e que talvez você fosse a garota certa e não a que planejei e que eu poderia retomar meus planos todos com você.

Ela soltou minha mão e me senti vazio. Fiquei olhando minha mão vazia. Sem calor, sem toque, sem sentimento. Fiz tudo errado, com Lilith, com minha mãe. Comigo!

—Eu. . . sinto muito por ter puxado sua carta. . . não sabia. . .

—Não, não foi sua culpa, eu a culpei, mas não é. . . fui eu mesmo, eu magoei você, magoei minha mãe por não ter ficado do lado dela . . . Deus. . . eu sou tão escroto que nem consegui desejar a felicidade a ela. —Lá estava aquela dor aguda no peito. Olhei o teto tentando não chorar e respirar fundo, mas eu precisava por pra fora. —A odiei por ela ter separado do meu pai e ter se assumido . . . lésbica, ela queria ser feliz e eu . . . eu odiei por ela levar outra mulher em casa, odiei por ela não ter tentado salvar o casamento dela e pra quê? Onde ela está agora? Talvez se eu tivesse aceitado, se pelo menos eu tivesse fingido estar feliz ela também estaria feliz e não iria viajar e ela estaria em casa com a G. Me esperando. . .

—G? —Saltou Mor e Lili juntas.

—A namorada da mamãe não gostava que a chamassem pelo nome. . . —As olhei e ambas pegaram o telefone.

—Liga pra mãe Mor!

—O que acha que to fazendo! —Saltou ela.

Lili ligava pra alguém também.

—Alô. . . Mari. . .

—Mãe?!

Disseram ambas juntas, segurando o peito.

Deixe eu ser seu último Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora