Acordei***

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A porta se entreabriu lentamente revelando uma sombra, a voz da cama me chamou a atenção.

"Mãe..." – fiquei ali parado e ela parecia olhar dentro do meu olhos, quando na verdade olhava através de mim, em direção a porta, me virei para olhar também, fomos novamente sugados para o bar...

"Não espere, temos que voltar lá!"

"Não fui eu quem escolheu sair, foi você... parece não querer lidar com a realidade."

"Que realidade? Do que está falando seu, seu bêbado?"

"Há... agora parece estar se reconhecendo!"

"O quê? Que loucura é essa? Do que você está falando, você não diz nada com nada."

"Mas é você quem diz que só os iguais podem se julgar..."

"Ai minha nossa, está cada vez melhor..."

"Você é quem diz que não basta fazer a pergunta, que é necessário ir além, tem que pensar na resposta cujo a pergunta ainda não se sabe."

"Mas, como? Como é possível? Como sabe tanto sobre mim?"

"É porque você é um tipo comum, simplório, sem graça, que acha demais, quando na verdade só é preciso olhar no espelho."

"Quem é você, de onde nos conhecemos?" – ele deu mais um trago no uisque, fomos sugados novamente pelo buraco negro do tempo.

Agora estávamos em um pequeno cômodo, mal arejado, cheirava a cigarro e coma alcoólico, fedia a hospital.

Uma cama, uma mesa, papéis e canetas, cigarros, cinzeiro e um litro de qualquer bebida vazia compunha o cenário. De uma porta sanfonada vinha o som alto de jato de urina. Fui até lá para conferir, era meu acompanhante atemporal.

"Hei, que falta de educação, nem morando sozinho se pode ter privacidade." – o banheiro dois por um e meio, chuveiro, latrina e pia, era tudo além do espelho em pedaços espalhado pelo chão.

"Desculpe, você mora aqui?" – Perguntei ao homem que insistia em não me dizer quem era.

"Não."

"Então, quem...?"

"Hora, hora, me admira esta pergunta vinda de você, afinal este lugar para você é um palácio ou com você prefere, 'o seu reino, o reinado de um súdito só'."

"Eu moro aqui!? Mas como isso é possível? Este lugar parece a jaula de um bicho."

"Jaula esta que você chama de lar doce lar..."

"Como é possível, tudo isso? Como posso não me lembrar de nada? O que ouve comigo? Bati a cabeça? Sofri um acidente?"

"Talvez queira olhar a sua carteira..."

"Mas eu não..." – conforme ia tentando terminar a frase bati a mão em meu bolso novamente e lá estava – "mas eu nunca usei carteira!"

"Então talvez não seja sua, veja se encontra algum documento ou uma pista de quem seja o verdadeiro dono."

Abri a carteira, dentro havia uma boa quantia em dinheiro, três fotos 3x4, e um cartão onde se lia "deseja uma morte rápida, sofrida ou incerta? " e um número...

Me sentei em minha cama, o volume do celular me incomodou no bolso, o tirei e deixei de lado por um instante.

O homem que até ali esteve junto comigo e que parecia me conhecer melhor que eu mesmo agora entornava um longo trago de álcool direto do gargalo.

"Eu quero respostas..." – murmurei para ele que ainda entornava sem pressa.

Palavras Para Distrair a InsôniaOnde histórias criam vida. Descubra agora