Acordei. Talvez com o tic-tac de um cão ou relógio. Apenas "tic-trac" e cessou.
Os olhos ainda estavam turvos, sinto a presença de alguém...
Não sabia dizer que dia era, que mês ou ano estava, uma ressaca brutal. Este "alguém" de alguma forma era familiar, seguia me observando silencioso.
Passamos de um plano a outro, de um limbo para um bar. Um ambiente impregnado de vozes, fumaça de cigarros, barulhos de copos, sinuca, uma ou outra voz feminina que ninguém além do barman dava a devida atenção.
"Uísque cowboy" – pediu para o cara que estava para dentro do balcão o meu observador.
"Quem é você?" – Fomos sugados para o momento anterior novamente.
O que é isso? Onde estamos? Quem é você? – Interpelei, sem pausa, atropelando o fôlego, tentando assimilar o que estava acontecendo comigo.
Ele riu, dizendo com toda a paz do mundo.
"A morte, talvez!"
"Estou morto?"
"Talvez... se sente morto?"
"Não me sinto morto!" – Completei sem dar sentido – "E além disso amo estar vivo!"
"Não mais que a mim..."
Uma vez mais fomos sugados do limbo para o bar.
"Beba algo..."
"Não bebo. Bebo!?"
"Até onde sei, gosta tanto quanto eu de uísque cowboy."
Pedi um para o cara atrás do balcão, que também era extremamente familiar, apesar de não lembrar o seu nome...
"Vai pagar agora?" – fui questionado, como a pôr dúvida com relação a minha índole como cliente. O olhei por um instante, e comecei a bater nos bolsos procurando a carteira, mesmo ciente de que não costumo usar, enquanto o barman secava insistentemente o copo, ganhando e me dando tempo para sacar o dinheiro.
"Eu pago..." – sussurrou o meu observador, apontando com o indicador para o balcão, com sua usual calma.
Observei ao redor o ambiente, enquanto era servido o uísque, tudo me era familiar também, parecia que era quase uma extensão se não da minha rotina, da minha casa, minha vida.
"Então!" – sorvir um trago me dirigindo ao meu observador – "acho que começamos errado, deixe-me começar novamente; quem é você?"
"Você deveria saber, afinal foi você quem me chamou aqui..."
"Mas, como? Quando? Que conversa é essa? Porque? Para quê?"
"Isto só você pode me dizer. Tudo o que sei é que você me chamou, e aqui estou."
"Isso é.... isso é besteira, meu caro!"
No momento em que terminei de dizer vibrou no meu bolso o aparelho. Tirei do bolso, uma mensagem acabara de chegar, junto a mensagem também era avisado de um compromisso pelo despertador, que trazia a seguinte mensagem: "Hora de brincar". Ignorei, passando para a segunda mensagem, que eu havia enviado, nela dizia: "preciso te ver". Que foi respondida de forma monossilábica, "quando, onde?" – respondi de forma igual: "agora".
Ouvi uma voz feminina, infantil, era doce e alegre, vívida e sem medo.
"Vem logo, você prometeu..."
Mas uma vez fui tragado, sofrendo um efeito sorvedouro, levado de um lugar a outro; em um momento estava em minha mesa de trabalho e em outro, meus pés farfalhavam um grande gramado verde, o dia era agradável, um sol acolhedor, muitas outras vozes ao redor, aquelas "lembranças" e apesar do lugar me ser ligeiramente familiar, não pareciam ser minhas.
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Palavras Para Distrair a Insônia
Non-FictionEste pequeno cacifo, agora aberto e ofertado a vocês caros leitores, que peço, fiquem a vontade para tomá-lo como desejar. Conta com uma série de composições, "estórias", rabiscadas em guardanapos, no velho pardo papel de pão, algumas vezes em meu e...