"Há... então faça as perguntas certas." – ao dizer isto o telefone apitou. O ícone vermelho de msn estava sobre o envelopinho, oitenta mensagens não lidas. Não dei a devida atenção, normalmente são de propagandas e promoções de operadoras que nunca vejo. Mas por pura falta do que pensar, abri uma entre tantas, que dizia.
"Gostou do presente pai?" – certo de que não havia respondido já que acabara de ler, marcava a data e hora de envio, 12/03/ 13:30.
"Presente?" – Pensava comigo – que presente? Atentei finalmente para a data de envio, era meu aniversário.
Certamente eu havia passado parte do dia com ela, mas, o que houve? Como foi e como terminou o nosso encontro? Vasculhei mais uma vez a carteira, em busca de mais alguma pista até que vi bordado do lado externo do couro: "Para meu papai, T".
Ela... eles, nunca me trataram por papai, apenas falta de hábito, costume. Sempre achei que fosse uma bobagem...
Me lembrei a primeira e única vez que dei ao meu pai um presente de aniversário... foi exatamente uma carteira, ele a pegou colocou o dinheiro dentro e pôs no bolso, sem dizer nada, estávamos indo assistir a um jogo, como fazíamos todos os fins de semana, na metade do caminho, ele a tirou do bolso sacou o dinheiro e me devolveu a carteira, eu o havia compreendido perfeitamente, a sua atitude não diminuiu minha alegria e satisfação em eu ter-lhe dado e quase que de imediato ele ter devolvido o presente, amassou o dinheiro e socou no bolso. Fomos ao jogo.
Fiquei pensando se tudo não havia se repetido com ela, se, se eu havia feito algo para que ela se decepcionasse.
Certamente devo ter outras lembranças dele, mas não sei onde elas estão. A nossa última conversa se bem me lembro foi amigável, mas não lembro bem sobre o que falamos, apenas conversamos e o sentimento que ficou é bom, mesmo tendo ciência que ficou algo por dizer... talvez dizer que o amava.
Fomos sugados mais uma vez, agora jogados em um cemitério. Por todo lado havia covas abertas, em cada cova dois homens eretos seguravam suas ferramentas de trabalho, pá e enxada. O meu algoz, guia-perseguidor, não sei bem como chamá-lo já que teima em não dizer seu nome, acenava-me chamando para ir até ele numa distância razoável.
As coisas aconteciam na força do pensamento, não havia esforço físico para me locomover, mas mentalmente era extremamente exaustivo. Ao me aproximar dele ele sumia e reaparecia novamente a certa distância, me chamando como antes. Isto aconteceu algumas vezes, era estranho, eu não o questionava ou me irava, apenas o seguia tentando entender o que ele queria me dizer ou mostrar.
"Não vai olha?"
"O que? Para onde? O que quer que eu veja?" – ele me respondeu olhando para o buraco aos nossos pés. Agora eu via um caixão, lacrado, a pequena janelinha para ver o rosto do morto estava embaçada e não me deixava ver quem era. Haviam muitas pessoas ao redor, choro e até alguns ataques de histerismo, certamente pela perda do ente.
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Palavras Para Distrair a Insônia
Kurgu OlmayanEste pequeno cacifo, agora aberto e ofertado a vocês caros leitores, que peço, fiquem a vontade para tomá-lo como desejar. Conta com uma série de composições, "estórias", rabiscadas em guardanapos, no velho pardo papel de pão, algumas vezes em meu e...