Por que estamos todos tão seguros de que somos capazes de enganar o outro e saímos ilesos.
Eu, eu sou capaz de sentir do sexo – e quando digo sexo não é o oposto, mas as partes – sou capaz de sentir o cheiro do desejo, o odor impar do tesão emanado do corpo humano.
Já, da presença inesperada e até invisível, somos quase sensitivos, sou capaz de me arrepiar, sentir calafrios, até mesmo o susto involuntário.
Do cigarro, cuidadosamente jogado na privada, junto de segundos intermináveis de bom ar floral, que em nada adianta, não faz qualquer diferença, já que sou capaz de sentir o cheiro, o odor que a muito inalo e exalo; sou até capaz de dizer a cor do filtro, a marca, o preço, onde foi comprado, e de quebra, a marca do perfume usado na tentativa de disfarçar o "incriminado" cheiro impregnado nas mãos pela fumaça visível. Um desperdício.
O ser tem uma necessidade pueril de enganar, mesmo que o mal seja somente a ele feito.
Nos faz sentir superiores, donos de algo, que amanhã, terá sido uma tolice. Afinal pretender ser superior a verdade, a realidade, que nos rodeia, não é outra coisa senão, infantilidade. Sim tudo é passível de engano, de se pôr dúvida, discutível, menos quando nós nos subjetivamos.
Poderia dizer mil razões para se agir assim, mas não, vou deixar a cada um, que encontre, descubra a sua nobreza.
Posso dizer da minha, isso sim.
Minha estúpida mania de "verdades", de não mentir, de não enganar, nem mesmo omitir, não raro, me faz constantemente parecer um tolo. Será que as pessoas têm medo da verdade, de se expor?
Será que não existe espaço para a verdade, desinteressada do ganho? Do lucro pessoal certo?
Ou mentir, como alguns querem crer, faz parte. Dizem que mentir é parte do ser, que ele não sobreviveria no meio social se acaso apenas entregasse "verdades". E nem vou dizer absolutas, já que "verdades", no plural, por si só, me parece ridículo. Mesmo que seja discutível, mas não é este o caso.
Agora mesmo, estou em uma padaria qualquer no meu bairro... o qual estou a vésperas de deixar. Então para mim tem sabor e cheiro de despedida.
E para que você se situe, e afins de antropologia cultural, no último fim de semana estive do outro lado da cidade, para ajustar os detalhes da mudança.
Como de costume, vício ou hábito, foi comprar cigarros e tomar um café e fazer o reconhecimento territorial, a padaria mais próxima, por motivo de feriado, estava fechada, então fui mais à frente, noutra padaria, mesmo sendo menor e simples, era mais aconchegante, a meu gosto; o proprietário, creio, e a atendente, foram educados e cordiais, na medida em que se espera ou deva ser.
Reparei que o quilograma do pãozinho francês estava duas vezes mais barato que no bairro onde moro atualmente, fato que me agradou. Duas ou mais verdades, de coisas que contribuem e tornam mais agradável a ideia de ter que se mudar, afinal depois de uma década, criam-se algumas familiaridades, bobas eu sei.
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Palavras Para Distrair a Insônia
Non-FictionEste pequeno cacifo, agora aberto e ofertado a vocês caros leitores, que peço, fiquem a vontade para tomá-lo como desejar. Conta com uma série de composições, "estórias", rabiscadas em guardanapos, no velho pardo papel de pão, algumas vezes em meu e...