Tudo mudou...

Capitulo 6

Podia ser orgulho, mas não gostava que as pessoas tivessem conhecimento do quanto me afetavam. Preferia sofrer sozinha. Sair do restaurante rapidamente com as palavras dela ecoando em minha mente e peguei o primeiro ônibus que passou, não olhei a placa e me sentei na janela. "nunca foi amada" "o que você sabe de amor?" ficava repetindo e repetindo. Realmente o que eu sabia? Quem era eu para dar conselhos? Ela me chamou de egoísta, mas será que saber a diferença do certo e errado, acreditar e defender isso me torna egoísta? Eu sempre respeitei a opinião dos outros mesmo sendo divergente, mas algumas realmente não dava para respeitar. Era como apoiar uma pessoa que planeja atirar em outra. Se você soubesse com antecedência que alguém cometeria um crime você não tentaria persuadi-lo? Saltei em um ponto qualquer e atravessei desembestada para uma praça em frente, caminhei até um banco de frente para o mar e lá fiquei só observando a movimentação a distância. Não via nada, na verdade, estava mais focada na minha própria vida. Eu conheci as meninas todas ao mesmo tempo e conversávamos muito sobre o que cada uma achava certo e importante na vida. Esse tema em questão sempre houve consenso entre nós e a atitude da Dani me faz questionar o que foi dito por todas em anos de amizade. Será que algo só valia se não fosse em sua pele? O certo não era o mesmo com você e com o outro? Isso me cansava, se uma pessoa não podia honrar o que dizia como eu poderia acreditar nela? Confiança era algo tão importante pra mim. Ouvi uma musica no fundo dos meus pensamentos conturbados e me dei conta de que vinha do meu celular. Respirei fundo algumas vezes e sorri para o nada para destravar a minha voz e atendi.

-luize? — Diego perguntou como se quisesse ter certeza.

-Oi, pode falar. — disse com a voz rouca.

-Estou na casa da minha mãe, mas estou indo pra casa e pensei de sairmos. Você está em casa? — Diego perguntou do outro lado.

-Não. — respondi secando uma lagrima. 

-Você está bem? —indagou preocupado.

-Estou. — sussurrei.

-Você esta chorando? — não consegui responder. —Onde você está?

-Eu estou bem Diego. — afirmei um pouco mais alto.

-Luize, por favor, onde você está? — eu podia ouvir a respiração dele. Olhei em volta e estremeci. Não sabia a onde estava. Era uma praça cheia de banços de madeira, arbustos enormes e pássaros voando com um portão em volta e o mar logo a frente. Eu tinha me sentado de frente para o mar e de costas para a praça. Levantei e olhei para trás.

-Eu não sei onde estou. — respondi confusa e o ouvir soltar um palavrão.

-Como não sabe? Pergunte a alguém. — continuou falando e eu comecei a andar. Senti um alivio ao ver uma igreja ao longe.

-Nossa senhora da Luz... - falei em voz alta.

-Seja mais especifica Luize. — perguntou impaciente.

-Eu não sei é uma praça grande que dá pra vê a igreja ao longe. — tentei explicar.

-Sei a onde é... Estou indo ai. 

-Não precisa eu... - tentei falar, mas ele desligou. Não estava com vontade de vê-lo, queria ficar sozinha. Voltei para o meu banco e continuei contemplando o oceano e a fusão perfeita que ele fazia com o céu. Muitas pessoas acreditam que o mar tem o poder de lavar o que é ruim. Se isso fosse verdade eu seria uma das pessoas mais limpas do mundo. O sol estava começando a se pôr e eu estava com frio, mas permaneci ali sentindo-me triste e frustrada. Tinha consciência do quanto era diferente das outras, mas sempre acreditei que elas não se importavam. Até isso agora já não tinha certeza. Toda vez que uma delas precisavam de ajuda eram a mim que todas procuravam, eu nunca procurei nenhuma, não porque não sentia nada ou não confiava nelas, mas porque não conseguia, não queria que me vissem em momentos de fraqueza. Não sei quanto tempo passei ali, mas o lugar estava deserto no final de tarde. Estava me decidindo se iria ou não para casa quando Diego apareceu na minha frente de repente, eu levantei a vista e ele prendeu meu olhar enquanto se agachava e pegava minha mão.