especial do Diego

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Dizem que chega um momento da nossa vida que não temos controle de nada e tudo acontece em cascatas para te glorificar ou destruir. Isso está acontecendo comigo, só não consegui identificar se é para o bem ou para o mal. Subo as escadas da minha antiga casa com um casaco de capuz para proteger minha identidade e vou para o quarto. Já faz umas semanas que faço isso, desde que ela saiu do hospital. Vou para o quarto e fico num canto onde sei que não posso ser visto, mas tenho uma visão perfeita da varanda dela. E logo ela aparece, coloca os óculos que eu dei e caminha para a sacada. Está visivelmente triste e isso me mata. A vejo procurar algo com os olhos como se sentisse a minha presença e me encolho mais. Ela desiste e volta para dentro e para minha surpresa começa a retirar a roupa. Imediatamente eu volto no tempo para meses atrás e a mesma sensação de encantamento toma conta de mim. Ela veste um baby doll vermelho e se deita, mas continua focada para a minha casa como se soubesse ou sentisse que estou aqui. Desde que ela voltou eu tenho a observado de longe e com a ajuda do pai dela que abriu a porta de sua casa pude tocá-la, velar seu sono. Quando fui procurar meu pai sabia que não seria fácil, mas nada havia me preparado para aquela proposta ridícula.

-Eu faço a operação da garota. – disse me surpreendendo.

-Pai... Pai, muito obrigado. – agradeci emocionado tentando conter a vontade de chorar.

-Faço a operação dela desde que você me garanta que não a verá nunca mais. – acrescentou me deixando mudo.

-Como? – questionei num sussurro.

-Você ouviu filho... Eu faço a operação da menina, mas em troca quero que assuma a direção do hospital, sob minha vigilância é claro e corte relações com essa moça, definitivamente. Arranje alguém com mais nível, afinal você é um Alencar e precisa honrar seu sobrenome. Aceito que namore aquela amiga da sua irmã que sei que esteve em sua cama em varias ocasiões... Debora, não é esse o nome dela? – perguntou andando de um lado para o outro enquanto falava. Eu continuei parado olhando para o homem que deveria ser meu pai, mas que nunca demonstrou amor por mim além de um grande interesse em me dominar.

-Eu a amo pai. – apelei rouco.

-Homens como nós não podemos nos prender a esses sentimentos pequenos meu filho.

-Você não pode está falando serio. – falei enjoado e me dirigi à porta. –Eu não devia ter vindo até aqui.

-Se você sair eu não vou aceitar que volte depois. Pense na menina em coma. É justo que perca a vida porque você é egoísta demais para deixa-la? – apontou me fazendo parar. Precisava pensar na Luize. Eu a amava e teria que fazer o que tivesse ao meu alcance para que ficasse bem e isso estava ao meu alcance, apesar de me destruir por dentro ela estaria a salvo. Olhei novamente aquele homem que eu desprezava e respirei fundo.

-Eu aceito. – afirmei e vi o primeiro sorriso dele desde que cheguei. –Mas a Luize terá o melhor atendimento que o Alencar já ofereceu. Desde a transferência até sua recuperação eu quero tudo o que ela merece.

-Se eu for dá tudo o que ela merece ela não ficaria em nenhuma ala do meu hospital...

-Pai. – murmurei ameaçador e ele ergueu as mãos.

-Mas eu aceito assim mesmo. Veja o que não faço por você. – ironizou. –Quando sair por aquela porta Diego Mascarenha Alencar, você será um dos maiores herdeiros desse país e espero que se comporte como tal. Não quero que a veja nunca mais. Assumirá um lugar na diretoria do hospital e trabalhará no Alencar sob minha vigilância e definitivamente dará um fim naquele consultório oftalmológico, que é a minha vergonha. E quero que volte pra casa. – listou vitorioso.

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